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Samanta Luchini    |   15/05/2019   |   Desenvolvimento Humano   |  

Proteja-se da Procrastinação

À primeira vista, a procrastinação parece ser vantajosa, pois ela evita que você esteja diante de tarefas chatas, longas, difíceis ou desagradáveis. Mas, logo em seguida ela mostra sua verdadeira face e essa falsa sensação de alívio pode se transformar em ansiedade, arrependimento e incapacidade.

Você já de estar cansado de ouvir o famigerado lema motivacional que diz “não deixe para amanhã aquilo que você fazer hoje.” Eu nem saberia dizer quantas vezes já ouvi, quantas vezes já disse isso para alguém e quantas vezes já me peguei procrastinando alguma coisa.

A grande questão destes lemas motivacionais é que as pessoas os memorizam, os verbalizam nos momentos mais oportunos e talvez até ganhem pontos extras na sua reputação todas as vezes em que os compartilham nas redes sociais. Mas talvez lhes falte o verdadeiro aprendizado, tal como diz Beto Guedes na bela música Sol de Primavera “a lição sabemos de cor; só nos resta aprender”.

Então, minha proposta neste texto é a de acrescentar algumas informações que considero importantes para o verdadeiro entendimento da procrastinação. Como ela surge, como ela se mantem, que vantagens ela apresenta num primeiro momento, que perdas ela proporciona no depois e algumas estratégias que podem ajuda-lo a minimizar a incidência do comportamento procrastinador no seu cotidiano.

Procrastinar consiste no hábito de adiar tudo até o limite máximo dos prazos, vivenciar diariamente aquela sensação de fazer as coisas no pânico do último minuto.

Isso acontece porque, num primeiro momento, a procrastinação é muito sedutora. Ela vende a você a falsa sensação de alívio e prazer por não executar uma determinada tarefa naquele momento e poder dedicar-se a algo mais prazeroso, atrativo ou interessante.

O problema é que as perdas aparecem logo em seguida e aquela sensação inicial de alívio e prazer muda completamente. Depois de ter procrastinado algo (ou de ainda estar procrastinando) em geral a sensação que se experimenta é a de mau uso do seu tempo e da sua energia; decréscimo na qualidade, pois quando se procrastina o prazo sempre fica menor e não permite que a execução seja feita no nível de qualidade desejado; questionamento das competências e habilidades, pois os bons profissionais de fato não procrastinam; além é claro da ansiedade, da culpa e do arrependimento, que sempre se fazem presentes.


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A tendência de procrastinar geralmente aparece diante daquelas atividades chatas, difíceis ou demoradas. Você já viu alguém procrastinar uma happy hour com os amigos? Ou uma sessão de cinema? Um churrasco? Uma festa? Ou ainda a manutenção diária das suas redes sociais? Eu nunca vi.

Todas as pessoas, em algum momento, estão diante de tarefas desagradáveis, os nossos famosos “tenho que”. Existem as coisas que nós gostamos de fazer e as coisas que temos que fazer e é diante destas últimas que devemos estar atentos quanto à tendência de procrastinar.

Imagine que você tem em casa um daqueles armários de bagunça, onde na correria do dia-a-dia você vai colocando as coisas sem nenhum critério de organização. Tudo junto e misturado mesmo, ao ponto de você nem saber mais o que existe lá dentro e ter sérias dificuldades para encontrar o que precisa.

Então você decide que, no próximo sábado logo pela manhã, vai organizar o armário inteiro, para não passar mais pelo desgaste de procurar suas coisas no meio de tanta bagunça. Perfeito!

Eis que chega a manhã do sábado e o dia está lindo. Você está pronto para começar a arrumação do armário e, como de costume, vai dar uma olhadinha nas mensagens do WhatsApp primeiro. Seu grupo de amigos decidiu ir até o parque da sua cidade, para fazer uma caminhada, aproveitar o sol e terminar o passeio com um lanche na beira do lago. Aí você pensa: mas eu tenho que (olha ele aí!) arrumar o armário. Em seguida pensa: mas seria tão legal passar essa manhã de sol no parque com a galera... E então se estabelece na sua mente o dilema clássico arrumação de armário versus passeio no parque. Armário ou parque? Obrigação ou prazer? Armário ou parque? Minhas coisas organizadas ou companhia dos amigos? Armário ou parque? Parque, é lógico! Outro dia eu organizo o armário.

Você se arruma bem rápido, calça o tênis, coloca o boné e os óculos escuros, passa o protetor solar e se encaminha para o parque. Chegando lá, tudo está exatamente conforme o previsto: o sol, a galera, as risadas, a animação, o lanche na beira do lago... e o seu armário de bagunça que também foi com você, só que dentro da cabeça.

A procrastinação permite que nos livremos das tarefas na esfera física, material. Mas não permite que nos livremos das tarefas na esfera mental e emocional. Pelo contrário, nós não deixamos de pensar e de nos cobrar pelas tarefas que foram procrastinadas. Está aí uma fonte geradora de preocupação e ansiedade bastante comum.

Na opinião de alguns psicólogos, a procrastinação também é um sintoma de baixa autoestima. Uma vez que a pessoa deixa suas tarefas, deveres e obrigações para depois, ela está indiretamente se deixando para depois também, desvalorizando suas próprias escolhas e prioridades. Ou então, pelo receio de receber críticas pela execução de uma tarefa e com isso ferir ainda mais a sua autoestima, prefere deixar a tarefa para depois. Afinal, quem não faz também não erra.

O comportamento procrastinador também é um obstáculo para a gestão do seu tempo, impedindo que você construa uma agenda realista e efetiva para o seu dia. Ela vai encher sua cabeça de preocupação diante de tantas coisas que você ainda tem por fazer, especialmente se algum imprevisto o impedir de entregar a tarefa naquele último minuto que ainda lhe resta de prazo. Vale ressaltar que os imprevistos sempre acontecem, todos os dias.

A primeira alternativa para vencer a procrastinação é tomar consciência dos seus reais motivos. Separe 10 minutos do seu dia, pegue papel e caneta, e tente responder objetivamente a essas questões: O que eu estou procrastinando? Porque estou procrastinando? O que vai acontecer se eu continuar procrastinando essa tarefa? De que forma serei prejudicado(a)?

Quando você consegue identificar o que está procrastinando, as possíveis causas e também as consequências, fica mais fácil construir um plano de ação para executar essas tarefas e criar um prazo realista para a conclusão de cada uma delas.

Cultive o hábito de dar a si mesmo uma recompensa a cada tarefa que for executada prontamente e vencer a tendência de procrastinar. Alimente sua autoestima com a satisfação de concluir um trabalho na hora certa e com a qualidade que você almeja.

Para finalizar, treine e aprimore todos os dias seu nível de disciplina, pois ela é o melhor dos antídotos contra a procrastinação. Mas lembre-se de manter em mente a definição correta do termo: disciplina se resume em fazer o que precisa ser feito, na hora que precisar ser feito. É isso! E não aquela ideia de rigidez, inflexibilidade e regras duras que muitas pessoas carregam.

Um grande abraço e até breve...

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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