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Samanta Luchini    |   23/10/2019   |   Desenvolvimento Humano   |  

Errar é humano. Ainda bem!

Os erros fazem parte da existência humana e podem trazer valiosas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento, desde que sejam reconhecidos e recebam a tratativa adequada.

O ser humano, por sua própria natureza, é imperfeito e passa boa parte da vida trabalhando para amenizar essas imperfeições. Isso significa que nós estamos num permanente processo de construção, no qual os erros constituem uma parte bastante relevante.

Por isso, neste texto gostaria de falar um pouco sobre erros e compartilhar alguns insights que me acompanham e que são muito úteis para as minhas reflexões.

Antes de começarmos, é interessante lembrar que a palavra erro pode receber diferentes conotações. Pode ser algo que está mal feito. Pode ser um desvio em relação a uma regra. Pode ser um comportamento considerado reprovável do ponto de vista social, ético ou moral. Ou pode simplesmente se resumir a algo que saiu diferente da sua expectativa, algo que você queria de ter dito mas não disse, algo que você não consegui realizar, um momento no qual você não agiu da forma como gostaria.

A ideia que está sempre em minha mente é a de que ninguém erra de propósito. Ninguém planeja o próprio fracasso. Já tenho na minha trajetória profissional um universo de mais de 22.000 pessoas treinadas e nenhuma delas jamais me revelou o desejo de errar.  Nenhuma delas me deu sequer a menor pista desse desejo. Quando o erro acontece, ele geralmente é precedido de um desejo de acertar, uma intenção positiva. Desta forma, o erro passa a ser visto como uma questão de metodologia, ou seja, uma escolha equivocada de como fazer, que hora fazer, com quem fazer.

Manter essa ideia em mente ajuda muito nas conversas que se seguem aos erros. Ela parece trazer a leveza e a objetividade necessárias para que se possa encontrar alternativas de solução e, acima de tudo, ela nos ajuda a preservar a consciência real acerca da natureza humana.

Outra ideia, na verdade é uma contestação. Passei praticamente a vida toda ouvindo o seguinte ditado “é errando que se aprende” e, definitivamente, eu não concordo com isso. O simples fato de cometer um erro nunca me ensinou nada. O que ensina de fato é a tratativa que se dá para o erro depois que ele é cometido: reconhecer, assumir, se desculpar, consertar, reparar, agir de forma diferente para não reincidir.


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Também mantenho em mente a ideia de que errar é bom, desde que a cada vez seja um erro diferente. Erros diferentes demandam tratativas diferentes, logo, produzem aprendizados diferentes. Sempre provoco meus alunos e treinandos, quando esse assunto está em discussão: porque cometer sempre os mesmos erros se existem tantos diferentes para experimentar?

Falando um pouco do universo das empresas, mais diretamente sobre o posicionamento da liderança no que se refere a erros. Pense no processo de delegação de uma tarefa, por exemplo. Além de um método estruturado, é fundamental que o líder também esteja consciente acerca da margem de concessão para erros, que é parte integrante do processo.

Quando se delega uma tarefa, especialmente a um nível funcional inferior, é bastante provável que ocorram erros. É importante que o líder tenha clareza acerca do tipo de erro aceitável e do tipo de erro inadmissível.

Erros aceitáveis geralmente são aqueles que não fazem parte de um padrão, ou seja, pontuais. Aqueles que cuja tratativa traz reflexão, aprendizado e crescimento. Aqueles que acontecem por falta de clareza no limite de autonomia e responsabilidade para a execução de uma determinada tarefa, isto é, o erro ocorre porque a pessoa vai além de onde poderia ir ou deixa de fazer algo, por não saber que aquilo era de sua responsabilidade.

Já os erros inadmissíveis são aqueles que ferem o código de conduta da empresa e seus princípios éticos. Ou aqueles que contrariam a legislação específica à qual a emprese se insere.

Vale ressaltar que essa classificação não depende apenas do líder, ela também está relacionada à cultura da empresa. Você já deve ter reparado que em algumas empresas as pessoas são estimuladas a correr riscos, experimentar, inovar e os erros são tratados como parte do processo de desenvolvimento. Em outras existe até uma espécie de “incentivo” para que os erros aconteçam da forma mais rápida possível, para que tão logo sejam corrigidos e assim tragam novos conhecimentos de forma mais célere. Mas também existem empresas nas quais até os erros mais simples são tratados com intolerância máxima e punições.

Falar e pensar sobre erros nos ajuda a aceitar nossa própria vulnerabilidade, a diminuir a força do crítico que todos nós carregamos do lado de dentro e a valorizar as oportunidades de desenvolvimento. Como diz a frase de Elbert Hubbard o maior erro que você pode cometer é o de ficar o tempo todo com medo de cometer algum.

Um grande abraço e até breve.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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