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Samanta Luchini    |   11/04/2018   |   Desenvolvimento Humano   |  

O Efeito Pigmaleão e o Poder das Expectativas

Nossas exepctativas tem o poder de influenciar positiva ou negativmente a realidade. Quanto maiores as expectativas que se tem em relação a uma pessoa, melhor é o seu desempenho. Ou seja, as pessoas se transformam na imagem que temos delas.

Na mitologia grega, Pigmaleão era um amante da arte de esculpir e dedicava boa parte de seu tempo e energia às suas obras. Ao mesmo tempo, era um homem inconformado com a prostituição e vulgaridade das mulheres de sua época. Isso fez com que ele optasse pelo celibato, por uma vida reclusa e inteiramente dedicada à sua arte.

Mesmo diante de tamanha desilusão com as mulheres, Pigmaleão começou a esculpir uma mulher de marfim perfeita, que reunia os melhores atributos em termos de beleza, doçura e graça. Ele a batizou de Galathea, pois a estátua de marfim era uma fiel reprodução da deusa que carregava esse nome.

A deusa verdadeira, por sua vez, ficou muito ofendida por seu nome ter sido dado a uma mera estátua, decidiu vingar-se de Pigmaleão lançando-lhe o feitiço de se apaixonar perdidamente pela própria criação.

Pigmaleão passou dias e noites sofrendo ao lado da estátua, lamentando-se e imaginando como seria sua vida ao lado da mulher amada e quão absoluta seria sua felicidade.

A deusa Galathea, comovida diante do sofrimento de Pigmaleão, personificou-se na estátua através do fogo da vida, desceu do pedestal e aproximou-se de seu criador. Enfim, Pigmaleão teve em seus braços a mulher ideal que criou. Galathea se tornou sua esposa, deu a ele um filho e uma vida feliz.

Este mito é uma excelente metáfora para entendermos o poder das nossas expectativas diante do comportamento das pessoas. Reconhecer que realidade pode ser influenciada positiva ou negativamente pelas nossas expectativas e pelos rótulos que colocamos nas pessoas, é algo decisivo na hora avaliar o potencial e o desempenho das pessoas.

Trata-se de uma espécie de profecia auto-realizável, que revela a mais nobre premissa do desenvolvimento humano: quanto maiores as expectativas que se tem em relação a uma pessoa, melhor é o seu desempenho. Ou seja, as pessoas se transformam na imagem que temos delas.

Imagine se essa fosse, de fato, a premissa dos líderes diante das pessoas de suas equipes. Dos professores em relação aos seus alunos. Dos pais e das mães, diante dos filhos. Das esposas diante dos maridos e vice-versa.


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Para dar origem ao que hoje é conhecido como Efeito Pigmaleão, os pesquisadores Robert Rosenthal e Lenore Jacobson, da Universidade de Harvard, realizaram um importante estudo em 1968.

Os alunos de uma escola primária da Califórnia foram submetidos a um teste de QI no início do ano. Em seguida, os pesquisadores reuniram os professores da escola e lhes informaram que 20% das crianças haviam conseguido pontuações excelentes e garantiram que esses alunos teriam grandes progressos acadêmicos naquele ano, obtendo resultados muito acima da média dos colegas. Os nomes destas crianças foram informados aos professores, porém as próprias crianças não foram avisadas.

No final do ano letivo, todos os alunos foram submetidos novamente ao mesmo teste de QI utilizado no início do estudo. Aqueles 20% tiveram realmente uma performance significativamente melhor.

A melhor informação vem agora: os pesquisadores haviam mentido aos professores no início do ano, e os alunos que haviam sido apontados como os mais promissores não obtiveram um desempenho melhor do que os outros naquele primeiro teste. Os nomes foram escolhidos de forma aleatória.

Com base nesse estudo, os pesquisadores concluíram que, ao elevarem suas expectativas sobre aqueles alunos, os professores automaticamente mudaram sua atitude em relação a eles, agindo de maneira mais encorajadora, receptiva e engajada com o processo de aprendizagem. Essas atitudes criaram um clima de afetividade, cumplicidade, entusiasmo, apreço e confiança, que influenciou positivamente o desempenho dos alunos.

John Maxwell, autor de diversos best-sellers de liderança, também oferece uma visão que confirma o Efeito Pigmaleão. Ele defende que é preciso ver todas pessoas como uma nota 10, pois desta forma, elas poderão oferecer as melhores entregas em termos de desempenho e comportamento. O que não acontece, por exemplo, se você as enxergar como uma nota 3 ou 4, duvidando de suas capacidades e ambições.

Tratar as pessoas como uma nota 10 significa aplicar o que John Maxwell define como o princípio CICA: Confiar nelas, Incentivá-las, Compartilhar experiências com elas e Acreditar nelas.

Ele afirma que é fácil reconhecer um grande talento quando ele já está pronto, mas e antes disso? Como seria possível?

Certamente pela premissa do Efeito Pigmaleão, procurando o potencial que está dentro de cada pessoa e ao encontra-lo, fazer o seu melhor para extraí-lo. Isso significa aplicar as mesmas atitudes que foram demonstradas pelos professores “enganados” do estudo de Robert Rosenthal e Lenore Jacobson, em 1968.

Termino essa reflexão com a belíssima citação de Goethe, encorajando-o a esperar sempre o melhor daqueles que o rodeiam:

“Se você tratar as pessoas como elas são, as fará piores. Se você tratar as pessoas como elas deveriam ser tratadas, você ajudará para que elas se tornem o que elas são capazes de se tornarem.”

Um grande abraço e até breve...

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Samanta Luchini

Mestre em Administração com Foco em Gestão e Inovação Organizacional, Especialista em Gestão de Pessoas pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS e em Neurociência pela Unifesp.
Psicóloga pela Universidade Metodista de São Paulo.
Executive & Life Coach em nível Sênior, com formação internacional pelo ICI (Integrated Coaching Institute) em curso credenciado pela ICF (International Coach Federation).
Professora convidada dos programas de pós-graduação da FGV/Strong, Universidade Metodista e Senac, dos programas de MBA da Universidade São Marcos e Unimonte, e dos cursos FGV/Cademp, para a área de Gestão de Pessoas.
Professora conteudista do Centro Universitário da Fundação de Ensino Octávio Bastos – UNIFEOB.
Formadora de consultores e treinadores comportamentais.
Atua há mais de 23 anos com Gestão de Pessoas em diversas empresas e segmentos, dentre elas Wickbold, Bridgestone, Bombril, Solar Coca-Cola, Porto Seguro, Grupo M. Dias Branco, Prensas Schuler, Arteb, Grupo Mardel, Tegma, Pertech, Sherwin-Williams, Grupo Sigla, Unilever, Engecorps, Nitro Química, Grupo Byogene, Netfarma, NTN do Brasil, TW Espumas, Ambev, Takeda, Pöyry Tecnologia,
Neogrid, Scania, Kemp, Ceva Saúde Animal, Embalagens Flexíveis Diadema, Sem Parar, CMOC, Camil e Toyota.
Em sua trajetória profissional e acadêmica, já desenvolveu mais de 27.000 pessoas, com uma média de avaliação superior a nota 9,0 em todos seus treinamentos.
Palestrante, consultora de empresas e autora de diversos artigos acadêmicos publicados em congressos e revistas.
Colunista da revista Manufatura em Foco – www.manufaturaemfoco.com.br


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