Geoengenharia busca macrossolução para barrar poluição

Ilustração: Filipe Borin, Globo Rural



Não basta mudar as técnicas de produção que intoxicam o planeta com a emissão de gases poluentes para conter o aquecimento global. Para a geoengenharia - ramo da engenharia que combate os efeitos de gases poluidores na atmosfera -, é preciso fazer com que menos raios solares cheguem à Terra.

Só assim seria possível compensar o calor extra provocado por gases tóxicos lançados no ambiente, que serão responsáveis pelo aumento na temperatura de 1,4 a 5,8 graus centígrados até o fim do século.

Os projetos dessa área de pesquisa são um tanto extravagantes. Mas os cientistas alinhados a ela argumentam que já não é mais possível depender de ações pontuais das nações para solucionar um problema tão complexo.

Uma dessas propostas surgiu na Universidade de East Anglia, no Reino Unido, e foi publicada na revista Atmospheric Chemistry and Physics Discussions. O pesquisador Tim Lenton sugeriu que uma imensa "sombrinha" feita de nitrato de silício fosse implantada no espaço - cobriria 4,1 milhões de quilômetros quadrados iniciais - para funcionar como um escudo e bloquear 1,5% da radiação solar.

A área seria ampliada à medida que o índice de gás carbônico aumentasse. De acordo com a publicação, a proteção seria expandida anualmente em 31 mil quilômetros quadrados. E isso exigiria mais de 130 mil lançamentos de foguetes por ano para levar os materiais ao espaço.

A geoengenharia já propôs, também, usar lavouras como espelhos para refletir parte da radiação que chega ao planeta. O trabalho é da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e foi publicado na revista científica Current Biology.

Em um primeiro momento, as plantas tradicionais seriam substituídas por outras, de folhas mais lustrosas ou com estruturas que aumentam a reflexão. A pesquisa usa como exemplo uma variedade de cevada que tem folhas cobertas de cera, em vez da variedade opaca.

Para comprovar a eficácia da estratégia, os pesquisadores realizaram uma simulação em computador. Ao usar um cenário com o dobro de gás carbônico na atmosfera, eles testaram qual seria a diferença para a temperatura global se as lavouras tivessem albedo (capacidade de refletir a luz) 20% maior do que o atual.

Segundo eles, a temperatura média na superfície do planeta cairia 0,11 grau, quase 20% do aumento total desde a Revolução Industrial, no século XIX. No entanto, essa diminuição não seria uniforme. Os termômetros da América do Norte, Europa e Ásia registrariam uma queda de um grau durante o verão. Mas as mudanças seriam pouco significativas no Hemisfério Sul.

O autor, Andy Ridgwell, argumenta que a proposta é de mais fácil aplicação que outras estratégias já sugeridas, como o aumento na concentração de ferro na superfície dos oceanos - beneficiando as algas que sequestram carbono - ou a liberação de aerossóis de sulfato na estratosfera, para refletir a radiação solar.

Na opinião do pesquisador José Antônio Marengo, do CPTEC/Inpe - Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, as propostas são pomposas, não garantem eficiência e são caras demais. "Seria mais barato implementar medidas de mitigação de gases de efeito estufa e planos de reflorestamento, ao invés de investir em tecnologias mirabolantes que geram mais lixo espacial", analisa.

Os defensores da geoengenharia são descrentes em propostas dessa natureza e em mudanças nos comportamentos individuais como forma de salvar o planeta. E apontam os resultados de uma recente pesquisa americana, que entrevistou 10.733 pessoas em 22 países: 86% delas se mostraram preocupadas com o aquecimento global, mas poucas afirmaram adotar práticas como o uso de energia ou combustível mais limpos.

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