Brasil ainda está nos primeiros estágios de eficiência energética, afirmam especialistas

Em ranking, o país ocupa somente o 22º lugar na lista de 25 nações quando se trata de esforços em eficiência energética.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Conselho Americano para uma Economia Energeticamente Eficiente, o Brasil está longe de ser um dos grandes investidores mundiais em eficiência energética – na contramão dos países europeus. No ranking divulgado pelo Conselho, o país ocupa somente o 22º lugar na lista de 25 nações quando se trata de esforços em EE. No topo, estão empatadas a Alemanha e a Holanda.

As diferenças entre Brasil e Europa em relação à EE foram discutidas no 8º episódio do PotencializEE Convida, programa de entrevistas disponível no canal do YouTube da iniciativa que deve fortalecer a eficiência energética em pequenas e médias indústrias do estado de São Paulo e que é coordenada pela Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) e liderada pelo Ministério de Minas e Energia.

“A indústria alemã cresceu nos últimos anos, mas o consumo de energia continuou constante em consequência das medidas de eficiência energética implementadas nas cadeias produtivas. Especialmente nos setores de siderurgia, química e alumínio, houve uma queda no consumo ao longo dos anos porque essas áreas competem no mercado exterior e, por isso, precisaram reduzir o custo de produção, e investir em EE auxilia nisso.”, explica Camilla Oliveira, gerente de projetos do think tank alemão Agora Energiewende, que trabalha com transformação industrial na Europa e no Brasil.

Falta de discussão

Na Alemanha, a maioria das indústrias já implementou ações de eficiência energética mais básicas, como substituição de iluminação, contenção de vazamentos de ar comprimido, substituição de bombas e motores, entre outras. Mais recentemente o foco tem sido na descarbonização industrial e contenção das mudanças climáticas, assunto que ainda parece distante para a indústria brasileira.


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“A realidade do Brasil é distante da Alemanha. Aqui a curva de emissão de carbono começou a diminuir muito recentemente no setor industrial, mas na agropecuária continua ascendente. Apesar da matriz energética brasileira ser 45% renovável, os níveis de emissão continuam relevantes. Quando falamos de eficiência energética, ainda estamos focados nas coisas mais básicas como ar-condicionado, iluminação… Falta investir na segunda etapa da EE e em projetos que mexam mais profundamente nas indústrias. Ainda estamos nos primeiros estágios por aqui”, aponta Rosana Santos, diretora executiva do Instituto E+ Transição Energética.

A pesquisadora da FGV afirma, entretanto, que isso não significa que o Brasil não discute sobre eficiência energética nas indústrias:

“Já fala de EE há algum tempo, mas não conectando o tema com a descarbonização. Somente em 2008 pudemos ver um programa mais moderno sobre isso na Aneel, que investiu bilhões de reais. No entanto, novamente, foram em fatores mais básicos da EE, como substituição da iluminação, ar-condicionado e ar comprimido. Desse investimento, apenas 4% foram direcionados para a indústria, porém somente esse pequeno incentivo gerou uma economia de 135 giga kilowatts de horas por ano. O que a GIZ está fazendo atualmente (com o PotencializEE) é pegar esse caldo de conhecimento (gerado a partir desse projeto) e transformando em ações mais concretas para o setor industrial.”

A especialista destaca ainda que o PotencializEE também olha para a questão da regulamentação e do financiamento de projetos em Eficiência Energética como um todo.

“Aeficiência energética não é necessariamente vantajosa no ponto de vista de lucro para a economia, então ela tem que ter alguma forma de regulamentação ou financiamento facilitado. A GIZ está tentando todas essas coisas. O programa aborda a questão do financiamento, do treinamento – para que as empresas entendam o que pode ser mudado -, e funciona como um guia do que se pode fazer. Essa é uma maneira de trabalhar a Eficiência Energética mais parecida com a Europa”, afirma Rosana.

O potencial de eficiência energética brasileiro pode ser ainda maior devido ao fato de grande parte da matriz energética do país ser renovável, podendo elevar o Brasil ao posto de referência em energia verde com o carvão vegetal, o hidrogênio verde, a biomassa e a energia eólica – fontes renováveis que não são facilmente produzidas na Europa.

“O Brasil tem a faca e o queijo na mão e tem tudo para ser uma soberania verde”, aposta Camilla, que já foi consultora de meio ambiente da ONU.

Abordagem europeia na eficiência energética

Pequenas e médias indústrias do estado de São Paulo que se enquadram aos critérios do PotencializEE recebem subsídios para a implementação de eficiência energética em seus polos. Desde que foi iniciado, em setembro de 2021, o programa PotencializEE já recebeu mais de 700 inscrições de empresas industriais em 10 regiões de São Paulo para serem beneficiadas com ações que promovem, além da redução de custos operacionais com energia, a reindustrialização de baixo carbono, o aumento da competitividade e a geração de novos empregos verdes.

O PotencializEE tem como objetivo atender 1 mil empresas industriais até 2024 com a realização de diagnósticos energéticos e implementar 425 projetos de eficiência energética. Com isso, há previsão da redução de emissão em 1,1 milhão de toneladas de CO² por essas companhias, ajudando no combate as mudanças climáticas e posicionando as empresas dentro de uma agenda mais sustentável.

“A questão da descarbonização precisa ser global”, afirma Rosana em conselho para os empresários brasileiros: “No Brasil, o mercado de carbono deve ser implementado e a eficiência energética está ligada a isso. As empresas que não se adaptarem à nova realidade serão cobrados pelo mundo e vão ter dificuldade em competir no exterior com seus produtos”.

As inscrições para participar do PotencializEE podem ser feitas pelo site. A visita do especialista certificado pelo SENAI-SP, responsável pela análise de potencial de EE na indústria, é gratuita.

Imagem de capa: Depositphotos