Desperdício no País equivale a geração de 5 usinas

Fonte: Gás Brasil - 29/08/07

O diretor de Energia da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp), Luiz Gonzaga Bertelli, alertou que estudos de especialistas informam que o desperdício de energia elétrica no País é o equivalente à produção de cinco usinas nucleares similares à Angra 3 - que produzirá 1.400 mil megawatts - e "isso incomoda muito diante de um quadro de escassez cada vez mais próximo".

Ele disse ainda que o consumo predatório da energia é causado pelo uso de máquinas antigas e motores ultrapassados, lâmpadas obsoletas, aparelhos domésticos e iluminação urbana. Para suprir a falta de energia elétrica no País, uma esperança frustrada do governo era o da transformação da biomassa em eletricidade. Contudo, os projetos não corresponderam às expectativas. Existe acentuado corporativismo no setor elétrico que evita no planejamento energético o uso da biomassa, principalmente do bagaço da cana.

Um alentado estudo da Fiesp estima que se forem instaladas caldeiras e turbinas mais eficientes para processar o rejeito de industrialização da cana, poderiam ser gerados mais de cinco mil megawatts de eletricidade na safra em curso de 2006/07. "Isso deveria ocorrer a um custo relativamente competitivo de R$ 109 megawatts/hora, preço inferior às hidrelétricas (R$ 112), carvão (R$ 145), óleo combustível (R$ 175) e eólica (R$ 232)", disse.

Hoje, todas as indústrias sucroalcooleiras geram energia para o consumo próprio, mas somente 10% delas, de um total de 350 unidades, vendem o excedente no mercado. Algumas usinas de açúcar e álcool continuam desmotivadas, diante de investimentos necessários para a modernização dos equipamentos e dos baixos preços praticados nos leilões de energia. Com a suspensão da queima da cana e aproveitamento da palha, o potencial gerador irá crescer substancialmente.

Bertelli informou que além da hipótese do desabastecimento elétrico, as empresas nacionais, principalmente as eletrointensivas, já convivem com as tarifas mais altas, reajustadas em cerca de 150%, no período de 2001 a 2006. A tarifa subiu de R$ 82 por megawatts/hora para R$ 206/megawattts/hora. "Foram criados no período dez novos encargos governamentais, além dos tributos normais, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) variou apenas 50%", disse o especialista.

E arremata: "Com as usinas térmicas, a energia ficará mais cara e até viabilizam, economicamente, as nucleares. O Brasil já adquiriu 750 milhões de dólares em equipamentos para a usina nuclear 3 e eles estão armazenados, em Angra, há 21 anos, com gastos de manutenção da ordem de 20 milhões de dólares anuais. Energia é insumo fundamental, a fim de assegurar a competitividade dos setores, como a indústria siderúrgica e do alumínio".

Ele explicou que apesar do esforço desenvolvido para alcançarmos a auto-suficiência, as importações do petróleo correspondem a cerca de 200 mil barris diários. "Em compensação, nos primeiros dias de julho, o álcool hidratado é vendido nas usinas a R$ 0,57/litro, enquanto o anidro, misturado à gasolina (25%) a R$ 0,66. Em decorrência, o combustível da cana amplia, sensivelmente, a sua participação no mercado das energias, incentivando a venda de veículos multicombustíveis (flex). As tarifas elétricas tendem ao crescimento, pois a eletricidade está ficando escassa", informou.

Risco de falta energia

Um fato deixa Bertelli mais preocupado: "Persiste o risco de faltar eletricidade, a partir de 2010 ou antes, na dependência das chuvas. Desde 2003, elas continuam generosas e os atuais reservatórios das usinas hidrelétricas permanecem cheios".

É inteiramente verdade que a construção de novas usinas hídricas ou térmicas, movidas a gás natural ou derivados do petróleo, demorem em média 5/7 anos para sua conclusão, isto se forem concedidas as decantadas autorizações ambientais. Na última década, o tempo médio para a concessão de licença prévia para as novas usinas hídricas foi de mais de três anos. Saíram apenas dez licenças ambientais, no quatriênio passado. Enquanto a nova energia não vem, o melhor para as empresas brasileiras é racionalizar o seu emprego, concluiu o diretor de Energia da Fiesp, Luiz Gonzaga Bertelli.