Construir “verde” é bem mais barato do que se imagina

Fonte: Carbono Brasil - 26/08/07

O custo dos chamados “Green Buildings”, edificações ambientalmente corretas, é superestimado em 300%, segundo uma pesquisa lançada esta semana pelo Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD, na sigla em inglês).

O estudo afirma que os principais atores do mercado imobiliário e da construção civil mundial julgam erroneamente os custos e os benefícios das construções “verdes”, criando uma grande barreira para uma maior eficiência energética no setor. O WBCSD é uma associação de 200 empresas, de mais de 35 países e 20 maiores setores industriais do mundo, que trabalham como advogadas dos negócios para o desenvolvimento sustentável.

Através da respostas de 1,4 mil pessoas de todo o globo, a pesquisa estimou que o custo para tornar uma construção “verde” é 17% acima do convencional, mais do que triplicando o verdadeiro custo de cerca de 5%. Ao mesmo tempo, os entrevistados disseram que as emissões de gases do efeito estufa vindo de edificações respondem por 19% do total mundial, enquanto que o número verdadeiro é o dobro disto, ficando na marca de 40%.

“Para atingir um novo patamar de eficiência energética nos edifícios, são necessárias fortes políticas e regulamentações. Governos e autoridades locais precisam desenvolver estas políticas”, afirmou o presidente do WBCSD, Bjorn Stigson.

Os dados foram divulgados no relatório chamado Eficiência Energética em Edifícios: As realidades e oportunidades nos negócios (clique aqui para fazer o download do arquivo em inglês) que resume a primeira fase de um projeto do WBCSD, em parceria com a francesa Lafarge, líder mundial em materiais de construção, e com a norte-americana United Technologies Corporation, especializada em produtos e serviços de alta tecnologia para as indústrias de construção e aeroespacial.

“O boom da construção global nos países em desenvolvimento tem criado uma tremenda oportunidade para construir-se diferentemente e dramaticamente diminuir a demanda energética”, disse o chefe-executivo da United Technologies Corporation, George David.

A tecnologia existente combinada com o design comum, segundo David,  pode aumentar a eficiência energética em 35% e reduzir os custos com aquecimento em 80% para um edifício padrão no mercado industrial.

“O mundo passa por uma rápida transformação, com forte crescimento demográfico e econômico, guiando um movimento em direção da urbanização em uma escala sem precedentes. Nós, como líderes da indústria, temos a responsabilidade de assegurar que este crescimento seja atingido de uma maneira sustentável”, comentou o presidente e chefe-executivo da Lafarge, Bruno Lafont.

Lafont explica que a análise do ciclo de vida dos edifícios mostra que 80 a 85% do total de energia consumido e emissões de CO2 vêm do uso de aquecimento, resfriamento, ventilação e água quente. “Se nós queremos fazer algo de impacto quanto às mudanças climáticas, então devemos atacar isto. Combinar os materiais certos na projeção de um edifício pode promover uma grande redução na necessidade energética, aumentar a vida útil e garantir uma performance consistente com o passar do tempo”, disse.

O estudo ainda revela que menos de uma em cada sete indústrias questionadas participaram diretamente em projetos de construções verdes. O envolvimento varia de 45% na Alemanha a apenas 5% na Índia. Cerca de 20% dos arquitetos e engenheiros tem se envolvido nesses projetos, comparado com apenas 9% dos proprietários.

Os edifícios já representam aproximadamente 40% do uso de energia primária usada globalmente e o consumo deve aumentar substancialmente nos países mais populosos e com os maiores crescimentos, como a China e a Índia.

Contexto brasileiro

No Brasil, o debate é bastante recente e a primeira instituição a ser criada nesta área foi o Green Building Council Brasil (GBC Brasil), constituído neste ano. Com sede em São Paulo, o órgão é o representante do World Green Building Council no Brasil, cuja missão é desenvolver e incentivar a indústria de construção sustentável no País, transformando em um dos líderes em construções sustentáveis no mundo. O GBC Brasil terá a função de adaptar os requisitos brasileiros para o processo de conquista da mais reconhecida e respeitada  certificação sustentável do mundo, o Leed.

"Adotar novas práticas sustentáveis no processo de construção traz diversos benefícios desde o custo inicial do empreendimento até o ciclo de vida do imóvel. Esse gasto pode até ser menor do que na construção convencional em razão da curva de aprendizado, economia de escala, escassez de recursos e aspectos da legislação", afirma Renato Diniz, diretor de novos negócios da incorporadora Rossi, que acaba de se tornar membro-fundadora do GBC Brasil.

Em depoimento para o Blog Projetando (n)o mundo, o professor do Departamento de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Vanderley John, diz que tanto a certificação Leed quanto a francesa Haute Qualité Environnementale (HQE) são sistemas ótimos, mas que não foram feitos para o Brasil.

Para ele, a certificação tem um objetivo de marketing e não necessariamente eleva a sustentabilidade da construção civil brasileira. Ainda segundo John, as empresas podem produzir um edifício adequado ao sistema de certificação, mas manter o padrão tradicional nos demais.

Na avaliação do professor da Poli-USP, não basta que a construção seja considerada "verde" para ser sustentável. Hoje há muitos produtos vendidos como verdes, mas existem telhas recicladas que não duram dois anos e depois viram resíduos. Se o produto tiver de ser substituído rapidamente não é sustentável.