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Gladis Costa    |   16/12/2016   |   Marketing e Comportamento   |  

Carreira: A maturidade e o curioso mundo corporativo

A maturidade é maravilhosa, traz conhecimento, bom senso, experiência, mas o mercado nem sempre vê assim!

Em 1922 o escritor Scott Fitzgerald publicou uma pequena obra prima de 28 páginas que deu origem ao filme “O Curioso Caso de Benjamin Button” (The Curious Case of Benjamin Button), lançado em 2009. O filme rendeu muita bilheteria, levando três Oscar das treze indicações.  Dizem que Fitzgerald teria se inspirado numa frase de Mark Twain: “A vida seria infinitamente mais feliz se pudéssemos nascer aos 80 anos e gradualmente chegar aos 18”. Não dá para saber, mas dá o que pensar.  

A história se passa em New Orleans e conta a jornada de Benjamin Button, uma criança que nasce misteriosamente velha – tem aparência de uma pessoa de 80 anos - e é deixada numa instituição para idosos pelo pai, horrorizado pela aparência da criança e traumatizado pela morte da esposa durante o parto.

 A vida de Benjamin, visto como aberração da natureza, é como um filme visto de trás para frente; enquanto todos à sua volta envelhecem, ele rejuvenesce a cada dia. É uma história recheada de aventuras, descobertas e paixões, mas também é uma metáfora da ação do tempo, que neste caso voluntariamente conspira a favor desta criança idosa, pois cada dia vivido é um dia ganho em aparência e em experiência de vida.

Porém, Fitzgerald não poderia imaginar uma segunda reflexão em torno do tempo – principalmente no âmbito corporativo, porque é uma luta diária gerenciar os efeitos da maturidade, que impactam a oferta de trabalho e fazem com que o profissional seja percebido como “caro”, justamente pelo “excesso” de experiência – ora, quem diria que isso poderia ser usado contra os maduros de plantão? Para estes, o tempo só conspira – e não é a favor.

 Benjamin vai passar a vida gerenciando o fato de não ser por fora o que é por dentro, exatamente o que acontece com os profissionais mais experientes do mercado. Claro que não têm o vigor dos primeiros anos de atividade – porém, quando todo mundo discute qualidade de vida, quem quer trabalhar 12 horas por dia? Nem é preciso, basta entender as leis do escopo, prioridades e gerenciamento do tempo. Trabalhar no mode home-office também ajuda, o trânsito credita algumas horas na conta de quem trabalha em casa.


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 A questão não é idade, portanto nenhuma crítica aqui aos jovens profissionais, muito pelo contrário, são talentosos, energizados, super antenados, mas a maturidade profissional, que anda de mãos dadas com a bagagem, eles ainda não têm...porque são jovens. Não lhes falta talento, mas vivência, que pode impactar os negócios, principalmente aqueles voltados ao público mais conservador. Como diria Joelmir Beting, “na prática, a teoria é outra”, nalgum momento da jornada, os veteranos poderão ser escalados para resolver impasses ou usar sua vivência para implementar ajustes estratégicos numa crise, por exemplo - e que nenhum livro explica - porque não dá para prever todas as situações do “mundo real’, que esta turma vivenciou tantas vezes.

 Não é fácil a vida dos Benjamin Buttons corporativos. Consigo vê-los redigindo um currículo muito sucinto, omitindo fatos e conquistas porque sua história completa daria um livro, mas os gurus da área dizem que o currículo só pode ter duas páginas. É preciso, então, criar uma versão pocket, algo como melhores momentos da carreira. Feito isto, lá vão eles para a entrevista, animados como uma criança visitando o zoológico pela primeira vez.

Ocorre que se externamente são maduros, internamente são apenas profissionais buscando um lugar ao sol, querendo mostrar ao mundo que a idade nunca foi impedimento para nada e que não têm culpa se tudo aconteceu tão rápido, o tempo voou: ontem eram universitários, hoje estão com 50 anos. Além do mais, quando tinham todas as respostas, alguém resolveu mudar as perguntas. Por zelo, gostam de entender o “porquê” das iniciativas; para o mercado saber “quando será o go live” é o suficiente. É, esta urgência tecnológica pode ser complicada, mas não é um enigma indecifrável.

Como diria Victor Hugo: “Quarenta anos é a velhice dos jovens; cinquenta anos é a juventude dos velhos”. Embora este currículo possa refletir 20/25 anos de experiência, para eles o baile de formatura acabou de começar. Estão lá dançando com seus pares e pensando no brilhante futuro que se descortina à sua frente. Que o mercado receba com orgulho e carinho os novos profissionais, mas não se esqueça dos talentos maduros que continuam na pista, torcendo para a música nunca parar.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Gladis Costa

Gladis Costa é profissional da área de Comunicação e Marketing, com vivência em empresas globais de TI. É fundadora do maior grupo de Mulheres de Negócios do LinkedIn Brasil, que conta com mais de 6200 profissionais. Escreve regularmente sobre gestão, consumo, comportamento e marketing. É formada em Letras, e tem pós graduação em Jornalismo, Comunicação Social e MBA pela PUC São Paulo. É autora do livro "O Homem que Entendia as Mulheres", publicado pela All Print.


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