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Tulio Duarte    |   21/10/2015   |   Qualidade e produtividade   |  

Produção x Qualidade: Como transformar a guerra em acordo utilizando o índice OEE! HoverBoards!

Nas indústrias é comum encontrar pontos de atrito entre a área de produção e a área de qualidade. A questão é: Pela natureza destas duas áreas existe este atrito, porém, como observar estes 2 aspectos ao mesmo tempo e estabelecer uma maneira de controlar e cobrar cada uma das áreas para haver produtividade com qualidade?

Hoje, de acordo com o famoso filme "De volta para o futuro" seria o dia que Martin Mcfly estaria chegando no futuro (este assunto não tem nada a ver com o artigo, mas está tão popular nas redes sociais que vou me dar o direito de aproveitar o tópico para exemplificar este artigo).

Então, em homenagem ao famoso filme "De volta para o futuro", vamos supor que você tem uma empresa de HoverBoard. Não sabe o que é HoverBoard? Vou dar uma colher de chá!

A sua empresa de hoverboards fez uma venda de 1000 itens para entrega em até 2 dias. Sua empresa tem 1 linha de produção que é capaz de fazer cerca de 500 hoverborads por dia. Ou seja, dá tempo, mas tudo tem que sair perfeito.

Vamos fazer abaixo um exercício de simular o cenário de produção

Dia 1 das 00hs até as 04hs: Nas primeiras 4 horas, sua linha de produção teve um problema e ficou 30 minutos parada. O líder de produção já fica preocupado porque terá que forçar a produção para recuperar o atraso.

Dia 1 das 04hs até as 12hs: O time de qualidade bloqueia 20 peças por problemas de qualidade, após análise decidiram por sucatear as peças pois não há recuperação. O líder de produção fica mais preocupado ainda, porque terá que cortar o tempo de ginástica laboral e horário de comida, uma vez que na prática terá que produzir 1020 peças para atender o pedido.

Dia 1 das 12hs até o fim do dia: O líder de produção contabilizou 450 peças produzidas. Falta apenas 24 horas e a produção terá que "recuperar o prejuízo".

Dia 2 das 00hs até as 12hs: Ritmo perfeito, qualidade excelente e o líder de produção já tem pronto 725 hoverboards. Faltam 275 peças e, em teoria, a linha consegue fazer 250 peças nas horas restantes.

Dia 2 das 12hs até as 20hs: A falta de tempo é crítica, muita atenção na produção para nada falhar, porém há um problema em um dos equipamentos da linha que faz uma operação e o peso da prancha está saindo 200g mais pesado. Foram feitas 15 peças com este peso acima do especificado (que é 195g). O time de qualidade começa a analisar as peças. Mesmo estando fora de especificação se conclui que não afeta a função do equipamento, ou seja, o líder de produção implora por uma liberação condicional. O time de qualidade concorda.

Dia 2 das 20hs até o fim do dia: A produção consegue atingir a meta e entregar os 1000 hoverboards bons (e mais 20 sucatas) e o pedido é atendido.

Imagina se o time de qualidade tivesse bloqueado, com razão, as 15 peças. E agora imagina quanto tensa não deve ter sido a discussão para a liberação condicional. O estresse da rotina pode tornar este momento uma verdadeira guerra.

Agora você, como dono, ou diretor industrial que quer ter acompanhamento deste fluxo diariamente, como poderia fazer para monitorar e antecipar? Como tornar momentos assim em um acordo ao invés de uma guerra? Uma das ferramentas pode ser utilizando o índice OEE (Overall Equipment Efficiency).

Não quero me alongar e me enfiar no conceito matemático deste índice, até porque já existem muitos artigos deste tipo. Quero ser mais pragmático, mostrar um ângulo que não é analisado na decisão de utilizar, ou não utilizar, o OEE.

Assim, queria que este POST fosse algo de entendimento de alto nível, por isso, ao invés de já mostrar uma fórmula matemática, prefiro colocar apenas uma breve explicação para o índice OEE, que seria:

Uma ferramenta de acompanhamento de produção que indica a eficiência produtiva considerando 3 aspectos: disponibilidade de máquina, qualidade e produtividade.

Vamos ver como o cenário acima ficaria considerando que está sendo monitorado pelo OEE? Mas antes de vermos isso, vamos apenas deixar claro que, em termos de índice OEE, para entregar o pedido seria necesário o OEE 100% durante os 2 dias.

  • Dia 1 das 00hs até as 04hs: OEE no período de 44%
  • Dia 1 das 04hs até as 12hs: OEE no período de 88%
  • Dia 1 das 12hs até o fim do dia: OEE no período de 100%
  • Dia 2 das 00hs até as 12hs: OEE no período de 104%
  • Dia 2 das 12hs até as 20hs: OEE no período de 184%
  • Dia 2 das 20hs até o fim do dia: OEE no período de 100%

Percebam então quanto decisivo foi o momento entre às 12hs e 20hs do dia 2 para que o pedido seja entregue no prazo e com qualidade?

Perceba também que houve uma "superação" neste período, onde produção trabalhou forte para corrigir o atraso e qualidade trabalhou forte para validar o produto. Ambas as áreas conseguiram chegar em um acordo no momento da liberação condicional.

Com o acompanhamento do OEE foi possível argumentar quanto importante era a análise da qualidade naquele momento. Não estou dizendo que o atraso fez com que qualidade "liberasse geral", mas ajuda a compreender quanto importante seria uma análise mais cuidadosa, em vez de um simples veto e sucateamento de peças.

Um argumento forte de produção é que o atraso nem era "culpa" de sua própria área, mas sim de manutenção, pois o OEE pode ser desdobrado nas 3 áreas e ver que o "vilão" principalmente no atraso inicial foi a área de manutenção.

Mas como assim desdobrado? Lembrando que OEE é:

OEE = Disponibilidade * Rendimento * Qualidade

Portanto, o índice pode ser desdobrano nas 3 macro áreas. O índice deixa mais claro entre as áreas a interação entre elas, e mostra que todos devem jogar juntos, no mesmo time, ao invés de se tratarem como adversários!

Agora uma perguntinha final: Há outras vantagens? Tipo, consigo uma classificação do OEE que indique o nível da linha de produção?

Sim, há outras inúmeras vantagens, vou apenas citar 2 delas:

Vantagem 1: Você consegue comparar eficiência de processos produtivos distintos.

Vantagem 2: Define a competitividade da linha de produção (e isso reflete na competitividade da empresa). Via de regra, OEE abaixo de 65% indica baixa competitividade, porque, ou você entrega atrasado, ou entrega sem qualidade. E OEE acima de 95% indica excelência em competitividade, sua empresa e seu produto valorizado.

Espero ter mostrado um pouco de aspectos poucos explorados do OEE, fugindo um pouco do trivial que é detalhar a matemática. E espero ter conseguido um exemplo simples e didático de como uma simples ferramenta pode mudar a perspectiva na produção, fazendo as áreas se unirem ao invés de brigarem e mostrando o reflexo direto na competitividade da empresa. 

Comentem aí embaixo para discutirmos mais sobre esse assunto. Valeu!

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.
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Tulio Duarte

O autor é formado em Ciências da Computação pela UFSC onde também cursou mestrado. Trabalha desde 2002 na HarboR Informática Industrial, empresa que desenvolve soluções para controle de produção e controle de qualidade. Neste período atuou em mais de 100 projetos de controle de produção e controle de qualidade para indústrias de todos os portes do Brasil e de outros países como Canadá, Estados Unidos, México, Colômbia, Chile, Uruguai, França, Itália, Eslováquia e China. É também co-fundador e atual presidente do grupo Vertical Manufatura da Acate, um grupo que aproxima empresas de tecnologia e indústria de manufatura para discutir e desenvolver soluções que visam a diminuição de custos, aumento de qualidade e produtividade, assim como o cumprimento de normas legais e diminuição de recalls.


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