Produção industrial decepciona e cresce só 0,9%

Em outubro, houve aumento na atividade, mas expansão não foi disseminada e recuperaçãoé frágil

A produção industrial subiu 0,9% na passagem de setembro para outubro, segundo IBGE. No entanto, economistas viram o crescimento como uma confirmação de que a recuperação do setor neste segundo semestre ainda é moderada. O resultado ficou abaixo das expectativas de analistas e derrubou os contratos de juros negociados no mercado futuro.

Em outubro, houve aumento na fabricação de bens intermediários e duráveis. Mas, além de não ter sido disseminada entre os setores, a recuperação em relação ao mês anterior ainda foi ajudada por uma base de comparação mais fraca (a produção tinha recuado 0,6% em setembro) e por um efeito calendário. Outubro teve três dias úteis a mais do que setembro, e como o padrão histórico é de 0,6 dia útil, a correção sazonal não anula totalmente a diferença na quantidade de dias trabalhados.
 
"A indústria está num quadro melhor, mas por enquanto isso é mais uma tendência do que uma comprovação pelos dados do período. A consistência nesse processo ainda não chegou. A recuperação está mais na confiança dos empresários e na cabeça dos economistas do que nos dados divulgados pelo IBGE", avaliou Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor do Departamento de Economia da Unicamp.
 
Fraquezas
O crescimento da indústria em relação a outubro foi puxado pela extração de minério e pela produção de automóveis. Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a expansão na produção revela "fraquezas graves", por ter sido construída em grande parte pelo avanço da indústria extrativa (8,9%), com destaque para o minério de ferro, enquanto a indústria de transformação ficou estagnada (0%).
 
"No geral, ainda não estamos em uma etapa mais favorável da produção industrial", declarou Rogério César de Souza, economista-chefe do Iedi. "É possível que este fim do ano tenha números um pouco melhores. Mas só o resultado de dezembro é que vai dizer como será o ritmo da produção no início de 2013", avalia.
 
Em outubro, a fabricação de bens duráveis cresceu 1,4% em relação a setembro. Na comparação com o mesmo mês de 2011, a alta foi de 13,6%, graças ao impulso de automóveis e eletrodomésticos da linha branca, beneficiados com redução de IPI. Enquanto a produção de automóveis subiu 23,8%, a de eletrodomésticos aumentou 11,2%.
 
Mas a perspectiva de encerramento dos incentivos e o aumento no comprometimento da renda das famílias podem prejudicar o desempenho da indústria no começo de 2013, segundo Flávio Combat economista-chefe da corretora Concórdia.
 
A indústria brasileira conseguiu recuperar de junho a outubro toda a perda acumulada de janeiro a maio. Mesmo assim, ainda está operando no mesmo patamar verificado em dezembro do ano passado, 3,4% abaixo da sua máxima histórica, alcançado em maio de 2011.
 
Por Daniela Amorim/ O Estado de S. Paulo