O renascimento da indústria naval

"Persistência e teimosia" reativaram a fabricação de navios no País, diz presidente da Transpetro

 

Um bem só tem valor quando chega até o cliente. O mundo sabe que a maneira mais prática de transportar produtos de valor agregado é por meio de navios – 80% do transporte de mercadorias hoje no mundo é feito dessa maneira. “Aproveitamos a oportunidade gerada pelas nossas riquezas naturais como o pré-sal para reativar a indústria naval brasileira”, disse o presidente da Transpetro, Sergio Machado, durante o seminário “O Poder da Energia”, realizado nesta segunda-feira (26), em São Paulo.
 
A Transpetro é uma subsidiária da Petrobras, responsável por fazer o transporte de petróleo e de seus derivados. Segundo Machado, desde a retomada da indústria naval, que começou em meados da década passada, 60 mil empregos foram gerados. “Cuidamos para que a população local seja a primeira a ser empregada nos estaleiros”, afirmou.
 
De acordo com ele, dificuldades como o alto preço do aço – responsável por 20% do custo de um navio –, falta de tecnologia, entre outras, fizeram com que o desenvolvimento nessa área ficasse travado. Com “persistência e teimosia”, as barreiras foram superadas e agora o País tem condições de ser um grande competidor desse segmento.
 
Para Machado, o incentivo à indústria naval é um exemplo de como o Brasil pode fazer para evitar ser dependende dessa commodity. “Não faz sentido viver só do petróleo, que concentra renda e poder. Não é o que queremos”, afirmou.
 
Mudança
Segundo diretor de infraestrutura da Fiesp, Carlos Cavalcanti, o País já observou, desde a descoberta dos reservatórios sob a camada de sal oceânica, uma mudança no quadro comercial do produto, pois um dos maiores clientes potenciais do Brasil - os Estados Unidos - aumentarão sua produção de gás e petróleo. "Não temos todo o tempo do mundo", afirma Cavalcanti.
 
Se o País aproveitar da forma correta o momento, contudo, os benefícios que o petróleo do pré-sal pode proporcionar terão, na opinião do diretor da Fiesp, uma escala comparável aos obtidos por ocasião da instalação da indústria automotiva nos anos 1960.
 
Cavalcanti elogiou o modelo de exploração firmado pelo governo para os poços, segundo o qual a renda gerada vai para um fundo que tem seu destino definido conforme as necessidades economicas do País. Criticou, porém, o fato de a Petrobras ser a operadora única das reservas. Segundo ele, como os valores serão, de qualquer maneira, revertidos para a nação, não há motivos para a empresa estatal estar presente em todas as extrações. "A Petrobras tem de pensar suas prioridades como uma empresa privada", diz.
 
Por João Varella/ Istoé Dinheiro