Minério barato e consumo menor derrubam lucro da Vale pela metade

A mineradora teve uma queda de 57,8% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado

 

Diante de um cenário de preços mais baixos do minério de ferro e consumo desaquecido, a Vale teve um desempenho pior no terceiro trimestre deste ano, quando seu lucro líquido atingiu R$ 3,328 bilhões, com queda de 57,8% na comparação com o mesmo período de 2011. Frente ao segundo trimestre, a retração foi de 37,4%.
 
No acumulado do ano, o lucro líquido é de R$ 15,362 bilhões, queda de 47,9% em relação ao mesmo período de 2011, segundo balanço divulgado ontem (24).
 
Na demonstração contábil seguindo padrões americanos, a queda no lucro líquido do trimestre, na comparação anual, foi ainda maior: 67,68%, de US$ 4,911 bilhões para US$ 1,587 bilhões.
 
Em comunicado, a empresa afirmou que seu desempenho "refletiu os desafios decorrentes da volatilidade dos preços em queda, que ocorre devido à desaceleração do crescimento econômico global, combinando os efeitos da demanda menor por minérios e metais com expectativas negativas".
 
A Vale afirmou, ainda, que seus principais indicadores financeiros, "apesar de enfraquecidos em comparação com o trimestre anterior", permaneceram sólidos.
 
"A mineração é fundamentalmente uma indústria cíclica e, portanto, exposta à alta volatilidade de preços. Neste ambiente e à luz das perspectivas de expansão mais moderada da economia mundial nos próximos anos, maior produtividade e custos menores serão de suma importância para prosperar em um mercado global competitivo", diz o comunicado.
 
No terceiro trimestre, a Vale gerou uma receita de R$ 22,2 bilhões, 7% abaixo dos R$ 23,9 bilhões do segundo trimestre. "O decréscimo foi resultado de menores preços realizados", diz a Vale, em nota.
 
Segundo a mineradora, a geração de caixa, medida pelo Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês), foi de R$ 7,6 bilhões no terceiro trimestre --24,9% abaixo do trimestre anterior.
 
Já o lucro operacional (que reflete o resultado de suas atividades, sem efeitos financeiros e contábeis) ficou em R$ 5,4 bilhões, 30,5% menor que no segundo trimestre. O lucro operacional teve redução de R$ 1,1 bilhão devido à provisão dos royalties de mineração (CFEM) pela mineradora.
 
Os investimentos, excluindo aquisições, atingiram US$ 4,3 bilhões no terceiro trimestre, em linha com o resultado do segundo trimestre, e cresceram 8,4% no acumulado do ano --US$ 12,3 bilhões em 2012, ante US$ 11,3 bilhões no ano passado.
 
Projetos
A Vale informou que o principal foco na execução de seus projetos é em ativos com longa vida, baixo custo, produção de alta qualidade e capacidade de expansão, como Carajás S11D e Moatize. "Neste contexto, a diversificação ainda é prioridade estratégica, desde que o investimento em ativos fora do minério de ferro se prove capaz de criar valor significativo."
 
A mineradora ainda informou que a venda de ativos que não acrescentam valor deverá melhorar a alocação de capital e liberar fundos para ajudar no financiamento de investimentos. Também disse que desenvolve iniciativas para reduzir custos, aumentar a produtividade, melhorar a qualidade e ampliar a rede de distribuição global.
 
"As mais importantes são a execução de projetos com base nas reservas de alta qualidade de Carajás Adicional 40 Mtpa, Serra Sul S11D, o start-up de produção da mina de N5 Sul em Carajás, com teor de ferro de 67,1%, e o uso de tecnologia para combater os efeitos do envelhecimento dos recursos minerais nos sistemas Sul/Sudeste", afirmou.
 
Ainda no comunicado, a Vale afirmou que irá continuar se beneficiando em um cenário de crescimento e transformação estrutural das economias emergentes.
 
Segundo trimestre
No segundo trimestre deste ano, a Vale já havia registrado queda no lucro, de 48,3% - para R$ 5,3 bilhões -, em relação ao mesmo período de 2011. Na comparação com o primeiro trimestre de 2012, a queda havia sido de 20,9%.
 
Naquela ocasião, a mineradora atribuiu o forte impacto à desvalorização do real frente ao dólar. Em comunicado ao mercado, a Vale classificou seus resultados como robustos "em face aos desafios de um ambiente de preços mais baixos e problemas operacionais em ativos de metais básicos e carvão".
 
A receita operacional caiu 2,3% - para R$ 23,9 bilhões - no segundo trimestre ante o primeiro, com crescimento de 14,9% nos embarques de minério de ferro no período (63 milhões de toneladas).
 
Segundo a empresa, a valorização do dólar americano ante o real, o dólar canadense e outras moedas, que representam cerca de 80% dos seus custos operacionais, contribuiu favoravelmente para o fluxo de caixa.
 
Dois dias antes da divulgação do balanço referente ao período de abril a junho, a Vale anunciou a saída do diretor financeiro, Tito Martins, da empresa. Martins estava na mineradora desde 1985.

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