CSN mira o mercado da construção

A Companhia quer começar a vender aços longos para ampliar sua participação no mercado de infraestrutura

O empresário Benjamin Steinbruch vai entrar em uma seara de negócio que no Brasil é dominada há décadas por Jorge Gerdau, pelos Ermírio de Moraes, da Votorantim, e pela gigante ArcelorMittal, que sucedeu a antiga Belgo-Mineira. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), presidida por Steinbruch (também o maior acionista), quer iniciar a venda de aços longos para ampliar sua participação no mercado da construção imobiliária e de insfraestrutura. E, com isso, roubar uma fatia dessas tradicionais concorrentes.

Hoje, a CSN disputa espaço com aço transformado em telhas e chapas para revestimentos de edifícios, residências e galpões. O plano é quase dobrar suas vendas para o setor da construção ao iniciar o despacho de vergalhões - produto típico da construção - a partir de junho de 2013 e oferecer mais produtos fabricados com aço plano. No ano que vem, espera pôr em operação a fábrica de aços longos também em Volta Redonda (RJ), onde até agora fabrica os aços laminados planos.

Desde janeiro, a CSN vem ganhando experiência nesse negócio. Por R$ 1,1 bilhão, adquiriu a SWT, uma siderúrgica de aço longo instalada na Alemanha, apta a fazer 1 milhão de toneladas de produtos finais ao ano. É o dobro da capacidade da brasileira.

A meta da CSN é estar presente com seu material desde a fundação e o alicerce de uma obra até a fachada e o topo do edifício, conta Luiz Fernando Martinez, diretor-executivo comercial da empresa. A estratégia é atuar com vendas diretas, centros de distribuição e até uma extensa rede varejista de produtos de aço e outros materiais de construção.

Só para lembrar, desde 2009 a CSN é fabricante também de cimento, outro material básico da construção, cujo maior produtor brasileiro é o grupo Votorantim. "A empresa está cada vez mais se posicionando para atender a construção, onde há uma clientela pulverizada e ganha corpo no Brasil o sistema construtivo industrializado", diz o diretor.

A construção imobiliária (residencial, comercial e industrial) e de infraestrutura é um dos mercados mais atrativos para fabricantes de aço. De toda a venda de aço longo no país por usinas locais, que somou 10 milhões de toneladas em 2011, 78% são consumidos por obras desse segmento consumidor. Já do volume de aço plano - mais de 12 milhões de toneladas -, apenas 22% foram para a construção. A maior parte se destina aos mercados automotivo, de máquinas e equipamentos, bens de linha branca, tubos e embalagens.

Na média, o mercado da construção absorveu no ano passado 37% de um volume comercializado que, sem considerar importações, atingiu 23,6 milhões de toneladas, segundo dados da CSN e do Instituto Aço Brasil (IABr).

A meta da CSN, explicou Martinez, é que o aço destinado a esse mercado passe dos atuais 20% de suas vendas totais para 35% em dois anos. No ano passado, isso significou 900 mil toneladas.

A empresa está se estruturando em três frentes de atuação para atacar esse mercado: duas delas com os dois tipos de aço e a terceira com o cimento. "Teremos condições de fornecer até 60% do total dos materiais usados em uma obra - de cimento e vergalhão até perfis, telhas, chapas de revestimento, telas para laje e material para piso", garante o diretor.

A siderúrgica, que se diversificou bastante - desde minério de ferro - hoje sua atividade de maior rentabilidade - cimento, logística portuária e ferroviária e geração de energia - tem como estratégia também pulverizar seus mercados de atuação.

Martinez destaca que nos últimos ficou muito mais difícil ganhar dinheiro simplesmente produzindo aço. E que um dos caminhos é diversificar e cada vez mais oferecer serviços aos clientes, como material cortado e dobrado.

Clientes da construção vão ganhar da empresa mais oferta, por exemplo, de aço pré-pintado, feito na unidade da CSN Paraná. Com investimento de até R$ 150 milhões, a siderúrgica para dobrar a produção desse material. Nesse mercado é usado em telhas e revestimentos e a CSN é a única fabricante do país. Hoje, a capacidade é de 100 mil toneladas ao ano. Das vendas, 80% vão para o mercado da construção. A nova linha será toda dedicada a esse setor.

A fábrica de aço longo de Volta Redonda terá capacidade para 500 mil toneladas por ano de vergalhão (80%) e fio-máquina. É um projeto que terá investimento total de R$ 1,2 bilhão quando ficar pronto. Com a SWT, passa a ter uma capacidade de 1,5 milhões de toneladas nesse segmento. A empresa tem planos de instalar mais uma ou duas unidades de aços longos no país. Todavia, não tem data nem local definidos. Pode ser mais uma no Sudeste e uma terceira na região Nordeste.

Atualmente, a fábrica de Volta Redonda da CSN conta com capacidade instalada para produzir 5,6 milhões de toneladas de aço plano por ano.

No cimento, a CSN já produz 2 milhões de toneladas em Volta redonda e Arcos (MG). Tem uma atuação regional (RJ, SP, ES e MG), atendendo uma gama de 8 mil clientes. Com planos de expansão nessas unidades, até 2014, prevê chegar a 5 milhões de toneladas. No longo prazo, a empresa chegar a falar 11 milhões de toneladas, com duas novas fábricas: uma no Sul e outra no Nordeste.

Por Ivo Ribeiro/ Valor Econômico


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