Setor manufatureiro global é atingido pela desaceleração

A desaceleração econômica global finalmente está afetando a produção das maiores potências industriais do mundo

O setor manufatureiro dos Estados Unidos encolheu em junho pela primeira vez desde julho de 2009, o primeiro mês da fase de recuperação do país, informou ontem o Institute for Supply Management (ISM). As exportações caíram drasticamente e o volume de novos pedidos - uma indicação da atividade futura - caiu ao ritmo mais rápido desde o mergulho registrado em outubro de 2001, logo depois do atentado que destruiu o World Trade Center em 11 de setembro.

O relatório é a evidência mais forte até agora de que o pessimismo econômico da Europa e a desaceleração do crescimento na China estão prejudicando o setor manufatureiro americano, que têm sido um dos maiores propulsores da recuperação iniciada em meados de 2009. Dados separados mostraram que as exportações americanas caíram em abril pela primeira vez desde novembro e, na semana passada, o governo americano revisou para baixo suas estimativas para o crescimento das exportações no primeiro trimestre.
 
Enquanto o tempo fecha ainda mais para a indústria americana, surgem novos sinais de que o resto do mundo também perde força. Na segunda-feira, novos indicadores mostraram que a atividade manufatureira na zona do euro repetiu em junho a trajetória de declínio que já dura meses. Até a maior e mais forte economia do continente, a alemã, recuou ao ritmo mais acelerado em três anos. A produção industrial caiu também na China, a segunda maior economia do mundo - dependendo da fonte da informação, está crescendo menos ou já entrou em queda. Na Coreia do Sul e em Taiwan, a indústria fabril entrou em contração.
 
"Essa, provavelmente, é a prova mais definitiva de que a recessão econômica europeia e a crise mundial estão afetando a economia americana", disse Michael Feroli, economista do J.P. Morgan Chase & Co. "Acho que agora estamos começando a sentir o contágio".
 
O indicador da atividade manufatureira nos EUA elaborado pelo ISM com base na sondagem de gerentes de compras de todo o país caiu para 49,7 em junho - de 53,5 em maio. Menos de 50 significa contração da atividade. Economistas esperavam um recuo menor, para 52.
 
Mais inquietante ainda foi a queda no índice de novas encomendas ao ritmo mais rápido em mais de uma década, de 60,1 para 47,8. Novos pedidos de exportações, em particular, caíram para 47,5, ante 53,5 em maio.
 
Muitos dos setores que tiveram contração nos EUA - incluindo o de petróleo, plásticos e produtos químicos - produzem produtos ligados a commodities, cuja cotação teve enormes quedas em virtude da desaceleração do crescimento na China, grande consumidora de recursos naturais.
 
"A indústria pisou no freio por um mês, sinal da incerteza maior sobre o que está por vir", disse Brad Holcomb, presidente do comitê que prepara o boletim da atividade manufatureira.
 
A crise na Europa e a desaceleração da China estão derrubando a demanda mundial de bens e serviços americanos, levando a indústria dos EUA a evitar aumentos na produção e investimento.
 
A vacilante economia do país - e temores sobre o futuro da política fiscal - também parecem estar deixando outras empresas nervosas, dizem economistas.
 
A Média Industrial Dow Jones caiu ontem 0,1%. Um índice mais amplo do mercado acionário, o Standard & Poor's 500, avançou 0,3%. O euro caiu 0,7% em relação ao dólar, para US$ 1,2585. A reação pessimista do mercado se segue à festa de investidores na semana passada, quando a União Europeia divulgou um novo pacote para tentar desarmar a crise da dívida soberana do bloco.
 
Holcomb, do ISM, sugere moderação na interpretação do relatório de um único mês e observou que, embora ele sugira que o setor manufatureiro esteja em contração, o índice de junho também revela que a economia americana como um todo até aqui não voltou a entrar em recessão. Isso dito, a notícia ruim alimentou rumores de que o banco central americano (o Federal Reserve) e outras autoridades mundiais venham a intensificar esforços para promover a recuperação, oferecendo mais estímulo na forma de juros mais baixos. Dirigentes do Fed já disseram que apoiariam novas medidas se estivessem convencidos de que os EUA não estavam fazendo progresso suficiente na redução do desemprego.
 
O resfriamento da economia também está atingindo o mercado de trabalho do país, onde o crescimento do emprego já caiu bastante em relação ao início do ano. Na sexta-feira, a produtora de carvão Consol Energy Inc. anunciou que vai paralisar a produção em uma de suas minas e demitirá 318 trabalhadores devido, em parte, à economia titubeante.
 
Para empresas que produzem nos EUA e vendem na Europa, a crise do euro foi um duplo golpe: não só houve queda da demanda na região devido à debilidade da economia, mas o euro caiu em relação ao dólar, tornando produtos americanos menos competitivos no exterior.
 
O faturamento da fabricante de motocicletas Harley-Davidson Inc. na Europa caiu no início de 2012, pois a crise da dívida derrubou a confiança do consumidor e o euro em queda elevou os preços. "Já que tudo que mandamos para a Europa é fabricado aqui [nos EUA], o câmbio tem, sim, um forte impacto", disse John Olin, diretor financeiro da Harley-Davidson, a investidores na semana passada.
 
 
 

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