Exportação de manufaturados mantém dependência dos EUA

A exportação da indústria brasileira de transformação ainda é altamente dependente dos Estados Unidos. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), de 14 setores levantados, os americanos são os principais compradores de cinco segmentos - metalurgia, mecânica, madeira, minerais não metálicos e calçados - e são o segundo destino mais importante para outros sete setores - material de transporte, química, celulose e papel, material elétrico, eletrônico e de comunicação, borracha, vestuário e mobiliário.

Os americanos são os principais compradores de segmentos como o de metalurgia e também o de mecânica, que estão entre os que mais exportam. Nas exportações do setor de metalurgia, que vendeu de janeiro a julho US$ 12,8 bilhões ao exterior, os Estados Unidos representam fatia de 20,7%, bem à frente da Holanda, com 9,7%. No setor de material mecânico, que inclui também bens de informática, os americanos representam 19,2% da exportação brasileira de US$ 7,59 bilhões acumulada neste ano até julho.

Com a expectativa atual de crescimento econômico mais lento do que se esperava para os Estados Unidos, a grande dependência em relação aos americanos deve significar expansão muito limitada nas vendas de manufaturados ao exterior, diz Sílvio Campos Neto, economista da Tendências. Ele lembra que a consultoria revisou sua estimativa de crescimento da economia americana. A projeção de crescimento de 2,5% do PIB para 2011 e de 3% para o ano que vem valeu até o fim do primeiro semestre. Atualmente, a estimativa baixou para 1,5% este ano e 2% para 2012.

Mesmo em segmentos em que não são o principal destino, os americanos são compradores importantes. No setor químico, por exemplo, a Argentina lidera a compra dos embarques brasileiros, com 15%, mas os americanos vêm colados, com 14,4%. Nas exportações de celulose e papel, a China aparece como o principal comprador de janeiro a julho, com 18,1%. Os americanos têm fatia de 15,6%.

Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, lembra que tradicionalmente a exportação brasileira de manufaturados é maior para os Estados Unidos do que para outras regiões. O que movimenta e mantém essas vendas, diz, é o comércio intrafirma. "Isso cria um vínculo grande com a economia americana e resulta em um fluxo contínuo de exportação para os Estados Unidos. Essas vendas caem quando as operações internas no mercado americano também caem."

O problema, diz, é que em função da desaceleração econômica americana, as exportações brasileiras para os EUA caíram ou ficaram praticamente estagnadas. "O Brasil acabou perdendo um pedaço dessas exportações e não conseguiu recuperar em razão do câmbio e da concorrência asiática."

Os manufaturados perderam espaço na pauta de exportação brasileira aos americanos. Em 2005, eles representavam 71,2% dos embarques aos Estados Unidos. No ano passado, a fatia caiu para 51,7%. De janeiro a junho deste ano houve recuo para 44,2%.

Barral acredita que as trocas intrafirma vão contribuir para manter o nível de comércio entre Brasil e Estados Unidos, mas com a nova crise global diminui a expectativa de recuperação das vendas aos americanos e também das exportações de manufaturados.

Campos Neto diz que o quadro reafirma a expectativa de que os produtos básicos continuem a sustentar saldos comerciais positivos do Brasil. Ele lembra que a Argentina, outro destino importante da exportação de manufaturados brasileiros, também deve ter crescimento desacelerado em 2012.

A Argentina é um importante comprador de manufaturados brasileiros em áreas como material de transporte. O segmento exportou US$ 9,14 bilhões nos primeiros sete meses do ano, dos quais 49% foram embarcados ao país vizinho. A Argentina é o principal destino de outros seis setores: vestuário, têxtil, mobiliário, químico, borracha e materiais elétricos e eletrônicos.

Campos Neto diz que o sócio do Mercosul deverá crescer 6% em 2010, depois de ter alcançado 9% no ano passado. Para o próximo, a Tendências prevê crescimento ainda menor, de 4%. O problema, diz, não está apenas na desaceleração econômica. "A Argentina tem conseguido manter um saldo de conta corrente positivo nos últimos anos, mas já há uma previsão de que esse resultado torne-se negativo no ano que vem."

Para ele, esse quadro de saldo negativo, assim como a intensificação de outros desequilíbrios, como uma inflação maior que a oficial, provavelmente fará com que o governo argentino tome medidas para restringir ainda mais as importações. "Isso provavelmente atingirá as vendas do Brasil." Desde 2004, o Brasil mantém superávit comercial com a Argentina. Em 2010, o saldo foi de US$ 4 bilhões.


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