Uso eficiente é fundamental para o período de mudança da matriz

Os atuais investimentos em fontes renováveis de energia, como a eólica, a solar e a hidráulica, que deverão dobrar até 2035, não serão suficientes para reduzir as emissões globais de carbono no ritmo que o planeta exige.

Nada menos que 80% do abastecimento energético provém da queima de combustíveis fósseis, principal emissor de gases do efeito estufa. E tudo leva a crer que a humanidade permanecerá dependente desta fonte por décadas. De acordo com projeções da Agência Internacional de Energia (AIE), mesmo com as políticas para promover fontes limpas, o crescimento da demanda global de energia até 2050 aumentará duas vezes e meia as emissões de carbono em relação aos níveis atuais.

"A maior esperança para uma redução significativa de carbono é o uso mais eficiente de energia", analisa Joseph Hogan, presidente mundial da empresa ABB, que globalmente atua na área de automação e sistemas para aumento de eficiência. Segundo relatórios da AIE, as mudanças no padrão de uso - e não tanto a substituição de fontes sujas por limpas - têm maior condição de diminuir o lançamento de dióxido de carbono na atmosfera nos próximos 25 anos do que todas as outras opções juntas. A economia no consumo pode representar a metade dos cortes de emissões necessários para este período.

De acordo com Hogan, com maior eficiência é possível obter mais energia disponível sem construção de novas usinas e redes de distribuição, reduzir poluentes e economizar recursos financeiros. "Mas a energia é ainda muito barata para tornar a eficiência energética uma solução economicamente atraente", afirma. No caso das economias maduras, com parques industriais estabelecidos, há resistência em absorver o custo de novas instalações mais modernas e energeticamente eficientes antes de as antigas chegarem ao fim da vida útil.

De acordo com o estudo "The Stade of Global Energy Efficiency", patrocinado pela ABB, em 2009 o Brasil foi o país que menos emitiu carbono na geração de energia, à frente da França, Canadá e Rússia. O espaço para oportunidades para redução de emissões é maior em regiões de economia baseada em fontes não renováveis. Na Europa, ganhos com crédito de carbono podem representar 30% dos investimentos na eficiência energética.

O setor industrial consome cerca de 42% do total da eletricidade gerada no mundo, segundo a IEA, com concentração nos setores de cimento, química, metalurgia e siderurgia. "O potencial de economia de energia na indústria, somente nos sistemas motorizados, é enorme", diz Hogan. As máquinas são muitas vezes superdimensionadas e consomem além da necessidade. Em muitas aplicações, o consumo pode ser reduzido em oito vezes, apenas ajustando a velocidade do motor à metade.

Novas normas da União Europeia para eficiência energética de motores industriais, em vigor desde junho, deverão resultar na economia de 135 TWh de eletricidade por ano até o final desta década. Isso equivale a uma geração anual de 22 reatores nucleares. Em termos financeiros, a medida representará um ganho total de € 12 bilhões por ano para as indústrias europeias, levando-se em conta os preços atuais de energia.

Hogan destaca o exemplo do Japão, a maior economia do mundo em eficiência energética, na qual o papel do governo tem sido decisivo. Uma combinação de normas, incentivos, impostos, sistemas de rotulagem e metas obrigatórias, desenvolvida desde a década de 1970, tornaram a produtividade japonesa duas vezes maior em relação aos Estados Unidos. Parceria de longo prazo com empresas viabilizaram investimentos.
 
"A eficiência é a solução para a falta de fontes para geração de energia no país", explica. No programa "Top Runner", o produto mais eficiente no mercado se torna a nova referência - ou seja, os demais devem alcançar o mesmo padrão dentro de um determinado prazo. Se a meta não for atingida, é alto o risco para a imagem da marca ou da empresa.


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