China reduz meta de crescimento em prol do meio ambiente

A China vai reduzir sua meta de crescimento anual para 7% no Plano Quinquenal 2011-2015, que será aprovado em meados de março, afirmou ontem o primeiro-ministro Wen Jiabao. O objetivo de Pequim é buscar um modelo de desenvolvimento mais sustentável, menos poluente e mais inclusivo socialmente.

A meta funciona mais como um piso do que como um alvo a ser perseguido pelas autoridades chinesas. O Plano Quinquenal que vigorou no período 2006-2010 previa crescimento de 7,5%, bem inferior à média anual de cerca de 10% registrada no período.

Mas a redução sinaliza a intenção do Partido Comunista de obter mais qualidade e menos quantidade no padrão de desenvolvimento do país. "Nós nunca vamos buscar um alto índice de crescimento econômico com o sacrifício do meio ambiente, pois isso resultaria em crescimento insustentável, com excesso de capacidade industrial e consumo intensivo de recursos naturais", declarou Wen em conversa com internautas chineses na manhã de ontem.

Apesar dessas declarações, o sacrifício do meio ambiente é um dos preços que a China ainda paga pelo alto ritmo de expansão registrado nos últimos 30 anos, com poluição de rios, chuva ácida e contaminação da terra usada por camponeses.

A conversa de Wen com os internautas coincidiu com mais uma tentativa de organização de protesto contra o governo nos moldes da Revolução do Jasmim que varre o mundo árabe. Pelo segundo domingo consecutivo, a tentativa foi frustrada pela fraca adesão e a forte mobilização das forças de segurança.

Inflação
O primeiro-ministro prometeu combater a inflação e a alta no preço dos imóveis, dois dos principais itens que alimentam a crescente insatisfação dos chineses. O Índice de Preços ao Consumidor alcançou 4,9% em janeiro, impulsionado principalmente pelos alimentos, que ficaram 10,3% mais caros.

"O aumento de preços afeta não apenas a vida das pessoas, mas também a estabilidade social", reconheceu Wen. Os imóveis sobem há meses de maneira persistente e muitos analistas acreditam que o setor está envolto em uma bolha especulativa.

Em conversa online realizada há exatamente um ano, o primeiro-ministro já havia prometido conter a especulação que infla o preço dos imóveis, mas não conseguiu. A alta é ininterrupta desde junho de 2009 e atingiu o recorde de 12,8% em abril de 2010.

A especulação no setor imobiliário transforma a compra de uma casa em sonho cada vez mais distante para os integrantes da classe média que precisam de um imóvel para viver e não para investir sua poupança.

Combate à corrupção, melhoria da rede de seguridade social e ampliação dos serviços médicos foram outros tópicos tratados por Wen - a terceira conversa via internet que ele tem desde 2009, sempre na véspera do encontro anual do Congresso Nacional do Povo, que começa no dia 5 de março e no qual o Plano Quinquenal será aprovado.

"Tenho visto que em alguns lugares a construção urbana é muito rápida, mas quando você caminha, vê ruas e casas rurais miseráveis e alguns camponeses são pressionados a pagar a contribuição escolar de 100 yuans para o aquecimento das escolas", ressaltou o primeiro-ministro. A renda per capita líquida na zona rural foi de 5,9 mil yuans (R$ 1,49 mil) em 2010.

Dentro do espírito do novo Plano Quinquenal, Wen defendeu mudança no critério de avaliação dos dirigentes locais do Partido Comunista, focado no índice de crescimento econômico. "O critério supremo para medir sua performance deve ser se as pessoas estão felizes e satisfeitas, mais do que arranha-céus." Mas a expansão econômica é a principal fonte de legitimidade do Partido Comunista e líderes locais resistem em abandonar a ênfase no crescimento.


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