Projeto transforma plástico usado em plástico novo

Pesquisadores desenvolvem método inédito para reciclagem do material, minimizando danos ao meio ambiente

Do plástico usado ao plástico novo. Pensando em minimizar os efeitos ambientais negativos do excesso de plástico descartado sem critérios pela sociedade, pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) desenvolveram uma nova técnica de reciclagem desse material. Testes realizados no Laboratório de Modelagem, Simulação e Controle de Processos da instituição mostraram que é possível criar resinas plásticas produzidas a partir do reaproveitamento de até 40% de material plástico já utilizado.

O método escolhido pela equipe foi a reciclagem com produção in situ, que possibilita incorporar materiais plásticos usados a plásticos virgens no próprio ambiente da reação química. Por meio da polimerização em suspensão, foram realizadas misturas moleculares de poliestireno reciclado e de poliestireno virgem, usando copos descartáveis. “A técnica é simples. Basicamente dissolvemos o plástico usado numa solução com reagentes e depois adicionamos o material direto no reator para fazer mais plástico”, diz o professor José Carlos Pinto, responsável pelo projeto.

Ao contrário de outras técnicas de reciclagem, como a mecânica, esse método mantém a qualidade do produto final, pois a adição de plásticos reciclados não interfere no andamento da reação química de polimerização. “O plástico usado foi reincorporado como matéria-prima do processo sem grandes transformações químicas. As propriedades finais do produto são similares às propriedades dos polímeros não-reciclados”, assinala.

Além de copos descartáveis, a técnica pode ser empregada com outras famílias de materiais à base de poliestireno, de poliacrilatos, de polimetacrilatos e de poliacetatos, como aqueles utilizados para fabricar capas de CD, isopor, interiores de geladeira e carcaças de televisão, entre outros produtos. “O próximo passo é testar a técnica com cargas de isopor recicladas. O isopor não é biodegradável, mas pode ser facilmente reciclado e utilizado para fabricar isopor novo”, adianta José Carlos.

A Coppe já encaminhou ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) a solicitação de patente para a nova técnica, que poderia ser facilmente incorporada ao setor produtivo para uso em escala industrial, devido ao seu baixo custo. “Para as fábricas se adaptarem a essa tecnologia, precisariam apenas fazer pequenos ajustes, como adicionar na linha de produção um recipiente para misturar o plástico reciclado com os reagentes”, explica.

Impactos da reciclagem
De acordo com o professor José Carlos Pinto, a reciclagem é a melhor resposta diante do debate sobre usar ou não usar o plástico. “A questão maior não é se devemos usar ou não o plástico, mas o que devemos fazer com ele depois do seu ciclo de uso”, destaca o engenheiro químico, lembrando que o plástico deve ser tratado como uma matéria-prima potencialmente reutilizável, e não como lixo.

O professor ressalta os impactos ambientais positivos da transformação de plástico em plástico. “A reciclagem contribui para reduzir a quantidade de material descartado no meio ambiente, pois o utiliza como matéria-prima para produzir novos materiais plásticos. Ao ser reciclado, se economiza o petróleo que seria utilizado para fazer plástico novo e isso certamente contribui para a redução da emissão de carbono na atmosfera”, diz.

A reciclagem do plástico também pode resultar em consideráveis impactos econômicos e sociais. “A reciclagem pode estimular a valorização econômica dos resíduos plásticos. Eles têm baixo valor agregado, apesar de serem derivados do petróleo, e por isso são facilmente descartados pela população”, avalia. “Ela também pode gerar empregos por incentivar a coleta seletiva de plástico por cooperativas de catadores de lixo”.  

Plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares chamadas polímeros, que por sua vez são formadas por moléculas menores, chamadas monômeros. Estima-se que no Brasil pelo menos 2,2 milhões de toneladas de plástico pós-consumo (descartados após o uso) se acumulam anualmente, segundo dados da Plastivida Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos – entidade que representa institucionalmente a cadeia produtiva do setor para divulgar a importância dos plásticos na vida moderna e promover sua utilização ambientalmente correta.

Além do professor José Carlos Pinto, fazem parte da equipe os alunos Caio Kawaoka e Carlos Castor. Eles dedicaram as suas dissertações de mestrado ao tema. O estudo foi contemplado pelos editais Cientista do Nosso Estado e Estudos e Soluções para o Meio Ambiente, da Faperj.


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