A indústria nacional sendo levada à importação

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No primeiro trimestre deste ano as importações para uso das indústrias alcançaram o nível recorde de 17,7% da produção industrial. O recorde anterior, registrado no quarto trimestre de 2008, fora de 17,2%. Essas importações somaram US$ 41,9 bilhões no quarto trimestre de 2008 e US$ 38,3 bilhões no primeiro trimestre de 2010. Estamos diante de um processo de desnacionalização da indústria brasileira.

Essa tendência, que só podemos lamentar, não parece ser ditada pela procura de produtos industriais mais sofisticados, mas, antes de mais nada, pelo fator preço. O valor do bem importado é muito menor do que a indústria nacional pode oferecer, apesar de incluir os custos de transporte, e a valorização do real ante o dólar contribui para aumentar a diferença.

É necessário que órgãos do governo estudem seriamente as causas da preferência dos produtos importados pela indústria. Se realmente se constatar que se trata de uma preferência ditada pela qualidade dos produtos, ou por seu conteúdo de inovação maior do que nos produtos brasileiros, caberia ao governo ajudar a indústria nacional a aumentar os dispêndios na melhoria dos produtos que fabrica.

No entanto, se a preferência decorre do fato de que os produtos importados, apesar dos gastos com transporte, se mostram mais baratos que os produtos nacionais, caberia então encontrar as razões dessa discrepância, que pode ter origem seja nas economias de escala com uma produção de massa maior, seja no custo da mão de obra muito menor, seja numa carga tributária inferior, seja no financiamento do produto importado em condições excepcionais de juros e prazos.

Se a razão dessa diferença for claramente identificada, será mais fácil encontrar uma solução para eliminar um problema que coloca em xeque o futuro de nossa indústria e que afeta também nossa capacidade de concorrência no mercado internacional. Acreditamos que o problema da carga tributária deve aparecer como uma das principais agravantes do problema. Os outros fatores, embora importantes, não são capazes de explicar a diferença de preços entre o produto importado e o nacional.

Durante a recente crise mundial tivemos a experiência do efeito da isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre o volume de vendas no varejo. Talvez tivesse sido mais eficiente eleger um outro imposto pago pelos produtores industriais que, assim, não seriam atraídos para os importados e ainda poderiam competir lá fora com eles.


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