Acordo agora está nas mãos dos líderes

Rascunho de acordo será apresentado hoje; meta dos EUA e falta de dinheiro são os entraves


"Quando pessoas lideram, líderes seguem" diz a campanha do movimento Hopenhagen, um trocadilho que faz de Copenhagen uma esperança (hope) de um mundo melhor

Na manhã de hoje a presidente da CoP-15, Connie Hedegaard, apresenta um documento à plenária de ministros e líderes que já estão em Copenhague. Ao abrir os trabalhos, perguntará se eles aceitam discutir o documento. Se a resposta for positiva, e for possível aparar algumas arestas, pode ser o início do acordo de Copenhague.

Há, evidentemente, muitos pontos em aberto e não se sabe qual o formato que a presidente da CoP dará ao seu texto. Os problemas são os de sempre e se relacionam às metas redução das emissões de gases-estufa e ao dinheiro.

Connie usará como base o documento do LCA, sigla que reúne todos os trabalhos dos últimos dois anos, desde a conferência de Báli, feitos pelos países que assinam a Convenção do Clima. É neste fórum que se incluem os EUA. O outro fórum é dos países que assinaram o Protocolo de Kyoto. Ali, como se sabe, deveriam definir novas e mais ambiciosas metas de redução de gases-estufa para 2013 até 2020 - e não há nenhum avanço.

O maior nó do novo documento é exatamente a inclusão dos EUA no jogo. O documento precisa definir a meta dos EUA. Se aparecer menos de 25% a 40%, o recomendado pelos cientistas do IPCC, os europeus não aceitarão. Se for mais que os 17% oferecidos, quem vai brecar serão os EUA. O presidente Barack Obama tem telefonado aos principais líderes para acertar posições. Ele tem uma margem de manobra interna estreita, pela resistência no Congresso dos EUA.

"Este é o maior dos imbróglios", diz Tasso Azevedo, consultor do Ministério do Meio Ambiente. "Maior até que o financiamento." A opção é fazer os EUA se comprometerem com metas maiores entre 2020 e 2030, quando terão mais fôlego para dirigir sua economia para um caminho verde. O negociador americano, Todd Stern, disse ontem, com todas as letras, que os EUA não elevarão sua meta de corte de emissões de 17% em 2020, com base em 2005. Isto dá 3% a 4% em relação a 1990. O compromisso europeu é de, no mínimo 20% de corte. Stern tenta convencer a todos que a meta americana se compara ao esforço europeu. O problema é que ninguém acredita.

O financiamento é crucial para os países africanos. Os países ricos oferecem US$ 30 bilhões nos próximos 3 anos, como verba de curto prazo. "Os africanos dizem que não se mexem se não houver compromissos de longo prazo e que possam ser medidos, verificados e obrigatórios", diz Azevedo.

Os outros nós têm a ver com metas. Os países-ilhas pedem esforço para garantir que o aumento de temperatura não supere 1,5ºC. Todos se sensibilizam com a proposta, mas é difícil que ela seja aceita. Isto significaria cortes de emissões de 85% a 95% em 2050. Brasil e França concordaram, por exemplo, com 50% de corte de emissões globais no meio deste século.

Talvez o ponto mais fácil de acertar seja quando deve ocorrer o pico de emissões e depois cair. O texto pode colocar algo entre 2015 e 2020 e agradar a todos.

O texto deve citar todos os outros temas que estão em negociação, de transferência de tecnologia a capacitação, passando por Redd e financiamento. Naqueles em que os grupos técnicos não chegaram a consenso, a maioria dos temas, o documento poderá dizer que tal tópico será definido em 2010.

A discussão de Redd, o mecanismo de redução de emissão no desmatamento, que estava avançada, recuou ontem. O texto, nos pontos polêmicos, tem duas opções para a escolha dos ministros. "Isso, em negociação, equivale a dizer que os técnicos estão pedindo empate", diz Azevedo. O pomo da discórdia é se Redd terá uma moldura nacional (como quer o Brasil) ou subnacional (como querem os EUA).