A influência do câmbio na importação de máquinas

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Um aspecto da importação de máquinas para o setor produtivo que nunca foi muito bem compreendido é a relação existente entre o câmbio e o mercado comprador nacional. Qual é a influência entre o valor do real frente ao dólar e a decisão de uma determinada empresa de comprar uma máquina importada. Parece natural que o fator custo seja determinante, mas não é bem assim.

Obviamente, o real valorizado representa a aquisição de um bem (em reais) igualmente mais valorizado; e o inverso também é verdadeiro. Ocorre, porém, que ninguém compra um centro de usinagem, um torno, uma máquina de corte, uma injetora de plástico ou qualquer outro maquinário de produção para estocar ou porque o bem "está mais barato".

Compra porque precisa e vai ganhar dinheiro com esta aquisição. Seja aumentando a produtividade, melhorando a eficiência ou reduzindo custos, o fato é que o industrial sabe que aquela máquina vai trazer aumento de lucros – e por isso, ele compra. Assim, o custo do equipamento não é o fator predominante. Quem decide a compra é o mercado: se há demanda pelo produto que a máquina faz, e não há máquina suficiente no país, o empresário vai buscá-la onde ela estiver.

Além da demanda para produção, o custo da máquina tem relação direta com a modernização do parque industrial. Quando o câmbio é favorável à importação, o empresário aproveita para dotar sua fábrica de equipamentos mais atuais e tecnológicos, capazes de melhorar a sua competitividade.

Com o real valorizado, diminui o custo da máquina importada, tornando-a mais atraente para o fabricante nacional. Hoje as máquinas feitas no Brasil usam 50% de componentes importados, por isso o fabricante nacional também é muito sensível às variações do dólar.

Na verdade, existem dois tipos de compradores de máquinas importadas no Brasil: os que fabricam para atender o mercado interno e os que produzem para exportação. No mercado interno, a compra de máquinas depende da economia: se o país cresce, a importação de máquinas também cresce, porque só as máquinas nacionais não dão conta de atender a demanda por bens duráveis.

Já o exportador só compra máquinas importadas se tiver um câmbio de dólar que lhe permita vender o seu produto lá fora. Um bom exemplo é a indústria de sapatos, que depende do dólar valorizado para manter-se competitiva.

Assim, para o importador de máquinas, o ideal é um câmbio de equilíbrio, que permita não só a exportação de produtos acabados, como seja interessante para o fabricante nacional, na sua decisão de comprar máquinas estrangeiras. Para a Abimei, esse câmbio fica em torno de US$ 2,40. O recente ciclo de crescimento econômico mundial, que levou os importadores de bens de capital a aumentos sucessivos no volume de negócios, foi interrompido em outubro de 2008 – quando praticamente o mundo inteiro foi paralisado pela atual crise.

Hoje, não temos para quem importar máquinas, porque o fabricante nacional não tem para quem produzir e o exportador não tem para quem exportar. Mas acreditamos que ainda vamos encerrar 2009 com os mesmos valores de 2007. O que, convenhamos, ainda é muito bom.

* Thomas Lee é presidente da Abimei (Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais)

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