Projeto testa uso de fibras naturais para polímeros

 
Fonte: FAPESP - 08/09/08
Foto: FAPESP
A Floresta Amazônica coloca o Brasil no centro das principais discussões de políticas de manutenção e desenvolvimento sustentável. Devido à gigantesca biodiversidade de plantas lenhosas e fibrosas, pesquisas têm explorado de forma sustentável o potencial de fibras vegetais naturais para a fabricação de polímeros. Essa é uma das propostas do Fênix Amazônico, projeto de construção de um ecossistema de empreendimentos sustentáveis na Amazônia. Coordenado pelo pesquisador Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), eo projeto é desenvolvido em parceria com o Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade de São Carlos (DEMa/UFSCar).

De acordo com Alessandra Marinelli, do Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais da UFSCar, o Fênix é um projeto multidisciplinar cujo objetivo é despertar o interesse da comunidade científica das mais diversas áreas a fim de colaborar com o desenvolvimento de novas tecnologias que possam ser utilizadas para a recuperação de áreas degradadas da Amazônia. “Os estudos iniciais do grupo de compósitos estão sendo realizados com o objetivo de testar a viabilidade do emprego das fibras de madeira balsa e da embaúba e fibras vegetais de bambu e mamona em compósitos com termoplásticos, em especial poliolefinas e PVC reciclados a partir de resíduos urbanos”, disse Alessandra à Agência FAPESP.

Segundo o estudo, descrito em artigo na revista Polímeros, o grupo atua em duas frentes. Uma que trabalha com sistemas de produção com maquinário relativamente barato e simples, para que as comunidades rurais da Amazônia possam absorver a tecnologia. E a outra para desenvolver materiais compósitos com tecnologia de fabricação mais avançada. “Desde agosto de 2006, exploramos conceitos de compósitos de polímeros com fibras vegetais naturais baseados em silvicultura de ciclo curto que pudessem colaborar com a proteção e recuperação da Floresta Amazônica. Escolhemos algumas espécies colonizadoras para serem exploradas, como a embaúba (Cecropia), balsa (Ochroma pyramidalis) e bambu. Incluímos também a fibra dos caules da mamona por fazer parte da cadeia de biocombustíveis”, explica a pesquisadora.

Essas fibras dos caules seriam obtidas a partir da rotação de culturas, importante para a manutenção do solo onde a mamona é cultivada. “Inicialmente, caracterizamos as fibras e, agora, produzimos os primeiros compósitos de polipropileno, virgem e reciclado, com fibras de madeira balsa. O aspecto visual dos compósitos é bastante promissor e a caracterização de suas propriedades mecânicas está sendo feita. Em breve, publicaremos resultados. A idéia é apontar quais as melhores fibras para aplicação em compósitos termoplásticos”, disse Alessandra. “Existe um enorme potencial para a descoberta de fibras naturais com propriedades desejáveis, como resistência mecânica, estabilidade química e biológica, resistência ao fogo, leveza, resistência à abrasão e ao cisalhamento, entre outras propriedades de interesse”, apontou.

Cadeia produtiva

Segundo Alessandra, espécies pioneiras ou colonizadoras de crescimento rápido poderiam ser plantadas em áreas degradadas. “Quando suas copas se encontram formando um dossel, fornecem sombra e proteção para as árvores de madeiras nobres, que crescem em ritmo bem mais lento. Espécies com troncos espinhosos, tais como palmeira pupunha e curauá, podem ser utilizadas como cerca viva protetora ao redor dessas plantações florestais”, explicou.

As árvores de ciclo curto, com madeira leve, podem ser colhidas dentro de um a dois anos, período equivalente ao da cana-de-açúcar. As madeiras nobres das árvores de crescimento mais lento podem ser colhidas em ciclo de seis a dez anos, equivalente ao do eucalipto.

“Um fator importante para o sucesso do método é a agregação de valor às fibras vegetais e outros subprodutos – como óleos vegetais, brotos comestíveis, frutos, fitocosméticos e fitoterápicos – das espécies de crescimento rápido e mesmo das plantas empregadas nas cercas vivas de proteção, que possam dar suporte à recuperação das espécies de crescimento lento”, disse. Alessandra conta que o grupo de pesquisa em compósitos baseado no Projeto Fênix Amazônico é aberto à participação de outros pesquisadores.

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