CBI divulga relatório sobre mudanças climáticas no Brasil

Fonte: Print Comunicação Empresarial - 03/09/08

Foto: Divulgação

O presidente da Confederação das Indústrias Britânicas (CBI), Martin Broughton, lançou no dia 2 de setembro, em São Paulo, o relatório "Mudanças Climáticas: Um Assunto de Todos". Trata-se de uma avaliação dos benefícios econômicos e custos de diferentes opções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2030, para que o Reino Unido avance no caminho certo e atinja a meta do governo, de redução de 60% das emissões em 2050, em relação aos níveis de 1990.

Com enorme repercussão no Reino Unido, divulgado na Índia, China e Bruxelas e traduzido em diferentes línguas, o relatório reconhece a necessidade de uma ação global, convocando todos os países a formularem suas agendas de mudanças climáticas, com envolvimento de governos, empresas e consumidores.

Broughton ressaltou que a Inglaterra tem metas a cumprir em 2020 e 2050, e o setor empresarial entendeu que só haverá mudanças se trabalhar junto com o governo. "Os consumidores são a grande mola propulsora da mudança. O setor empresarial tem que incorporar isso em seu DNA e buscar alternativas. As empresas inglesas já reconhecem que investir na redução de emissões é um custo necessário", explicou Broughton, acrescentando que a adaptação às mudanças também trará oportunidade de negócios em todo o mundo. Estima-se que este mercado possa atingir globalmente US$ 1 trilhão. No Brasil, por exemplo, ele acredita que haja um potencial para empresas britânicas investirem em novas tecnologias.

O trabalho foi realizado com o objetivo de impulsionar o setor privado a se tornar um catalisador da construção de uma economia de baixo carbono. O documento foi elaborado durante 10 meses pelo Grupo de Trabalho sobre Mudanças Climáticas da CBI, a partir de uma extensa pesquisa encomendada à McKinsey. Presidido pelo então diretor-executivo da British Telecom (BT), Ben Verwaayen, o GT, hoje transformado em conselho, reúne algumas das maiores empresas britânicas, entre as quais BP, Shell, British Airways e Tesco, que emitem aproximadamente 370 milhões de toneladas de CO2, empregam quase 2 milhões de pessoas ao redor do mundo e geram uma receita anual de 1 trilhão de libras esterlinas.

Segundo Broughton, o Brasil precisa, a exemplo da Inglaterra, fazer sua própria curva de custo para a obtenção da redução das emissões. Compromissos como o investimento em energias limpas, por exemplo, devem fazer parte da lista, assim como devem ser observadas oportunidades regionais.

O executivo anunciou que a CBI e a Confederação Nacional da Indústria (CNI) trabalharão em conjunto para a busca de alternativas à redução de emissões de gases de efeito estufa na cadeia produtiva brasileira. A expectativa de Broughton é que o trabalho do Reino Unido ajude a conscientizar os empresários brasileiros de que é preciso seguir o mesmo caminho. Durante o evento, também surgiu a idéia de criar um grupo multidisciplinar no Brasil, com o apoio da CBI, para debater em conjunto todas as iniciativas que vêm sendo desenvolvidas no país.



José Augusto Fernandes, diretor-executivo da CNI, anunciou que, com o apoio da CBI, será criado na instituição o Núcleo de Economia de Mudanças Climáticas, que estabelecerá ações setorizadas."O setor industrial brasileiro não está parado. Já estamos sensibilizando as empresas e a sociedade, mostrando os riscos de não fazer nada. Agora, precisamos fazer o diagnóstico dos nossos problemas. Já sabemos que menos de 30% das emissões vêm da indústria e 75% vêm do desmatamento. Hoje, 600 indústrias já foram treinadas para adotar práticas de desenvolvimento mais limpo, e nossa agenda está focada na busca de eficiência energética nas empresas", explicou.

O ministro de Negócios, Empreendimentos e Reforma Regulatória do Reino Unido, John Hutton, ressaltou que só um esforço conjunto poderá formar o arcabouço de uma estrutura a longo prazo, que vai criar um ambiente de baixo carbono no mundo. "Não podemos ficar parados. Esta é uma oportunidade de compartilharmos conhecimento", completou.

Representando o governo brasileiro, o Secretario de Tecnologia Industrial do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Francelino Gandro, disse que a mensagem é que há um desafio e uma oportunidade: "Precisamos ter uma mudança cultural que envolva as maiores e melhores iniciativas, tanto do governo, quanto das empresas".

Segundo o trabalho da CBI, os principais setores para redução de emissão de carbono no Reino Unido são: habitação (31%), principalmente por meio da melhoria das construções residenciais; energético (29%), com melhor aproveitamento de energia eólica, adoção da captura e armazenamento de carbono em usinas termelétricas a gás e carvão e construção de novas usinas nucleares; transporte (24%), por meio da adoção de motores mais eficientes e novas tecnologias, assim como a utilização de novas fontes de energia; e industrial (17%), com melhorias nos processos de produção. Em 2030, quase 60% das reduções das emissões devem ter sua origem em um consumo de energia mais eficiente em casa, nas empresas e nos transportes, e o restante deve vir de grandes reduções nas emissões de carbono provenientes do fornecimento de energia, como eletricidade e calor, e transporte.

O GT sobre Mudanças Climáticas da CBI pede que o governo britânico priorize investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias e proporcione incentivos, regulamentos e estruturas tributárias para a construção de uma economia de baixo carbono. Algumas das outras questões fundamentais para o grupo são: a necessidade de ampliar os incentivos à população, especialmente os consumidores, que precisam de informações confiáveis e estímulos para fazer investimentos corretos na redução de emissão de carbono; o estabelecimento de um preço real e de longo prazo para o carbono num acordo pós-2012; e a introdução do carbono como parte do DNA corporativo, especialmente por meio de medição das pegadas de carbono, adoção de eficiência energética nas empresas, particularmente em transporte e instalações; e busca de formas de reduzir as reduções ao longo da cadeia com empregados e fornecedores.

Em 2020, o custo para economizar uma tonelada de CO2 no Reino Unido será de 60 a 90 euros, caindo para 40 euros em 2030, devido à redução do custo do desenvolvimento de novas tecnologias, segundo a pesquisa realizada pela McKinsey para a CBI. Além de custos, o trabalho aponta oportunidades. Para pequenas e médias empresas, as principais oportunidades estão concentradas em cinco áreas-chave - edifícios comerciais, energia elétrica renovável, combustível renovável para transporte rodoviário, eficiência energética doméstica e habitação -, que poderiam criar mercados da ordem de quase 3 bilhões de libras esterlinas, até 2010, no Reino Unido.

O lançamento do relatório no Brasil é uma realização da Embaixada do Reino Unido, com apoio do Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (CES-FGV), do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Ethos.

O relatório em português está disponível para download no link: http://www.avtclient.co.uk/climatereport/

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