Fábricas paradas ou com pouco trabalho

FGV IBRE fez levantamento sobre diminuição dos turnos e paralisação total

Os indicadores macroeconômicos já vêm registrando o forte impacto negativo da pandemia na economia, em diferentes setores. Levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) trouxe mais um indício de que a queda da atividade será brusca: 14,4% das 1006 empresas da indústria de transformação participantes na pesquisa paralisaram sua produção.

Segundo Renata de Mello Franco, economista do FGV IBRE e responsável pela análise, o percentual representa um aumento de 10,2 pontos percentuais (p.p.) em comparação a março, e de 11,5 p.p. em relação à média para os meses de abril. Os segmentos de Veículos Automotores, Couros e Calçados e Vestuário foram os que mais sofreram, registrando o maior percentual de empresas paralisadas, respectivamente 59,5%, 38,9% e 34,1%.

"Em abril observamos o maior número de empresas paralisadas desde o início da série histórica. Mesmo em épocas de crise, como 2008-2009, ou 2014-2016, a média de empresas paralisadas não passou de 2%. Esse fato nos chama a atenção pela particularidade do momento: além da queda da demanda, principalmente por bens não essenciais, houve a necessidade de fechamento de fábricas por questões sanitárias", explicou a economista.

Percentual de empresas do setor industrial paralisadas ou operando abaixo de 20% em meses de abril
(amostra ponderada - sem ajuste sazonal)

Fonte: FGV/Ibre

Trabalho reduzido

Parte da indústria não paralisou totalmente, mas reduziu os turnos de trabalho. A média de turnos em abril deste ano ficou em 2,2. O resultado é menor do que o da média da série (2,6) ou mesmo da média da série a partir do primeiro trimestre de 2014 (2,4), quando o Brasil havia entrado em recessão. Nesse quesito, dois setores repetem o resultado ruim: Veículos Automotores (-75,7%), Couros e Calçados (-54,2%) e Derivados de Petróleo e Biocombustíveis (-35,5%) apresentaram as maiores quedas em relação à média dos meses de abriu.


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Na outra ponta, Farmacêutica foi o único setor que apresentou crescimento no número de turnos, de 2,2 para 2,7, representando crescimento de 20,3%.

NUCI e número de turnos
(com ajuste sazonal)

Fonte: FGV IBRE

O Nível da Capacidade Instalada da Indústria (NUCI) teve queda recorde, segundo Renata, não apenas pela paralisação. O que indicaria que o mal desempenho se deve a outros fatores, que se somaram ao da crise sanitária.

"Em exercícios realizados com os microdados da pesquisa, ainda que fossem excluídas as empresas paralisadas, o NUCI do setor industrial teria sido, aproximadamente, 9,5 p.p. acima do que o observado, ao nível de 66,8%. Portanto, mesmo considerando apenas as empresas que estavam produzindo, abril ainda teria a maior queda na variação mensal e o menor patamar da série histórica iniciada em 2000", avaliou.

Ao analisar os fatores limitativos ao crescimento da produção, o estudo identificou que, para aproximadamente 20% do setor industrial, a pandemia foi diretamente a principal restrição ao aumento da produção, enquanto 34% indicaram como problema o nível da procura, ou seja, baixa demanda. Em quesito especial sobre os efeitos diretos da pandemia sobre o setor, 75,1% das empresas responderam que houve redução da demanda interna, 44,1% assinalaram redução da demanda externa, enquanto 53,5% informaram que precisaram suspender totalmente ou parcialmente sua produção por questões de saúde. Além desses, 31,6% das empresas assinalaram que tiveram problemas no fornecimento de insumos importados, 27,1% tiveram problemas no fornecimento de insumos nacionais e 29,5% tiveram problemas na entrega de seus produtos.