TAC Motors relança Stark e tenta achar seu espaço no mercado

Empresa brasileira com linha artesanal no Ceará planeja investir R$ 150 milhões em quatro anos e passa por reestruturação societária

Apesar das muitas lacunas em sua história iniciada em 2006, quando em busca de investidores apresentou seu primeiro protótipo no Salão de São Paulo daquele ano, a TAC Motors conseguiu seguir viva como fabricante artesanal nacional de um único veículo, o 4x4 Stark, que desde seu lançamento em 2013 somou vendas de apenas 217 pessoas. O modelo hoje montado artesanalmente em Sobral (CE) está sendo relançado este mês, dentro de um plano de reestruturação societária da empresa, que prevê a redução do quadro atual de 105 acionistas, abertura de uma enxuta rede de seis concessionárias sob o conceito de clube offroad, além de um programa de investimentos de R$ 150 milhões nos próximos quatro anos para modernizar e ampliar a gama de produtos. 

“Enfrentamos grandes dificuldades de ser uma empresa de engenharia 100% nacional com baixo volume em uma indústria que exige enorme escala de produção. Agora buscamos nosso espaço com maior foco no público offroad em um plano para atingir o equilíbrio financeiro em quatro anos”, afirma Neimar Braga, diretor presidente da TAC Motors.

O Stark comercial com motorização diesel foi apresentado em 2008, ainda em busca de investidores, e só em 2010 foram fabricadas as primeiras as primeiras 50 unidades em Joinville (SC), fazendo jus ao nome TAC, abreviatura para Tecnologia Automotiva Catarinense. Para tentar dar viabilidade financeira ao negócio, em 2013 o empreendimento se mudou para o Ceará, em busca de incentivos estaduais e municipais de Sobral – com a vantagem de não precisar mudar a sigla de seu nome. Mas a TAC não chegou ao Nordeste a tempo de entrar no regime automotivo regional que garante gordos benefícios tributários federais. “Infelizmente, pois se estivéssemos no regime poderíamos ter crescido bem mais”, lamenta Braga. 


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O diretor presidente da TAC admite que a empresa nunca conseguiu fazer lucro até agora. A expectativa é de entregar 100 carros este ano, mas seriam necessários ao menos 400 para atingir o equilíbrio financeiro, o que o executivo espera alcançar em cerca de quatro anos. No plano de investimento também está programada a ampliação do número de modelos e a oferta de modelos com câmbio automático. “Para uma empresa do nosso tamanho, com baixo volume, o investimento de R$ 150 milhões é bastante relevante”, diz. 

No fim de 2015 a chinesa Zotye chegou a anunciar a compra da TAC por R$ 190 milhões, com o lançamento de outros produtos, mas o negócio nunca foi concretizado, permaneceu em banho-maria nos anos seguintes, com esporádicas declarações de que as negociações continuavam em andamento. “A Zotye tinha planos de se instalar no Brasil e a TAC era uma das opções. Mas depois desistiu, com a crise do mercado brasileiro”, explicou Braga. 

Montagem simples

A fábrica de Sobral só produz sob encomenda e tem 30 funcionários atualmente, com expectativa de contratar mais 20 este ano. “É um processo modular de montagem muito simples, recebemos conjuntos pré-montados, trabalhamos de acordo com os pedidos do cliente, como uma alfaiataria”, justifica Braga. 

O processo conta com cerca de 100 fornecedores, “mais de 90% deles nacionais, ou do contrário não conseguiríamos fazer o Stark, precisamos aproveitar o que eles já têm em produção, porque não temos escala para viabilizar pedidos só para nós”, explica o executivo. 

Por isso o Stark é bastante artesanal e rústico. O carro é montado atendendo especificações do cliente sobre estrutura tubular de aço carbono com placas de fibra. Os componentes de maior complexidade mecânica são comprados de fornecedores tradicionais. 

O motor 2.3 turbodiesel de 127 cv a 3.600 rpm e torque máximo de 30,6 kgfm a 1.800 rpm é o F1A da FTP – braço fabricante de motores diesel do Grupo CNH Industrial, que fabrica em Sete Lagoas (MG) o mesmo propulsor já usados em modelos Iveco Daily. O câmbio manual de cinco marchas FSO 2405 vem de Valinhos (SP), onde é produzido pela Eaton para vários veículos comerciais leves. Os eixos diferenciais com bloqueio traseiro são os 44.3 da Dana. O sistema de controle de tração 4x2, 4x4 e 4x4 reduzida é da BorgWarner. 

Preço, produto e pós-venda

O Stark 2018 começou a ser vendido este mês por R$ 115 mil e vem de série com direção hidráulica, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores com acionamento elétrico, cinto com três pontas para todos os quatro ocupantes, farol de neblina, rodas de liga leve, banco traseiro rebatível, volante com regulagem de altura, odômetro digital. Podem ser agregados como opcionais a base para instalação de guincho, rack de teto, escapamento snorkel, skid plate metálico, volante revestido em couro e teto solar. Completo, a tabela chega as R$ 130 mil. 

“O cliente é quem manda, o carro é muito fácil de adaptar, montar e remontar. Tudo depende de como ele vai usar o carro. Se quiser pegar trilhas mais pesadas, precisa de pneus especiais, algum tipo de preparação, nós fazemos sob medida”, explica o gerente técnico Humberto Ferreira. “O que não queremos é que queime o filme do carro com uso para o qual não foi preparado. Por isso pedimos para nos avisar sobre o que vai precisar e nós ajustamos.” 

A competição não será fácil. Considerando um 4x4 com motor diesel, o Stark está de fato entre as opções mais baratas. Seu concorrente direto em estilo e rusticidade, o Troller (marca pertencente à Ford e também fabricado no Ceará), parte de R$ 131 mil, mas tem motor bem maior (3.2) e mais potente (200 cv). O Jeep Renegade 4x4 diesel 2.0 de 170 cv, bem mais confortável, sofisticado e que também tem boa capacidade offroad, custa cerca de R$ 130 mil. 

“O valor está dentro das expectativas do cliente que faz parte do universo offroad. Não discutimos preço e nem temos a intenção de concorrer com ninguém. Nossa intenção é oferecer um produto exclusivo para um público muito específico”, confia Braga. 

Com exceção dos bancos revestidos com couro, o acabamento do Stark é bastante simples e rústico, minimalista até. Com duas portas dianteiras, comprimento de 4 metros, largura de 1,88 m e entre-eixos de 2,54 m, o jipinho acomoda bem duas pessoas na frente e desconfortavelmente duas atrás. O carro pode andar bem no asfalto, mas seu meio ambiente ideal é fora da estrada, onde ele vira um trator, com altura livre do solo de 26 cm, ângulo de ataque de 49 graus, saída de 44 graus e capacidade para passar rios e alagados com até meio metro. 

Para vender o Stark e criar afinidade com o público alvo jipeiro, a TAC vai replicar um modelo já introduzido em Belo Horizonte (MG), onde foi criado o primeiro Stark Point. É uma mistura de clube offroad com concessionária, que oferece assistência técnica personalizada, test-drive, cursos de pilotagem fora-de-estrada, eventos de passeios offroad, trocas de experiências, boutique da marca e um espaço gourmet e de convivência. Outro Stark Point será aberto em São Paulo, mas as encomendas e atendimento de pós-venda também são feitos por canais on-line, como a loja virtual Gama 4x4, especializada nesse segmento de mercado. 

Está prevista a instalação de centros de distribuição da TAC nas cinco regiões do País: Norte (Manaus), Nordeste (Recife), Centro-Oeste (Brasília) e Sul (Florianópolis), além do já existente em Belo Horizonte, sede da Região Sudeste. “Não temos nada a reclamar, estamos felizes com a operação nesta região, que servirá de modelo para os outros centros”, diz Paulo Magalhães, diretor de distribuição do Sudeste. 

Para ampliar o alcance da assistência técnica, Magalhães conta que oficinas estão sendo credenciadas no País. Também foi criado um sistema de atendimento remoto por telefone, que envia o mecânico ao local onde está o cliente, pode resolver o problema ali mesmo ou levar o carro a uma oficina e trazê-lo de volta após o reparo. Adicionalmente, já foi desenvolvido um aplicativo para o smartphone dos donos de Stark, que passa orientações e até onde encontrar determinadas peças. A garantia do veículo é de um ano, a primeira revisão de 5 mil km para apertos não tem custo e a segunda, com 10 mil km fica por R$ 300, mais o preço da troca de óleo, filtros e elementos dos freios (se necessário). 


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