Potencial eólico do Brasil não é aproveitado

Pouco investimento no setor, baixos incentivos financeiros do governo e e falta de incentivos para o aprofundamento das pesquisas em tecnologia não colaboram para a exploração dessa fonte energética.

Fonte: Envolverde - 03/07/2007

Na última semana, o governo brasileiro optou pela construção da usina nuclear Angra 3. Mais uma vez, o investimento em outras fontes energéticas ficaram para depois. No rol das energias alternativas, a eólica é muito mencionada, mas, apesar do potencial expressivo que o país tem para o seu desenvolvimento, os investimentos e o seu alcance no Brasil são poucos.

Atualmente, o Brasil tem 200 MW de potência instalada de energia eólica, o que representa apenas 0,3% de toda a matriz elétrica do país. Se todos os projetos em andamento forem concluídos, a previsão é de que sejam implantados 1,3 mil MW de energia eólica até 2008.

“A China, um país em desenvolvimento como o Brasil, começou a implantar essa energia em 1996. Em 2006, os chineses tinham 2,6 mil MW de potência instalada. Para o próximo anos, o país prevê alcançar a meta de 2010, que é de 5 mil MW. Se comparado com a China, o desenvolvimento tecnológico e a adoção desse tipo de energia foram muito lentos aqui”, compara Karen Suassuna, técnica do Programa de Mudanças Climáticas da WWF-Brasil.

“A iniciativa tem que partir do governo: é ele quem tem que gerar o primeiro sinal sobre o projeto, garantindo a energia, a cobertura [de transmissão] e criando um mercado, como ocorreu na Alemanha”, lembra Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de Energias Renováveis do Greenpeace.

Essa estratégia fez com que países com potencial menor que o do Brasil tenham uma potência de energia eólica instalada maior. A Dinamarca foi pioneira na empreitada, em 1976.

“Muitos projetos não saíram do papel no Brasil”, explica Eliane Amaral Fadigas, professora e pesquisadora do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da USP. Segundo ela, a situação se deve à falta de interesse dos investidores. O Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica) do Ministério de Minas e Energia determina que as empresas fabricantes de turbinas sejam nacionalizadas para desenvolver projetos no Brasil. Se outras empresas estrangeiras se interessassem, elas devem se instalar aqui. No Brasil, há apenas um fabricante de turbinas eólicas.

Para a técnica da WWF, o governo brasileiro não criou condições para atrair investidores no setor. Ela menciona também que os custos externos da energia eólica, quando confrontados com os valores estipulados nos leilões com outros tipos de energia, liquidam as chances de concorrência. “Quando os custos externos começam a surgir, percebe-se que o custo de produção é elevado, o que torna a eólica incompatível. Não dá para concorrer de igual para igual com outros tipos de energias. São duas coisas diferentes”, observa. Uma saída seria ter leilões específicos para energia eólica.

A energia eólica chega a custar, no mínimo, R$ 180 MW/hora. Segundo a pesquisadora da USP, outras fontes têm preços mais baixos, como o gás (R$120) e a hidráulica (R$70 a 80). Para Eliane, se o governo ou setor elétrico quiserem desenvolver a energia eólica é preciso esforços para a redução dos custos a partir da nacionalização da instalação e das equipes especializadas no ramo, além da escolha dos melhores lugares para a implantação das usinas. “Está mais do que na hora de investir mais em pesquisas para baratear os preços”, afirma.

Potencial natural

O litoral do nordeste brasileiro, especialmente o do Ceará, é considerado um dos lugares favoráveis para a atividade eólica, devido ao regime de ventos, segundo o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro, produzido pelo Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito (Cresesb).

Contudo, a pesquisadora da USP, Eliane Fadigas, alerta que a medição sobre o regime de ventos e outras condições necessárias para a implantação de usinas eólicas é ainda muito deficiente no Brasil. Por isso, atualmente, não é possível estimar qual o real potencial para a eólica no país. Para dados mais completos e exatos, são necessários uns mapeamentos mais extensos. “Antes de dizer que uma região não é um bom lugar para a eólica, é preciso fazer um estudo preliminar com a instalação de uma torre de transmissão por pelo menos um ano”, explica a pesquisadora.

Eliane também enfatiza que, apesar de vantagens, a eólica tem também limitações. O fato de depender do regime de ventos faz com que seja uma fonte de energia sazonal. “Ela não vai resolver o problema de emissões de gases de efeito estufa sozinha, porque não conseguiria suprir o uso de combustíveis fósseis, como o petróleo. As fontes alternativas (eólica, biomassa solar) são fontes complementares”.

De acordo com Karen Suassuna, a característica dos ventos no nordeste se conjuga com as condições naturais da energia hidráulica. “O Brasil é um dos poucos lugares do planeta que tem uma relação inversamente proporcional entre o regime de ventos e o da hidráulica, principalmente na região nordeste: quando se tem um maior potencial de ventos, há um menor volume hídrico. Essa tecnologia pode ser complementar à hidráulica”, explica.

Além das condições naturais, outros fatores contam como a existência de uma rede de transmissão de energia próxima ao espaço da usina e a disponibilidade de uma área livre, distante de construções altas. O último fator limita a instalação em centros urbanos.

Segundo Karen, é necessário que haja políticas públicas, investigando as formas como cada Estado pode fazer uso e se beneficiar da energia eólica de acordo com as realidades locais.

Impactos


“Toda a fonte tem impactos”, diz Eliane. No caso da eólica, ela lembra que a região da usina é afetada na sua fase implantação, quando se faz a terraplanagem e a recuperação da vegetação rasteira. Já na fase de operação, os impactos apontados são o visual, sonoro e eletromagnético. Segundo a pesquisadora, para os dois últimos, a tecnologia já vem desenvolvendo turbinas menos ruidosas e reduzindo as interferências magnéticas.

Para a obra, são exigidos o relatório e o estudo de impactos ambientais (EIA-Rima), que teria função de prever conflitos com a fauna da região. A rota de aves migratórias costuma ser uma das principais preocupações durante o estudo de impacto ambiental.

Ricardo Baitelo, coordenador do Greenpeace, afirma que, comparados com outros tipos de fontes energéticas, os impactos da eólica são ainda mais reduzidos. “É uma energia muito benéfica, porque não faz uso de combustível, do solo e nem da água. A emissão de gases é superbaixa”, considera.

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