Grupo Guerra, do PR, investe para ampliar e diversificar atuação

O projeto absorveu cerca de R$ 100 milhões e inclui um centro de pesquisa, uma nova planta de beneficiamento e tratamento de sementes, uma unidade armazenadora de cereais e um escritório.

O Grupo Guerra, mais conhecido por seus negócios no ramo de sementes, finaliza neste segundo semestre de 2014 um grande investimento na ampliação de seu parque industrial no município de Pato Branco, no Paraná, onde fica a sede da empresa. O projeto absorveu cerca de R$ 100 milhões e inclui um centro de pesquisa, uma nova planta de beneficiamento e tratamento de sementes, uma unidade armazenadora de cereais e um escritório. O investimento reforça a estratégia de diversificação da companhia e pavimenta o caminho para que o grupo alcance a meta de R$ 1 bilhão de faturamento na próxima década.

Conforme Ricardo Guerra, diretor-executivo do grupo, o objetivo é transformar a área de 320 mil metros quadrados em um "complexo modelo" para o país. "Lá, faremos pesquisa de sementes e produziremos esses insumos, venderemos aos agricultores e depois vamos receber deles os cereais para transformar dentro do nosso parque", afirma Guerra ao Valor.

Imagem aérea do parque industrial da Reta Grande,
em Pato Branco (PR), em março de 2014.
Imagem: Reprodução/ Facebook

Dentro dessa estratégia, a empresa planeja erguer também um moinho de trigo com capacidade de processamento de 150 toneladas por dia. A expectativa é que as obras sejam iniciadas no começo de 2015, a partir de um investimento de R$ 20 milhões a R$ 25 milhões, e permitam ainda originar farelo de trigo para uma futura fábrica de ração. "Não queremos subproduto sem utilização, e o sudoeste do Paraná é um importante polo de produção de leite, aves e suínos", explica o executivo.

A nova planta de beneficiamento e tratamento de sementes poderá ofertar um milhão de sacas de sementes de soja e trigo, enquanto a unidade de estocagem terá condições de receber até 100 mil toneladas de cereais, nas contas do Grupo Guerra. Parte do armazém já entrou em operação na atual safra 2013/14, apto a abrigar cerca de 30 mil toneladas, e a empresa calcula que em dois anos será possível usufruir de toda sua capacidade.


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Na frente de pesquisa, a companhia busca ampliar os esforços no desenvolvimento de novas variedades, especialmente de trigo. "Metade do trigo que consumimos é importado, por isso há espaço para que a produção nacional cresça. Além disso, há queixas sobre a qualidade do cereal do país e queremos ajudar a melhorar isso", diz Ricardo. A receita da divisão de sementes deve ficar na casa dos R$ 200 milhões em 2014, segundo o executivo. Mas essa é apenas uma fatia dos negócios do grupo.

Os Guerra começaram a atuar na agricultura brasileira ainda no século 19. Egressos da Itália, estabeleceram-se no Rio Grande do Sul em 1885, inicialmente dedicados ao cultivo de subsistência, e anos depois, ao comércio de produtos agrícolas. Na década de 1950 rumaram para o sudoeste do Paraná, onde investiram na atividade madeireira, até a criação da Sementes Guerra no fim dos anos 1970. Mas foi na última década que a família começou a costurar o mais complexo - e frutífero - capítulo de sua história no país, com o início de um grande processo de ampliação e diversificação dos negócios.

Em 2003, a família decidiu se preparar para uma abertura de capital. "Entendemos que o mercado de sementes deveria ser cada vez mais global, que só os grandes 'players' sobreviveriam", diz Ricardo, que conduz a companhia ao lado do pai Luiz Fernando, e dos irmãos, Eduardo e Luiz Fernando Guerra Filho. Esse pensamento abriu caminho para que, oito anos depois, a empresa firmasse a primeira de uma série de joint ventures com a cooperativa francesa Limagrain, uma das cinco maiores vendedoras de sementes do mundo, que fatura mais de € 2 bilhões por ano. As empresas não confirmam mas, à época, circulou a informação de que os franceses ficaram com uma fatia de cerca de 70% do negócio de sementes de milho do Grupo Guerra (que passou a se chamar Limagrain Guerra do Brasil), por um montante de pouco mais de R$ 90 milhões.

Um ano mais tarde, em 2012, a parceria com a Limagrain rendeu também a vinda ao Brasil da Jacquet, uma das maiores empresas europeias de pães e bolos, que pertence à cooperativa francesa. A unidade de produção erguida em Guarapuava (PR) é a primeira da Jacquet fora da Europa. Ricardo - que é também membro do conselho das empresas criadas por meio das joint ventures - não detalha números, mas afirma que a marca "tem crescido muito no país". Outra aposta é uma fábrica de resinas bioplásticas a partir do milho, matéria-prima mais ecologicamente correta que o plástico convencional, derivado de petróleo.

O Grupo Guerra também está estreitando os laços com outra europeia: a empresa de lácteos franco-belga Senoble. Segundo Ricardo, estão sendo finalizados estudos para a avaliação de potenciais produtos, "sem similar no mercado brasileiro". A ideia é começar a importar sobremesas lácteas refrigeradas da Senoble ainda este ano.

Diante de tamanha movimentação, a família Guerra não descarta abrir capital na bolsa, mas esse plano deverá aguardar pelo menos cinco anos. "Estamos em uma fase de muitos investimentos e precisamos esperar o desenrolar desses novos negócios", diz Ricardo.