Brasil cai em ranking de investimento externo

"Dentro da América Latina, o Brasil continua disparado o número um", ressalta o sócio do escritório de São Paulo da A.T. Kearney, François Santos.

O Brasil caiu da terceira para a quinta posição no Índice de Confiança de Investimento Estrangeiro Direto (FDICI) de 2014, uma espécie de termômetro global da atratividade dos países com relação aos investimentos estrangeiros diretos, a ser divulgado nesta segunda pela consultoria global de gestão A.T. Kearney. No entanto, o país se manteve entre os cinco destinos preferidos de investimentos produtivos pelo quarto ano consecutivo. No geral, o ranking mostra a recuperação da atratividade dos países desenvolvidos, com Estados Unidos, Canadá e Reino Unido entre os cinco destinos preferidos.

"Dentro da América Latina, o Brasil continua disparado o número um", ressalta o sócio do escritório de São Paulo da A.T. Kearney, François Santos. Segundo ele, o país passa por uma crise de autoconfiança e restava saber como isso se refletiria lá fora. A consulta, feita com 300 empresas globais entre janeiro e fevereiro deste ano mostra, porém, que "não houve mudança". De 2012 para cá, ressalta Santos, as expectativas com relação ao Brasil, na verdade, melhoraram, com México e Chile em crescimento bem mais modesto.

Segundo maior destino dos investimentos estrangeiros diretos na América Latina, o México perdeu três posições no ranking geral (12ª posição), ainda beneficiado pela integração com as cadeias de suprimento americanas. Terceiro destino latino-americano, o Chile subiu cinco posições (17º global) de 2013 para 2014.

Diante do quadro, Santos diz que o investidor externo dá sinais claros de confiança na solidez e perspectivas de crescimento da economia brasileira no longo prazo. "O fato é que o país continua bem na foto para quem pensa no longo prazo", afirma. Para ele, a repercussão de eventos como as manifestações de junho se mantém muito limitada domesticamente. "Se fosse um índice de mercado financeiro, talvez a história fosse diferente", pondera.


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Na classificação geral, os Estados Unidos mantiveram a primeira posição que tomaram da China no ano passado, com metade dos entrevistados indicando uma perspectiva mais positiva sobre a economia americana do que há dois anos - o melhor avanço na história do indicador. Depois da China, o Canadá aparece na terceira posição, seguido por Reino Unido e Brasil. Santos lembra que a questão energética americana, com a descoberta do gás de xisto, tem grande peso sobre o apelo do país, assim como o renascimento da indústria local focado em alguns setores e uma mão de obra chinesa cada vez mais cara.

O Canadá, diz Santos, tem feito um trabalho forte de atração de investimentos de alto valor agregado - empresas como GE e Samsung abriram recentemente novas fábricas ou laboratórios de pesquisa no país. Na quarta colocação, a Inglaterra subiu quatro posições por ser um centro financeiros com impostos menores do que no resto da Europa, diz ele.

Entre os emergentes, a Rússia caiu do 11º lugar no ano passado) e não figura nas primeiras 25 posições, apesar de a pesquisa ter sido realizada antes da crise política com a Ucrânia. A Índia, por sua vez, ficou com a sétima posição, dois lugares atrás do ranking anterior. Um dado curioso é que a Etiópia - que não constava no ranking passado - agora aparece no 11º lugar do ranking, à frente de países como África do Sul (13º) e Espanha (18º).

Países do norte da Europa, como Suécia e Dinamarca, chegaram às primeiras 25 colocações da listagem pela primeira vez. Já a Bélgica e a Holanda retornaram ao índice após algum tempo fora dos radares dos investidores. No total, a Europa atrai mais do que um quarto dos fluxos totais de IED do mundo.

Segundo Santos, o fôlego maior dos desenvolvidos mostra ainda que a crise de 2008 vai, aos poucos, ficando para trás. Há uma melhora geral do humor com relação à economia mundial, com aproximadamente quatro de cinco entrevistados mais otimistas do que estavam há um ano, sugerindo uma mobilização das empresas que repousam sob enormes reservas de dinheiro de volta para o investimento produtivo.