Autopeças defendem flexibilidade da jornada

Redução de horas com subsídio do governo preservaria empregos.

Os fornecedores de autopeças apoiam e defendem a proposta de redução da jornada de trabalho com uso do seguro desemprego para pagar parte dos salários, nos moldes do sistema utilizado atualmente na Alemanha, em que o governo subsidia de 60% (para solteiros) a 80% (casados) das horas não trabalhadas, e a empresa paga somente o período efetivamente trabalhado. “Seria uma medida inteligente, pois evita remunerar quem já está desempregado. Isso preserva os empregos e a arrecadação de impostos, porque o consumo não cai”, defendeu Adilson Sigarini, conselheiro e diretor de relações trabalhistas do Sindipeças e diretor de RH da ThyssenKrupp. 

Sigarini falou sobre a proposta, também defendida pela associação dos fabricantes de veículos, a Anfavea, durante o painel “A Visão das Autopeças”, parte da programação do II Fórum RH na Indústria Automobilística, realizado por Automotive Business na segunda-feira (19), em São Paulo. Todos os outros quatro participantes do mesmo painel de debates também defenderam a medida como ideal no momento atual de retração dos negócios, acompanhada pela queda das vendas de veículos no País acumulada em 5% de janeiro a abril deste ano, detonando no setor processos de demissões, férias coletivas, suspensão temporária de contratos de trabalho e programas de desligamento voluntário.

O conselheiro do Sindipeças explicou que, pelo modelo em vigor na Alemanha, apenas parte do pagamento das horas não trabalhadas tem subsídio do governo (60% a 80%), a empresa continua a bancar a maior parte dos salários, calculado sobre as horas efetivamente trabalhadas, e o empregado tem pequena redução salarial. “É um contrato coletivo monitorado e homologado pelo ministério do trabalho alemão. Normalmente a jornada é reduzida em torno de 30%”, disse. A suspensão temporária de contratos de trabalho, os layoffs, que acontecem no Brasil hoje deixa o funcionário fora da linha de produção por até cinco meses, ele passa a ter o salário complementado pelo o seguro desemprego e deve frequentar cursos de qualificação. “A pessoa já fica na iminência da demissão e reduz os seus gastos, o consumo cai”, lembra Sigarini.


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“Toda forma de preservação de empregos é bem-vinda, para evitar demissões e recontratações. O modelo alemão é bom, o layoff no Brasil é muito burocrático, deve ser aplicado individualmente, cada funcionário precisa se inscrever para receber o seguro”, avaliou durante o painel Marco Galluzzi, vice-presidente de RH da Continental Brasil. 

“Seria tranquilo criar mais esta ‘bolsa’. No cenário atual de sobe e desce de encomendas, é impossível criar uma política de recursos humanos se a todo momento você precisa demitir gente, depois corre para contratar”, disse Paulo Borba, diretor de RH da Navistar/MWM International. 

Para Simone Eichenberger, diretora de RH da Eaton, mais do que bem-vinda, a flexibilização da jornada é imprescindível neste momento: “Os picos e vales da economia estão machucando muito a indústria. O desgaste é enorme depois de 300 ou 400 demissões. Por isso a flexibilidade é imprescindível para evitar isso, mas os sindicatos devem ajudar, pois existem os a favor e os que estão contra”, resumiu. 

Fernando Tourinho, diretor de RH da Robert Bosch, vai na mesma linha: “Nós precisamos flexibilizar os custos. Não dá para ter o mesmo gasto ganhando menos como agora”, disse. “Muitos entendem a palavra flexibilização como perda de direitos, mas trata-se apenas de buscar alternativas para preservar empregos”, observou Sigarini. 

Na opinião do conselheiro do Sindipeças, no ano passado o governo perdeu a oportunidade, em momento menos tenso, de flexibilizar várias regras trabalhistas, incluindo a jornada de trabalho. “Agora tudo fica mais difíciel”, lamentou. 

Desoneração na Folha

Durante o painel Sigarini também defendeu a continuação do atual modelo de desoneração da folha salarial das empresas de autopeças, que transformou a tributação em torno de 20% sobre os salários pagos para recolhimento de 1% do faturamento bruto. “Esse formato vai só até dezembro e nós já pedimos ao governo que se torne permanente”, revelou. “Os custos dos encargos no País já são superiores ao dos concorrentes internacionais. Por isso qualquer desoneração é fundamental. Não vejo como as pequenas e médias empresas poderão sobreviver sem isso”, disse. 

Segundo Sigarini, a proposta de tornar a desoneração permanente tem boa acolhida no Ministério do Desenvolvimento (MDIC), mas existe no governo a preocupação quanto ao déficit público, o que poderia reverter a expectativa de aprovação da medida.