Argentina fará oferta para a UE

Proposta brasileira de acordo comercial é vista como "primeiro passo" para negociações.

A Argentina pretende elaborar uma proposta de negociação de um acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE), a partir da próxima semana, quando dará início a uma série de consultas às câmaras empresariais, segundo informaram fontes do governo argentino que pediram anonimato.
 
Também está prevista uma reunião entre negociadores argentinos e brasileiros para conversar sobre a proposta do Brasil que oferece redução, em 10 anos, de tarifas de importação para 75% do comércio com a UE, conforme reportagem publicada pelo Estado ontem (4).
 
"Vamos discutir com os nossos setores para desenhar nossa proposta que será negociada com os sócios do MercosuL Obviamente, pelo próprio peso, o que Brasil e Argentina acertarem, vai influenciar na posição dos sócios menores", afirmou uma das fontes oficiais.
 
Em princípio, a proposta de 75% não é polêmica e seria um "primeiro passo" para,pelo menos, iniciar as negociações, segundo afirmou um funcionário. Isso seria discutido nas conversas previstas. Porém, uma negociação mais ambiciosa e com ritmo maior, esbarra em problemas internos da Argentina.
 
"Pelo menos três situações impedem a Argentina de avançar nas negociações, reconheceu uma das fontes ouvidas pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado.
 
A primeira delas diz respeito ao mercado de câmbio, no qual o país é obrigado a fechar as importações cada vez mais por causa da escassez de divisas. "Sofremos um ataque especulativo da moeda, que reduz o volume de divisas para sustentar uma liberalização do comércio", explica.
 
Outra fonte comentou que o atual câmbio oficial de 5,60 pesos, enquanto o real desvalorizado acima de R$ 2 por dólar, coloca a Argentina em condição desfavorável para negociar com os europeus.
 
Esforços
 
A segunda situação está relacionada à ideologia de substituição de importações. "Não vejo a Argentina abrindo seus portos para receber manufaturas europeias depois dos esforços que temos feito nos últimos anos tentando recuperar nossa indústria", afirmou. A fonte destacou que a ideologia argentina defende o comércio administrado, o que é contrário de uma liberalização. Por último, o governo enfrenta um cenário político complexo que não dá margem para lidar com negociações internacionais, que não se encontram na lista de prioridades nacionais.
 
A Argentina tem eleições parlamentares em outubro e o governo tenta reverter uma derrota nas primárias, realizadas em agosto, nas quais ganhou em 8 dos 24 distritos.
 
"Este é o pior momento para dizer o que a presidente vai fazer porque há uma situação de reorganização de instrumentos de política para melhorar as margens do governo nas eleições", observou a fonte, explicando que a decisão sobre o que negociar com a UE será exclusivamente de Cristina Kirchner.
 
Outra fonte consultada afirmou que não há mudança na posição argentina desde a última reunião entre os dois blocos, em janeiro, no Chile. "A posição da Argentina é de menor abertura que o Brasil embora o Brasil tenha se mostrado mais prudente e cauteloso porque também enfrenta problemas internos"
 
Por Marina Guimarães/ O Estado de S. Paulo

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