Vendas de motos voltam a níveis da crise financeira

Essa é a segunda crise que o setor atravessa em cinco anos. Em 2009, no auge da crise financeira internacional, o problema também era a falta de crédito.

 
 
Sem esboçar a reação esperada pelos fabricantes, o mercado de motos continua em queda livre neste ano - o segundo seguido de baixa - e está voltando aos níveis de 2009, quando o setor foi severamente afetado pela crise de crédito. No primeiro semestre, as vendas, pressionadas pelo crédito ainda restritivo, caíram quase 12%, para um total de 748,3 mil motocicletas licenciadas no país, abaixo das 765,7 mil unidades do mesmo período de 2009.
 
Só a Honda, líder com folga nesse mercado, com mais de 80% das vendas, viu uma queda equivalente a 70 mil motos nos volumes emplacados. Mas a crise é quase generalizada, poupando apenas as marcas com atuação no segmento premium, como BMW, Kawasaki e Harley-Davidson, que são menos afetadas pela seletividade dos bancos.
 
Na Zona Franca de Manaus, onde está concentrada quase toda a produção de motos do país, as montadoras se ajustam ao novo patamar do mercado com cortes de mão de obra e um menor ritmo de produção. Desde o ano passado, mais de 2,6 mil vagas de trabalho foram eliminadas no polo industrial duas rodas, que hoje ocupa 18,5 mil pessoas, segundo levantamento da Suframa. No período, paradas de produção também foram feitas pelos fabricantes, incluindo a Honda, que, em uma situação normal, seria capaz de produzir uma moto a cada oito segundos. Em julho do ano passado, a montadora teve de estender as férias coletivas em sete dias, dada a falta de reação do mercado.
 
Neste mês, as fábricas vão diminuir ainda mais o ritmo por conta das férias coletivas programadas para a maioria das linhas. A fábrica da Kasinski, contudo, está parada há cerca de um mês. A empresa antecipou as férias coletivas e seus funcionários ainda não voltaram porque agora estão em licença remunerada de mais 30 dias, conforme informações do sindicato dos metalúrgicos local.
 
Apesar da derrocada de quase todo o setor, nenhuma montadora perdeu tanto mercado como a Kasinski. Entre janeiro e junho, as vendas da marca caíram pela metade, com pouco mais de 5 mil unidades emplacadas. A empresa atribui o desempenho negativo à retração do crédito no Nordeste, onde está o maior mercado de motocicletas do país e região na qual a Kasinski também tem parcela significativa das vendas.
 
Essa é a segunda crise que o setor atravessa em cinco anos. Em 2009, no auge da crise financeira internacional, o problema também era a falta de crédito, mas o governo conseguiu socorrer a indústria com linhas especiais de financiamento e a eliminação da cobrança da Cofins nas vendas de motos populares. As medidas, junto com a aceleração da economia, permitiram a reação do mercado nos dois anos seguintes, levando ao recorde de mais de 2 milhões de motocicletas vendidas em 2011.
 
No ano passado, os volumes voltaram a cair e os bancos públicos foram novamente acionados para resgatar o setor. Em outubro, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal anunciaram condições especiais nos financiamentos de motos, depois que o Banco Central liberou depósitos compulsórios para essa finalidade. Dessa vez, porém, os bancos privados não acompanharam.
 
Fontes da indústria e de concessionárias relatam que a seletividade persiste. Segundo eles, a cada dez solicitações de crédito, só duas ou três são aprovadas. Números da Cetip mostram uma redução de 16% no número de motos novas financiadas neste ano, entre as modalidades de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) e consórcios.
 
Em dezembro, a Abraciclo, entidade que abriga os fabricantes de motos, projetou para 2013 um crescimento de 2,4% das vendas e de 3,7% na produção, após avaliar que o setor já tinha chegado ao fundo do poço. As metas, contudo, se tornaram pouco factíveis e devem ser revistas nesta quinta-feira (4), quando serão apresentados os resultados de junho e do acumulado do primeiro semestre. Até maio, as vendas no atacado - das montadoras às concessionárias - caíam 11%, enquanto a produção recuava 17,3%.
 
Por Eduardo Laguna/ Valor Econômico