Recuperação industrial é lenta, diz FGV

Indústria brasileira ainda patina sem esboçar sinais claros de uma forte retomada; recuperação do setor é a mais devagar em uma década.

Em meio a um cenário de instabilidade das condições macroeconômicas, a indústria brasileira patina sem dar sinais de aceleração no ritmo da atividade econômica. “É a recuperação mais lenta em uma década. A indústria desacelerou em 2011 e começou a recuperar no segundo trimestre do ano passado. Mas essa recuperação tem sido lenta”, argumentou o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Aloisio Campelo.
 
A prévia do índice de Confiança da Indústria (ICI) divulgada nesta quarta-feira (19) pela FGV apontou uma queda de 1,2% em junho em relação ao resultado apurado no mês passado. Analisando dados quantitativos e qualitativos, Campelo afirmou que há um avanço na atividade industrial, o que pode ser comprovado pelo Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) no segundo trimestre de 2013 ter ficado 0,3 ponto porcentual acima do primeiro trimestre de 2013, em 84,5%.
 
“A indústria está crescendo, o que é uma notícia favorável. Porém, há uma dúvida em relação ao ritmo de crescimento da indústria para este ano”, disse. Campelo avalia que, no momento e para os próximos meses, os indicadores de confiança mostram um crescimento moderado da atividade industrial.
 
Segundo o economista, os índices de confiança da indústria mostram uma perda de vigor desde fevereiro deste ano, indicando perda do ritmo industrial no segundo semestre de 2013. “O que dificulta o crescimento da indústria é o consumo das famílias, que desacelerou muito, e também a economia internacional.”
 
“A indústria local desenvolveu um relacionamento muito forte com a China e com a América Latina, e não há nenhum país com relação comercial com o Brasil que esteja registrando uma melhora”, afirmou Campelo, lembrando que essa situação dificulta a vida dos exportadores e dos que disputam com os importados.
 
Na semana passada, o governo federal lançou o programa Minha Casa Melhor, que concede crédito barato aos beneficiários do programa Minha Casa, Minha Vida para a aquisição de eletrodomésticos e móveis, tais como TV, sofás, camas, geladeiras e computadores.
 
Apesar de considerar que a iniciativa dever ter um impacto positivo nos setores produtores desses bens duráveis, Campelo ponderou que isso por si só não será suficiente para mudar o ritmo de expansão da indústria brasileira em 2013. “Tem impacto nesses setores. Mas, do ponto de vista indústria como um todo, não é tão relevante”, contemporizou.
 
Como exemplo disso, lembrou que a indústria automobilística, beneficiada pelo governo federal com incentivos fiscais, não tem sido capaz de alavancar o crescimento industrial em 2013, mesmo sendo um setor que tem efeito multiplicador em diversas cadeias produtivas. “O programa do governo federal colabora para o crescimento da indústria no ano, mas não a uma taxa expressiva. Há limitações para isso”, afirmou.
 
O que pode contribuir para uma melhora da atividade industrial é o movimento recente de desvalorização do real, que beneficia as indústrias exportadoras. “Um dólar entre R$ 2,15 e R$ 2,20 dá um impulso e faz uma diferença em relação ao patamar de R$ 2”, afirmou. Porém, Campelo ponderou que a própria indústria não mostra otimismo com o curto prazo da economia - o índice de expectativa da indústria caiu 1,3% em junho ante maio.
 
“A indústria quer esperar para confirmar esse patamar. Demora um pouco para que possa aproveitar os ganhos de competitividade trazidos pelo câmbio”, disse o economista, citando que a alta recente da Selic contribuiu para essa visão menos otimista do curto prazo.
 
Por Wellington Bahnemann/ O Estado de S. Paulo