Imposto elevado cria debate sobre importar ou fabricar

Imposto elevado cria debate sobre importar ou fabricar

Um carro importado que chega a um porto brasileiro por R$ 100 mil vai custar ao comprador 2,7 vezes mais - ou R$ 270 mil - por conta de impostos em cascata: 30% do Imposto de Importação, 13% de IPI para motores de dois litros ou de 25% para motores acima de dois litros, 12% de ICMS, 11,6% de PIS/Cofins, mais 7% a 10% de margem da concessionária.
 
Com o aumento do IPI para 30%, nos carros de motor com dois litros, e de 55%, para motores com mais de dois litros, o mesmo carro que custava R$ 100 mil é vendido por um valor 3,4 vezes superior - ou R$ 340 mil. A conta feita por fabricantes e importadores explica a queda de 40% nos negócios no ano passado, quando houve o impacto do aumento da alíquota do IPI determinada no fim de 2011 e depois parcialmente amenizada com a redução do tributo pelo governo para todo o setor automobilístico em maio do ano passado.
 
O lançamento do Inovar-Auto, definindo uma cota de 4.800 veículos que podem ser importados por ano, por marca, com IPI de 13% e acima disso com o tributo em 30% só ajudou a amenizar as perdas. Com a divulgação da regulamentação do regime automotivo, na semana passada, o setor acha que tem regras mais estáveis que possibilitam uma recuperação e até um pequeno crescimento na comparação com 2011, mas ainda paira como um entrave às fábricas que vinham vendendo acima da cota.
 
Para montadoras coreanas e japonesas, que importavam 60 mil carros por ano, a cota de 4.800 não é nada. Já para marcas de luxo como Rolls Royce e Ferrari, que vendem poucas unidades, é mais do que suficiente.
 
"Se a economia brasileira crescer 3%, teremos um crescimento de 4%. Se o PIB for menor, fico preocupado, mas ainda assim não será pior do que no ano passado. Os produtos que estão sendo lançados agora estão indo bem de venda, mas os importados ainda dependem de um cenário de maior segurança jurídica", diz Flávio Meneghetti, da Fenabrave. "Algumas metas do decreto que regulamentam o Inovar-Auto são difíceis de cumprir, mas quem não fizer fábrica no Brasil pode perder fatia de mercado", afirma Flavio Padovan, da Land Rover.
 
A BMW, que já assinou contrato para implantar uma fábrica em Santa Catarina, promete ser a primeira montadora a produzir um carro premium no Brasil. O projeto, que prevê a produção de 32 mil carros já em 2015, garante à empresa o direito de desde já trazer 8 mil carros mais os 4.800 da cota sem o excedente de IPI. O limite definido pelo Inovar-Auto, regulamentado na semana passada, já havia sido batido pela BMW, Land Rover e Mercedes Benz antes de 2010 e foi superado também por Volvo e Audi em 2011. A Mercedes, que projeta vender 8.500 carros este ano, a Audi, que estima vender 7.500, a Land Rover, que prevê comercializar 10 mil, e a Chrysler, que também trabalha com a meta de 10 mil veículos, terão de embutir no preço final dos carros que vendem o IPI de 30% no que exceder à cota de 4.800.
 
Todas elas manifestam interesse em abrir uma fábrica no país, mas ainda não tomaram a decisão. "Uma fábrica no Brasil é um projeto que vem sendo conduzido há algum tempo, antes mesmo do Inovar-Auto e da majoração do IPI, mas ainda faltam alguns detalhes da lei que precisam ser ajustados. Estamos em negociação, mas ainda não temos a decisão", diz Flavio Padovan, da Land Rover.
 
"O mercado brasileiro é o quarto maior do mundo. Cresce a uma taxa de 6% ao ano. As fábricas têm que participar deste mercado. A única possibilidade que o governo deu é abrir uma fábrica aqui e a empresa já informou, através de seu presidente, que está avaliando", afirma Dirlei Dias, da Mercedes Benz. "O projeto de implantação industrial passa por um volume maior de venda. Por enquanto não tem nenhum projeto pronto", afirma Luiz Tambor, da Chrysler. "Montar uma fábrica para vender dez mil carros não compensa o investimento", diz Flávio Meneghetti, da Fenabrave.