Sustentabilidade, a bola da vez

Ricardo Voltolini - [email protected]

A frase “encontre sustentabilidade com ótimos preços e enorme variedade”, utilizada para divulgar um site de vendas na Internet, soa tão estranha quanto o slogan da universidade que decidiu associar sua imagem à responsabilidade social, afirmando ter as mensalidades mais baixas do mercado. A estranheza, em um e outro caso, decorre do uso equivocado e fora de contexto de conceitos densos que, de tão falados, caem no gosto do público antes mesmo de serem compreendidos. E viram nomes fáceis, amplamente aceitos, para idéias que agradam diferentes platéias.

Esse é o risco que corre o termo sustentabilidade, a bola da vez no universo corporativo. Sustentabilidade não significa apenas um nome fácil, agradável e com sonoridade contemporânea. Também não se restringe a um código do mundo ambiental. É um conceito que tem história, cuja evolução, nas últimas duas décadas, reflete sobretudo o modo como a sociedade passou a enxergar o papel de empresas e organizações na garantia do futuro do planeta.

Aos que desconhecem o seu significado original, recomenda-se recorrer à primeira definição formulada pela Organização das Nações Unidas. Em seu famoso documento Nosso Futuro Comum (1987), elaborado no âmbito da Comissão Brundtland, a ONU explica sustentabilidade como o “atendimento das necessidades das gerações atuais sem comprometer a possibilidade de satisfação das gerações futuras”. Há nesse enunciado uma idéia-chave para a compreensão da essência do conceito: qualquer que seja a atividade humana, o benefício de hoje não pode ser obtido com o prejuízo das condições de vida dos que vão morar amanhã no planeta. Para as empresas, o recado implícito foi mais ou menos o seguinte: os ganhos econômicos presentes não podem gerar danos futuros às pessoas e ao mundo que habitam, sob pena de inviabilizar o planeta e, por tabela, a existência humana.

Esse claro acento ético explica a ênfase inicial nas questões de meio ambiente. Tanto que, no início do debate entre as empresas, sustentabilidade chamava-se desenvolvimento sustentável. E dizia respeito exclusivamente a cuidados com a gestão ambiental e ecoeficiência. Pressionadas por governos, comunidades e ONGs, as corporações passaram a se preocupar em emitir menos poluentes, lançar menos resíduos e sólidos e gerar o menor impacto possível nos processos de sua cadeia produtiva.

Foi só a partir da Eco-92, com o surgimento do WBCSD – Wolrd Business Council for Sustainable Development que as dimensões sociais e econômicas integraram-se à ambiental, abrindo espaço para uma noção mais sistêmica – ou mais holística, como preferem alguns – e para a ascensão de novas formas de pensar a atividade empresarial, como, por exemplo, a responsabilidade social empresarial. Assegurar a “satisfação das gerações futuras”, como prega a definição da ONU, exigirá preservar os recursos naturais. Mas também construir as bases de um mundo mais próspero, mais justo, menos violento, com desenvolvimento econômico equânime e oportunidades iguais para todos. Em outras palavras, um mundo sustentável.

Para melhor situar aqueles que trabalham em empresas, a sustentabilidade é a mãe da governança corporativa, do investimento social privado, da transparência, da ética empresarial e do relacionamento equilibrado com os stakeholders. O famoso triple botom line, viga-mestra do conceito mais atual de sustentabilidade empresarial, está longe de ser – como alguns imaginam – uma invenção de Wall Street. Muito menos uma abstração criada pelas escolas de management ou pelos financistas da Bolsa de Nova Iorque – a despeito de sua prática gerar, de fato, valor para os acionistas de empresas como se pode observar pelo ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial (Bovespa) ou pelo Dow Jones de Sustentabilidade (Bolsa de Nova Iorque). A existência de empresas que combinam crescimento econômico, ambiental e social nada mais é do que uma aspiração e uma conquista da sociedade moderna, produto da convicção construída, nos últimos vinte anos, de que o mesmo sistema econômico que produz riqueza e desenvolvimento deve preservar a vida, diminuir desigualdades sociais e garantir o bem-estar de cada um e de todos.

Bem-aventuradas as empresas sustentáveis. Porque elas serão as preferidas para se trabalhar, comprar, recomendar e ter ações.

Ricardo Voltolini é diretor de redação de Idéiasocial www.revistaideiasocial.com.br e consultor de Responsabilidade Social da Oficio Social

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