por Cirenini A. Aprileo    |   19/01/2017

Como quebrar uma empresa

Especialista em plástico faz um panorama da situa;ão mercadológica e produtiva no Brasil.

Estive ensaiando por um longo tempo para publicar este artigo, meu costume sempre foi de publicar minhas reflexões imediatamente sem muito cozinhá-las, mas este texto em particular obrigou-me a encubar mais tempo, a fim de eu não cometer injustiças, então vamos em frente!

Trabalho há muito tempo com consultorias na área de polímeros de engenharia e plásticos commodities. Ao longo desta carreira tenho visto e, às vezes vivenciado, alegrias e tristezas, onde as piores são as falências e quebras de boas companhias de fabricação de itens injetados, soprados ou extrudados. Há muitos indícios destas ocorrências, mas eu desejo apenas citar alguns de fácil solução e que muita gente nem enxerga. Óbvio que os tópicos citados abaixo servem para quaisquer outras empresas, basta apenas refletir e colocar os pensamentos na área em que você preferir, senão comente aqui suas percepções, terei enorme prazer em discutir com vocês a respeito!

Empresas quebram não só por falta de capital, clientes, mercados e produtos, na realidade estes itens são resultados, ela quebrou por outros fatores como:

Falta de experiência - Empreendedores e empresários abrem suas fábricas, acreditando que já possuem muita experiência, mas esquecem-se que ninguém sabe tudo e muitas vezes não há nem a experiência administrativa, de vendas, de produção, de captação de talentos, de negócios, de empatia, entre outras. Mas, particularmente, existe uma questão em experiência que podemos listar como a falha nos colaboradores da empresa, profissionais que são contratados com a finalidade de oferecer uma excelente prestação de serviços com conhecimento, experiência, atitude, empenho e comprometimento. Não basta contratar um Head Hunter ou uma agência de recolocação, se os talentos apresentados são pífios ou falsos. Espere, não me xingue, explico melhor!


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Contratamos profissionais com vistas a uma alta performance, avaliamos os currículos e escolhemos, na maior parte das vezes, aqueles que apresentaram melhor ou com bons resultados, com maior número de diplomas, cursos, boas empresas na carteira de trabalho ou em contratos, habilidades e experiências. Enfim, mas logo após a acomodação deste em seu novo emprego, vemos uma falta de experiência ou inabilidade ao trabalho. Vemos isto em todas as áreas, vendedores medíocres, consultores de vendas que nem sabem preencher um orçamento, não conhecem os produtos da empresa, não sabem atender um cliente, muito menos conhecem o termo urgência ou pós vendas, isso para citar um exemplo que todos conhecem. Falta de experiência, aqui resume-se o termo!

Ética e Comprometimento - Estas palavras, em alta na boca de todos, mas em falta nas atitudes da grande maioria, pois as pessoas comprometem-se e dão a palavra, mas não mantém e não cumprem o acordado, falham na mais básica das características humanas, se não der corda não adianta e alguns nem dando muita corda se mexem. Falta ética naqueles que constroem castelos e muitas vezes estão fazendo o que odeiam, apenas pelo salário. São sofredores, pois não amam o que fazem e infelizes, levando todos ao seu caminho para a destruição!

Educação e Conhecimento - Falta educação e conhecimento, vejo nas últimas duas décadas que o Brasil com seu fabuloso sistema de educação, formou e concedeu milhões de diplomas de nível técnico e superior, tentando assim subir a posição do país no IDH, porém temos visto pseudo profissionais sem condições alguma de exercer a profissão na qual estaria formado. O que vemos e presenciamos? Pessoas não qualificadas que se omitem de tudo e se escondem, que são incapazes de discutir e defender uma ideia, se é que possuam alguma ideia a ser defendida, isto em uma empresa é o caos, são aqueles profissionais que mesmo em liderança ou gerencia nada acrescentam e ainda fazem guerra entre os colaboradores. Pessoas da liderança ou de cargos de confiança que não conhecem do assunto profissional levam qualquer empresa a bancarrota. Eles não respeitam o cliente interno e muito menos o cliente externo, aquele que traz dinheiro para a empresa! Muitos fazem ouvidos de mercador!

Competência e Talento - São atributos muio procurados, mas escondidos ou em falta. Muito se falava dos QIs - Quoeficientes de Inteligência ( não é o Quem Indica), hoje fala-se em IE - Inteligência Emocional, aquela que traz bons relacionamentos e soluções através do descobrimento ou extração dos talentos e competências das equipes de trabalho, é isto que as empresas precisam, mas unidas aos demais itens citados, uma coisa não completa a falta das outras. Andorinha sozinha não indica nem faz verão! O profissional deve ter talento para não permitir omissões na busca por soluções e buscar a admissão dos erros. Aquele que admite seus erros evolue.

Nas transformadoras de itens plásticos por: injeção, extrusão, sopro, calandragem, casting, etc., a falta disso tudo, complementando com erros na escolha de máquinas, moldes, matérias primas e processos eficientes e eficazes, sem dúvidas, levará para auto destruição.

Atualmente, para citar alguns exemplos, vemos empresas produzindo itens ao consumidor sem o mínimo de qualidade, com desenho incorreto, especificações falhas, escolha de matérias primas erradas, projetos incorretos, vemos peças simples como os potes de alimentos que muitas empresas produzem cada vez mais finos que parecem até papel e quebram mesmo sem esforço: basta colocá-los no freezer e pronto, o pote rachou, extrapolaram a espessura mínima necessária à aplicação! Outras sabendo dos erros, talvez por isto, nem colocam a gravação ou logo no produto, já para o consumidor não reclamar, ou colocam aquelas etiquetas de papel que só sai com removedor ou solvente, depois que tira, adeus rastreamento. Esses dias vi uma empresa de escadas ofertando um produto, onde o degrau em Polietileno de Alta Densidade - PEAD, estava mau dimensionado, talvez até sem os aditivos necessários para resistência à intempéries, em alguns meses mudará de cor e ficará quebradiço, produto de segurança? Carros nacionais que fazem barulhos com baixíssima eficiência energética, alto preço de venda e com o preço dos combustíveis, onde chegaremos?

Adianta reclamar de produtos chineses? Não estou aqui tentando defender este ou aquele fornecedor, mas as nossas empresas de transformação não sabem fazer direito e não reclamamos para aqueles que fazem coisas erradas.

A solução é treinar as pessoas/profissionais, de forma a habilitá-los às suas funções, auditar o treinamento e aprendizado, acompanhar sem cansaço, melhorar tudo exigindo processos adequados, e os 3Ms melhores (máquinas, moldes e materiais), pessoas que gostem de CHÁ - Conhecimento, Habilidade e Atitude!

Eu acompanho muita gente que perde o emprego e nos procuram para treinamentos e apoio em recolocação, infelizmente, muitas já se queimaram por anos a fio em várias empresas, pois não pariticiparam das decisões, eram os famosos Paus Mandados, aceitavam tudo que lhes eram imposto e depois que o barco afundava eram depostos de seus cargos, penso que é necessário aprender para poder ter força para influenciar e defender opiniões, afinal de contas uma empresa precisa de gente capaz.

As escolas técnicas e de ensino superior, infelizmente também, acabam promovendo seus alunos, pois as vagas devem ser preenchidas com novos cadastros e o índice de repetência não é bom para a entidade de ensino, grande erro!

Quem trabalha com Plásticos sofre ao ouvir diariamente que o Plástico não presta, que é poluidor, que é nocivo, tóxico, ecologicamente incorreto, mas não é verdade e o pior aqueles profissionais que estudaram sobre o tema, os mesmos que possuem diplomas de técnicos, tecnólogos, químicos e engenheiros, nada fazem para discutir e defender opiniões diferentes, aceitando o marketing falso de muitas empresas. Recentemente, eu vi no YouTube uma vídeo de uma empresa de vidros informando com uma série de falácias e informações fantasiosas que os plásticos geram câncer se usados em alimentos! Será que tenho que repetir que é marketing...

Vamos nos calar e quebrar as empresas de transformação?

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

Cirenini A. Aprileo

Perfil do autor

PhD em Polímeros de engenharia com enfase em Poliuretanos, formação e experiencia internacional com mais de 25 anos de experiência em transformação, vendas e treinamentos.