Produção de carros é recorde em janeiro, mas faltam peças nas fábricas

Só a Fiat tem 3 mil veículos incompletos no pátio da fábrica de Betim e pode importar para garantir ritmo de produção

As montadoras registraram em janeiro recorde de produção, com 279,3 mil unidades - alta de 7,7% em relação a dezembro e 32% em comparação com janeiro do ano passado. Mas o crescimento poderia ter sido ainda maior. Algumas montadoras estão com problemas de abastecimento de peças. Só a Fiat tem 3 mil carros incompletos no pátio da fábrica de Betim (MG), à espera de itens como rodas de liga leve e componentes plásticos.

Segundo Cledorvino Belini, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e da Fiat, o resultado de janeiro poderia ter sido 5% maior, caso houvesse disponibilidade de peças.
 
"Alguns segmentos do setor de autopeças não estão investindo na mesma proporção (que as montadoras)", disse Belini. Se o problema persistir, "teremos de importar o que está faltando".
 
Outra razão para a falta de peças, segundo Bellini, é que a Fiat não deu férias coletivas no fim do ano - a dispensa ficou para este mês -, enquanto os fornecedores pararam suas linhas. O descompasso na produção afetou o abastecimento da montadora.
 
Segundo o executivo, parte do problema do estoque de carros incompletos deve ser resolvida com a parada de dez dias iniciada segunda-feira (4) na fábrica de Betim. Ele conta com o abastecimento normal de peças na volta dos funcionários. Outra alternativa, disse, é mudar a linha de produção, dando prioridade aos modelos com peças à disposição.
 
Na Volkswagen, segundo a comissão de fábrica, foram observados problemas pontuais de abastecimento, mas ligados a um aumento não programado na produção. A montadora não comentou o assunto, assim como a General Motors e a Ford.
 
O conselheiro do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Elias Mufarej, afirmou que o setor trabalha com ociosidade média de 25% e atendeu, sem problemas, o aumento da demanda das montadoras no fim de 2012. "Se há algum problema pontual, é o caso de as partes avaliarem, mas isso pode ocorrer quando há variação de mix de produção e chegada de novos produtos." Ele também acredita que algumas montadoras estão enfrentando atrasos com as peças importadas.
 
Mais vagas
Apesar do problema de abastecimento, Belini comemorou o bom início de ano. "Nunca se produziu tanto veículo num mês de janeiro na história desse País". Foram criados 1.403 empregos. As montadoras, incluindo as de tratores, empregam agora 150,9 mil pessoas, 5,9 mil a mais que há um ano.
 
A Anfavea espera crescimento de 4,5% na produção este ano, para 3,49 milhões de veículos. Em 2012, o setor teve o primeiro recuo em uma década, com queda de 1,9% em relação a 2011, para 3,34 milhões de veículos.
 
As vendas também foram recordes para janeiro, com 311,4 mil unidades, 16,1% a mais que no mesmo mês de 2012, mas 13,3% menores que em dezembro, quando houve corrida às lojas por causa do fim da redução integral do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O imposto voltou a ser cobrado gradualmente a partir deste mês.
 
O setor fechou janeiro com 298 mil carros em estoque, o equivalente a 29 dias de vendas. Em dezembro, eram 295 mil veículos (24 dias de vendas).
 
Por Cleide Silva/ O Estado de S. Paulo