Analistas apostam em reação automotiva

Especialistas acreditam que este ano as medidas de incentivos do governo comecem a surtir efeito

Os dados de 2012 sobre o setor automotivo, especialmente no segmento de veículos de carga, permitem dois olhares. O aspecto negativo é que os números ruins no segmento de autopeças se prolongaram ao longo de todo o ano. Mas há quem enxergue um 2013 promissor. Depois da retração na indústria de caminhões em termos de produção (- 40,5%) e vendas (-20,2%), a demanda por autopeças para veículos pesados tem chances de reagir neste ano - movimento que deve entrar no radar dos investidores em bolsa.

Os especialistas que defendem essa tese otimista apontam um conjunto de catalisadores que provocariam crescimento em 2013. "As medidas de estímulo feitas pelo governo no ano passado ainda não surtiram efeito, nem do ponto de vista de novos investimentos nem para a capacidade produtiva", afirma Karina Freitas, analista da corretora Concórdia, apostando que o movimento ainda vai ocorrer. Pelos cálculos de Ricardo Denadai, economista da Santander Asset Management, os resultados devem ser percebidos ao longo deste ano. Ele diz que a projeção para a Formação Bruta de Capital Fixo indica um avanço de 4,5% nos investimentos. Em 2012, o referencial mostrou retração de 3%.
 
A expectativa de "investimentos em infraestrutura", leia-se novos recursos em portos, ferrovias, rodovias, aeroportos, e "uma esperada boa safra agrícola" permitem estimar um crescimento de 20% na produção de veículos pesados, diz Elaine Rabelo, analista do setor industrial da CGD Securities. "Reiteramos nossa crença nas perspectivas positivas para a indústria automotiva e reforçamos nossa recomendação de compra para Randon, com preço-alvo de R$ 15, e para Iochpe-Maxion, com preço-alvo de R$ 39", afirma ela, em relatório. No último dia 8, os papéis fecharam cotados em R$ 11,95 e R$ 26,40, respectivamente.
 
A Iochpe, exposta aos segmentos de veículos leves e pesados e ferroviário, também compõe a carteira da corretora Concórdia. Além do potencial de retomada da indústria automotiva, Karina acredita que a companhia se beneficiará dos novos investimentos em ferrovias que ocorrerão neste ano. "Os leilões dos trechos já estão marcados para março", lembra a especialista. A empresa também pode lucrar com novos desembolsos pontuais, como o plano da VLI, empresa de logística integrada do grupo Vale, de investir R$ 9 bilhões entre 2013 e 2017. Parte disso seria utilizado para a compra de 37 locomotivas e 1,2 mil vagões. A representatividade do segmento de vagões e equipamentos ferroviários na receita da Iochpe é pequena (5,8%), tendo como base o último relatório trimestral. "Isso varia muito, porque não há constância na demanda. É um investimento grande para a operadora", diz Karina.
 
Apesar de ter retirado a ALL da carteira recomendada para esta semana, a equipe de análise da XP Investimentos mantém a ação da ALL no radar. Como o papel subiu 6,02% no ano (até o dia 8), os analistas consideraram o risco de o investidor partir para a venda e embolsar o ganho. Atenta ao possível aquecimento do transporte comercial de commodities, a XP ainda tem uma visão positiva da empresa. Segundo os analistas, a possibilidade de a companhia monetizar parte da Brado, subsidiária de logística de contêineres, o bom momento na agricultura e a concorrência dificultada pela natural barreira de entrada nesse mercado tornam a empresa uma opção atrativa. Mas é preciso estar atento à volatilidade do papel.
 
Outras questões sobre o futuro próximo tendem a impactar o setor industrial e, consequentemente, as empresas de logística e transportes. Uma delas é a possibilidade de o "governo fazer uso da política cambial como forma de favorecer a competitividade da indústria local", segundo relatório do HSBC, que estima o dólar em R$ 2,30 no fim do ano. Outra dúvida leva a um "flashback". Haverá novo apagão? Os analistas dizem que estão atentos. Se acontecer, tudo o que foi projetado para a indústria brasileira tende a ser revisado.
 
 
Por Karla Spotorno/ Valor Econômico