Crise derruba preço do ferro e Brasil não deve bater meta de exportação

Devido à queda no preço do minério, pela primeira vez o Brasil não alcançará a meta, criada pelo governo em 2003.

Destaque nas exportações do ano passado, possibilitando o melhor resultado comercial em quatro anos, o preço de itens básicos importantes da pauta brasileira, como do minério de ferro, recuou fortemente em 2012. Com isso, o governo já admite que a meta oficial de exportações não deverá ser cumprida pela primeira vez desde que foi criada, em 2003.

A meta para 2012 foi fixada pelo governo federal em US$ 264 bilhões, o que representaria, se cumprida, um crescimento de 3,1% sobre 2011 (US$ 254 bilhões). De janeiro a agosto deste ano, foram exportados US$ 160,5 bilhões, faltando R$ 103,4 bilhões entre setembro e dezembro para que a meta seja atingida – o que o Ministério do Desenvolvimento já informou que não deve acontecer. 
 
Segundo o MDIC, as metas de exportação existem desde 2003. Em todos os anos, a meta foi cumprida. Em 2009, com o agravamento da crise financeira, porém, o governo optou por não fixar uma meta formal. Em 2010 e 2011, os objetivos de US$ 168 bilhões e de US$ 228 bilhões foram atingidos com folga.
 
Crise internacional
A frustração da meta de exportações em 2012 é resultado, segundo analistas, da crise internacional, que conteve a demanda por produtos básicos, como os minerais metálicos exportados pelo Brasil, gerando queda em seu preço. O recuo do preço do minério de ferro – de 20% de janeiro a agosto – contribuiu para a queda de 24% nas vendas externas do produto neste ano, mais de US$ 6,1 bilhões em "perdas".
 
Ao todo, o superávit comercial comercial brasileiro (exportações menos importações) caiu US$ 6,8 bilhões de janeiro até agosto, na comparação com o mesmo período de 2011, para US$ 13,17 bilhões.
 
A expectativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) é de que as vendas externas do minério de ferro recuem US$ 12 bilhões em todo ano de 2012. 
 
"Além do minério de ferro, vai ter outros produtos que tambem vão ajudar a queda. Basicamente commodities [produtos básicos com cotação internacional, como minério de ferro, petróleo e alimentos]. O petróleo, café em grão e o açúcar, por exemplo. Todas as commodities metálicas, como ferro, cobre e alumínio [devem registrar queda]. Como o minério de ferro cai, automaticamente vai cair o aço. É a cadeia produtiva", avaliou José Augusto de Castro, presidente da AEB.
 
Para o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEAUSP) e presidente do Instituto Fractal, Celso Grisi, além da queda dos preços das commodities, a crise financeira e o protecionismo dos países para defender suas economias também impactam o desempenho das exportações brasileiras e o superávit da balança comercial do país.
 
"A atividade de comércio exterior está muito mais reduzida com a crise internacional. Os países se protegeram para ter uma certa preservação de suas economias internas. Mas o preço das commodities tem uma forte pressão sobre as exportações brasileiras. Também perdemos muito as nossas exportações de manufaturados e semimanufaturados [produtos industrializados] em função da perda de produtividade do país", avaliou Grisi.
 
Ele lembrou que o dólar operou com desvalorização, abaixo de R$ 1,60, R$ 1,70, durante "boa parte deste ano", resultando em preço baixo para as exportações. Segundo ele, a alta do dólar, registrada nos últimos meses por conta da piora da crise financeira e que favorece o preço das exportações brasileiras, ainda não compensa todos os problemas dee competividade da indústria nacional. "Falta investimento e modernização tecnológica. Nossas metas de exportação são muito dependentes das commodities agrícolas", avaliou o professor.
 
Alexandro Martello/ G1