Venda de carros é recorde em agosto

O que era para ser o último mês com a redução do IPI , transformou-se no melhor mês para a indústria de carros.

O governo decidiu na quarta-feira (29) estender até outubro os incentivos que levantaram a indústria automobilística neste ano, mas três meses de estímulos já foram suficientes para resolver os problemas enfrentados pelas montadoras e garantir o melhor resultado do setor na história.

No embalo da corrida de consumidores às revendas para aproveitar o que poderia ser o último mês de redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), agosto confirmou ser o melhor mês para a indústria de carros em todos os tempos.
 
Espera-se mais de 400 mil unidades emplacadas neste mês e, com a normalização dos estoques, as montadoras retomaram a produção - que, até julho, mostrava queda superior a 6% em meio a esforços para normalizar o volume de carros parados nos pátios.
 
A contratação de 600 operários pela Fiat, em Betim (MG), e as horas e jornadas extras promovidas por montadoras como General Motors e Honda são alguns dos indicadores de uma mudança na trajetória declinante que tinha marcado o ano até abril.
 
Dados preliminares sobre emplacamentos de carros em agosto mostram que os brasileiros compraram 358,5 mil automóveis e utilitários leves até quarta-feira. Ainda falta contabilizar os licenciamentos de ontem e de hoje, mas analistas e a própria indústria projetam que o setor conseguirá superar, pela primeira vez, a barreira dos 400 mil carros, batendo com folga o recorde registrado em dezembro de 2010, quando 361,2 mil unidades foram vendidas.
 
"Este mês vem com 50 mil carros a mais do que a gente esperava", comenta Rodrigo Nishida, analista da LCA.
 
O forte volume de agosto e a manutenção do IPI reduzido por, pelo menos, mais dois meses invertem previsões pessimistas e abrem espaço para o crescimento de 4% a 5% das vendas - traçado desde o início do ano pela Anfavea - entidade que representa as montadoras -, mas colocada em dúvida diante da desaceleração mostrada entre janeiro e abril.
 
Alguns analistas, contudo, já se arriscam a fazer previsões ainda mais otimistas. Para Raphael Galante, da consultoria Oikonomia, o mercado poderá crescer 12% em 2012, atingindo a impressionante marca de 3,8 milhões de carros - tirando da conta caminhões e ônibus. "Ninguém projetava isso, mas o mercado se aqueceu demais e alcançou um novo patamar de vendas", diz.
 
O ponto de inflexão foi o incentivo anunciado pelo governo no dia 21 de maio, que combinou a redução do IPI - de metade até a totalidade das alíquotas - a medidas para destravar o crédito, como o corte - de 2,5% para 1,5% - no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e liberações de compulsórios.
 
O mercado - que vinha numa média diária de vendas de 12,4 mil carros - viu esse número subir para 16,6 mil unidades no período de junho a agosto. Nesta semana - diante da possibilidade não confirmada de encerramento dos estímulos -, esse ritmo se intensificou para acima de 20 mil carros por dia.
 
De uma queda de 4,4% até maio, os emplacamentos de carros já mostram um crescimento próximo a 7% no acumulado de janeiro a agosto - conforme os números preliminares, ainda sujeito a alterações. A Fenabrave - entidade que representa as concessionárias - voltou a falar em aumento de 4% das vendas no ano, depois de projetar queda de 0,4%.
 
Embora seja pouco provável a manutenção dos volumes de agosto, analistas dizem que o mercado seguirá aquecido até o fim do ano. A expectativa se sustenta na prorrogação dos incentivos e nos resultados historicamente altos dos dois últimos meses do ano, sempre influenciados pela injeção de recursos do décimo terceiro salário e férias. Galante diz ainda que lançamentos - como o aguardado HB20, da Hyundai, ou o Etios, da Toyota -, também devem estimular as vendas nos próximos meses.
 
Paralelamente, o crédito mostra maior fluidez, embora ainda mais restritivo em relação a anos anteriores. Segundo a Fenabrave, os bancos já estão liberando em torno de 60% das solicitações de financiamento. Antes, o índice de aprovações estava em 35%.
 
Resta, no entanto, a dúvida se a indústria será capaz de atender a toda essa demanda, no momento em que se formam nas concessionárias filas de espera por alguns dos modelos mais populares. "O único problema está na capacidade das montadoras em liberar todos os produtos, principalmente aqueles de maior escala", diz o especialista Luiz Carlos Mello, que presidiu a Ford de 1987 a 1992.
 
Os números coletados até a quarta-feira (29) mostram liderança da Fiat nas vendas de carros em agosto, com 24,5% do mercado. Na sequência, aparecem Volkswagen (22%), General Motors (19%) e Ford (7,7%).
 
Por Eduardo Laguna/  Valor Econômico

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