Empresas nacionais vivem apagão logístico

Dificuldades de transporte causam prejuízos, atrasos e aumentos nos fretes

Fonte: Folha de S.Paulo - 04/06/07

Imagem: Divulgação

O aquecimento da economia já provoca gargalos no setor de transporte e logística do país. Há aumentos superiores a 20% nos custos de fretes rodoviários, filas de meses nas montadoras para a compra de caminhões novos e perda de negócios por falhas na entrega de mercadorias no prazo.

Segundo Ruy Hirschheimer, CEO para a América Latina da Electrolux, gigante da área de eletrodomésticos com fábricas em Curitiba (PR), São Carlos (SP) e Manaus (AM), "há falta generalizada de caminhões para o mercado interno e de navios para o externo".

"Estamos deixando de entregar mercadorias e perdendo competitividade. A mercadoria não chega na hora certa, há atrasos nos embarques e custos adicionais por conta disso", diz.

A Electrolux vendeu 26% mais em 2006 e continua crescendo. "O que emperra é a logística." Segundo o empresário, o frete de um eletrodoméstico do porto de Paranaguá (PR) para os EUA custa hoje o mesmo que o de uma mercadoria partindo da China para o mercado norte-americano, mesmo sendo a distância muito maior.

No moinho Pacífico, o maior da América Latina e que movimenta 30 mil toneladas/mês de trigo, os custos com transporte terrestre já foram majorados em 20% desde janeiro.

"Há uma pressão sistemática de custos na área de transporte", afirma Lawrence Pih, presidente do Pacífico. Segundo ele, os preços maiores com logística estão sendo compensados pela desvalorização do dólar, já que 70% do trigo consumido no Brasil é importado.

Em vários setores, as expectativas futuras de aumentos de produção e de demanda das empresas não batem com os investimentos previstos pelo país em infra-estrutura, seja em transporte ou em energia.

Na semana passada, o presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, disse não poder "planejar nada a partir de 2011, 2012 porque não há recursos energéticos suficientes".

O próprio governo federal reconhece só ter gasto até agora 3,5% dos recursos previstos para investimentos em infra-estrutura no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Deficiências

Segundo o Centro de Estudos em Logística, ligado à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os custos com transporte e logística no país equivalem a 12,75% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto nos EUA são de 8,20%.

Por deficiências de logística, exportar uma tonelada de soja do Brasil para a China --do norte de Mato Grosso, via porto de Paranaguá-- custa hoje US$ 18 (R$ 34) a mais do que fazer o mesmo do Estado norte-americano de Iowa, segundo levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

A entidade projeta que só para o transporte de minério de ferro haverá aumento de 65% na demanda por ferrovias nos próximos quatro anos. Para produtos siderúrgicos, de 18%.

"Há um risco iminente de novos gargalos, com uma pressão generalizada por reajuste nos fretes de carga", diz Renato Voltaire, diretor da Anut (Associação Nacional dos Usuários de Transporte de Carga).

O Brasil é extremamente dependente do transporte rodoviário, com cerca de 60% de toda a carga transportada movimentada por caminhões (contra 26% nos EUA). Já o transporte ferroviário (a maior parte destinado ao minério de ferro) representa apenas 23% no Brasil --40% nos EUA.

Segundo a Anfavea, que reúne as montadoras de caminhões, a "realidade do mercado hoje é de filas de compradores e gargalos na produção". O mesmo se dá no setor agrícola, onde a demanda por tratores e colheitadeiras subiu 29% no primeiro quadrimestre do ano.

Entre janeiro e abril foram licenciados 27.623 caminhões novos, 20% a mais do que em igual período de 2006. A demanda por caminhões semipesados chegou a subir 31%.

Para o diretor do Departamento de Infra-Estrutura da CNI, José de Freitas Mascarenhas, "o Brasil hoje não tem um sistema para cuidar da infra-estrutura. Só o Ministério dos Transportes, que se encarrega de obras cujos resultados vemos aí", diz, em referência aos recentes escândalos e desvios em obras revelados pela Operação Navalha, da Polícia Federal.

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