GM aprofunda corte de produção em São José

GM proibiu entrada dos funcionários ontem alegando questões de segurança

 

O processo de esvaziamento do complexo industrial da General Motors, em São José dos Campos, está cada vez mais claro. Ontem, a montadora suspendeu a produção na fábrica e concedeu licença remunerada para todos os seus 7,5 mil funcionários. Na semana passada, a empresa produziu o último Meriva e deve montar o último Corsa amanhã.
 
"A empresa já começou a retirar as peças que sobraram do Meriva e do Corsa e está transferindo o material para a antigo prédio da fundição", informou um funcionário da montadora que pediu para não ser identificado. A paralisação da fábrica no Vale do Paraíba acontece em meio ao impasse provocado pela ameaça de demissão de 1,5 mil trabalhadores do setor de MVA (Montagem de Veículos Automotivos), de onde saíam os modelos Meriva e Zafira e ainda produz o Corsa e o Sedã Classic.
 
O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos considerou ilegal a decisão da GM de suspender a produção por se tratar de "locaute" ou paralisação patronal, o que é proibido pela legislação brasileira, segundo a entidade. "Questionamos a forma com que os funcionários foram retirados da fábrica, durante a madrugada, e a intenção da empresa de impedir o direito de luta dos trabalhadores pela manutenção dos empregos", afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Antônio Ferreira de Barros, conhecido como Macapá.
 
No início da noite, o sindicato divulgou um comunicado informando que pretende realizar, hoje, uma grande assembleia geral com os funcionários da GM para definir os rumos da mobilização contra as possíveis demissões. Segundo o sindicato, caso a fábrica volte a operar, haverá assembleia já na entrada do primeiro turno, às 5h30.
 
No comunicado enviado aos empregados, a GM informou que a sua decisão tinha como objetivo proteger a integridade física dos trabalhadores, enquanto continuam as discussões com os representantes sindicais em relação ao futuro do setor MVA. A empresa também informou que teria fortes evidências de mobilizações internas no complexo.
 
Segundo funcionários ouvidos pelo Valor, a maioria dos empregados da GM de São José foi avisada do fechamento da fábrica ontem por meio de telefonemas durante a madrugada e também pelos motoristas dos ônibus encarregados de transportar os funcionários até a fábrica. Até o fechamento desta edição, a GM não havia confirmado aos empregados se haveria ou não expediente hoje.
 
"Até a segunda ordem estamos convocados para trabalhar. Mesmo porque a paralisação da unidade de São José dos Campos, por mais alguns dias, afetaria a produção de outras unidades da GM, uma vez que ela fornece motores para as demais fábricas da montadora", explicou um funcionário da montadora.
 
Sexta-feira haverá um feriado em São José dos Campos por conta do aniversário do município. O sindicato estima que cada dia de paralisação na fábrica da cidade represente um prejuízo da ordem de R$ 30 milhões. As demissões, se confirmadas, segundo um funcionário, devem ser comunicadas antes do dia 31 de julho, data do dissídio dos metalúrgicos.
 
O futuro da fábrica de São José dos Campos será discutido novamente hoje, em um encontro marcado para às 11 horas, no prédio da prefeitura. O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, Manoel Messias, intermediará a reunião entre a General Motors e o Sindicato dos Metalúrgicos.
 
Segundo o Ministério, a reunião de mediação já estava marcada desde a semana passada, antes de a situação entre as duas partes ficar ainda mais grave. No encontro, o secretário tentará conhecer quais as propostas da empresa, que dispensou alguns dos funcionários mas manteve suas remunerações.
 
O coordenador nacional da CSP-Conlutas, José Maria de Almeida, disse que as entidades sindicais irão cobrar uma postura mais firme da presidente Dilma Rousseff e do governo federal no sentido de se evitar as demissões em massa na GM.
 
Segundo Almeida, é inaceitável que uma empresa que foi beneficiada com isenção de impostos sobre Produtos Industrializados (IPI) tome esse tipo de medida, ainda mais quando esta mesma empresa tem registrado crescimento nas vendas.
 
Entre as propostas que serão reforçadas pelos sindicalistas para garantir os empregos na fábrica de São José, a mais viável, segundo eles, seria a transferência de 100% da produção do Classic para o município. Atualmente, segundo o sindicalista Macapá, 25% da produção do modelo já é feita em São José, o que dispensaria grandes investimentos na unidade. O Classic também é produzido em São Caetano e na fábrica da GM em Rosário, na Argentina.
 
Funcionários ouvidos pelo Valor disseram que, devido ao clima de apreensão que se instalou dentro da fábrica, o índice de adesão aos movimentos liderados pelo sindicato deverá ser muito baixo. "Na última eleição para a diretoria do sindicato, a corrente liderada pelo PSTU, que acabou vencendo, registrou uma perda histórica de apoio dos funcionários da GM. A chapa que fazia oposição ao candidato do PSTU venceu na GM com 60% dos votos", disse o funcionário. O sindicato de São José representa 42 mil trabalhadores e possui um total de 23 mil associados.
 
Por Vírginia Silveira/Valor Econômico

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