Estagnação no aço inox afeta as vendas da Ferbasa

Depressão do setor siderúrgico está se arrastando por toda a cadeia

 

A depressão do setor siderúrgico está se arrastando por toda a cadeia no Brasil e atingiu em cheio o segmento de ferroligas. Importantes fornecedoras da siderurgia, essas empresas começam a registrar declínio nos resultados e dificuldades no desenvolvimento de estratégias de crescimento. A situação já é evidenciada no desempenho da Ferbasa, a única produtora de ferroligas de capital aberto no país e especializada em material de cromo.
 
"O que vimos no ano passado foram as vendas despencando. Só tínhamos visto isso em 2008", afirmou ao Valor, Geraldo Lopes, presidente da Ferbasa. Para este, as perspectivas do mercado são ainda pouco promissoras.
 
O ano passado representou para a empresa uma queda de 5,7% nas vendas, que somaram 217 mil toneladas. A geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), por sua vez, declinou 34%, somando R$ 103,57 milhões.
 
Um dos grandes fatores que têm pressionado esses números é a forte dependência da empresa de um nicho específico - o aço inoxidável - que está estagnado. A empresa produz basicamente dois produtos: as ligas de ferrosilício, produto aplicado em toda a cadeia siderúrgica, usado como desoxidante, e as ligas de ferrocromo, utilizadas na produção do aço inox. As últimas são o carro-chefe, responsáveis por 65% do faturamento da empresa.
 
Não diferente dos outros segmentos da siderurgia, no entanto, desde 2008 o aço inox tem mostrado desempenho fraco. O consumo aparente (medido pela produção somada às importações, menos as exportações) de aço inox no Brasil caiu 6% entre 2008 e 2011, segundo dados da Associação Brasileira do Aço Inoxidável (Abinox). Acompanhando esse movimento, a produção brasileira perdeu 4% no mesmo período.
 
Diante do cenário, a utilização da capacidade produtiva da Ferbasa está ficando encolhida. Das 235 mil toneladas de ligas de ferrocromo e 100 mil toneladas de ferrosilício que podem ser produzidas pela empresa, só saíram no ano passado 236,1 mil toneladas de produtos da fábrica em Pojuca, na Bahia, o que significou uma queda de 11% da produção.
 
São diversos os motivos que explicam a morosidade do aço inox - desde a crise no mercado internacional, que retrai o consumo global, até o enfraquecimento da própria indústria brasileira. Contribuem para isso ao aumento das, tanto diretas (inox), quanto indiretas (produtos em inox). Em 2010, a entrada de bobinas inox já superavam 80 mil toneladas, o dobro do visto em 2009, segundo dados do Banco Central e do Ministério de Minas e Energia.
 
Já atendendo boa parte do consumo do país, as importações afetam os diversos setores em que o inox é aplicado, como na indústria alimentícia, na construção civil e bens de consumo. Isso faz com que os produtores, como a Aperam, diminuam suas perspectivas de crescimento e expansão produtiva.
 
"Hoje há excesso de capacidade no setor. Ainda não vemos a necessidade de expansão produtiva. A importação do produto acabado é muito alta", afirmou o diretor comercial da Aperam, Frederico Ayres Lima.
 
A empresa, nascida da cisão da divisão de aço inoxidável da ArcelorMittal, tem uma unidade em Minas Gerais, com capacidade de produzir 400 mil toneladas de aço inox ao ano. Também produz aço elétrico e carbono, que juntos, somam uma capacidade de 500 mil toneladas.
 
A fabricante é responsável por 40% das vendas da Ferbasa. Além de depender da produtora de aço inox, a produtora de ferroligas não pode contar com as exportações para crescer. A África do Sul, entre as maiores produtoras de ligas de cromo, abastece boa parte do mercado internacional, a preços competitivos. "Dependemos muito do mercado interno. Estamos passando por um teste de estresse", disse Lopes.
 
Por outro lado, ele acredita que o consumo de aço inox no país deve crescer, o que pode estimular novos investimentos na produção. No início do ano, inclusive, a empresa - de produção verticalizada - anunciou que pesquisas mostraram que suas reservas de minério de cromo podem triplicar de tamanho, para cerca de 40 milhões de toneladas. Hoje, a empresa explora o minério em duas áreas na Bahia e se diz pronta para expandir também sua produção de ligas. "Estamos com tudo preparado. Se nossos clientes de aço inox avançarem, nós avançamos", enfatizou o executivo. Já observando alguma melhora no mercado para este ano - principalmente diante da alta do dólar - a empresa planeja investir R$ 120 milhões em manutenção, plantio de florestas para produção do carvão vegetal, pesquisa mineral e na expansão da produção de ligas de ferrosilício.
 
Mas os projetos de expansão do ferrocromo não devem acontecer tão já. Sem grandes expectativas para mudanças radicais no consumo de aço inox, o principal cliente da Ferbasa não prevê novos investimentos. A estratégia de crescimento da Aperam é abrir novos mercados, como o de óleo e gás. "Agora, queremos crescer ajustando nosso portfólio. Nossos investimentos estão mais voltados para o ganho em competitividade do que o ganho em volume de produção", completou Ayres Lima. 
 
 

Tópicos: