Vale vai investir em parques eólicos

A mineradora e a elétrica australiana Pacific Hydro formaram uma joint venture para construir e operar dois parques eólicos no Rio Grande do Norte

 

A Vale vai entrar no negócio de energia eólica. A mineradora e a elétrica australiana Pacific Hydro formaram uma joint venture para construir e operar dois parques eólicos no Rio Grande do Norte. Com investimentos de R$ 650 milhões, os projetos terão capacidade instalada total de aproximadamente 140 megawatts (MW).
 
O acordo, acertado na última semana, será assinado hoje, no Rio de Janeiro, em cerimônia que contará com a presença do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão; a primeira ministra da Austrália, Julia Gillard; o presidente da Vale, Murilo Ferreira; e o principal executivo mundial da Pacific Hydro, Rob Grant.
 
Os projetos já possuem licença ambiental de instalação e estão previstos para entrar em operação em 2014. As duas empresas estão negociando agora a compra dos equipamentos no mercado. Por esse motivo, a potência exata dos projetos ainda será definida, de acordo com o modelo dos aerogeradores que forem comprados.
 
Pelo acordo firmado, cada empresa terá 50% do negócio. Mas a energia será integralmente consumida pela Vale durante 20 anos. O contrato de longo prazo assinado entre as partes dará as condições necessárias para obterem o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A expectativa é que a instituição financie até 70% do valor total dos parques.
 
As sócias ainda avaliam como os parques serão ligados ao sistema elétrico. As duas alternativas em estudo são utilizar uma estação coletora (um tipo de subestação que interliga várias eólicas à rede nacional) ou conectar diretamente a uma subestação existente no Estado.
 
"Vamos fazer [essa eólica] para ver como fica. Temos uma expectativa muito positiva. A primeira ministra está simplesmente motivadíssima com esse acordo", disse ontem ao Valor o presidente da Vale, Murilo Ferreira.
 
A mineradora possui outro projeto eólico em estudo no Ceará, mas ainda não há previsão de quando ele será aprovado pelo conselho de administração da empresa. Nesse caso, em princípio, a Vale pretende desenvolver sozinha o projeto.
 
Segundo o diretor de Energia da Vale, Ricardo Mendes, os parques eólicos no Rio Grande do Norte e a participação de 9% na hidrelétrica de Belo Monte (de 11, 233 mil megawatts, no Pará) contribuirão para a mineradora aumentar, de 45% para 50%, seu índice de autossuficiência energética. Atualmente, a Vale também possui participação em nove hidrelétricas e quatro pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) em operação no país. A companhia ainda tem 43,9% da hidrelétrica de Santa Isabel (TO), projeto ainda no papel, mas cuja concessão foi prorrogada este ano pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
 
A Vale responde por cerca de 2% de todo o consumo de energia elétrica do país, de aproximadamente 60 mil MW médios. De acordo com a empresa, sua demanda global de energia deverá crescer 150% até 2020. Por isso, a estratégia da mineradora é ampliar seu índice de autossuficiência energética e, ao mesmo tempo, investir em energias renováveis, dentro do conceito de sustentabilidade, conforme planos da gestão de Murilo Ferreira. A Vale está avaliando outros investimentos em eólicas, PCHs e usinas a biomassa.
 
Segundo Mendes, a parceria também está em linha com o objetivo de reduzir o custo com o insumo energético, para aumentar sua competitividade no mercado global. "Como estamos vendo atualmente, a energia eólica se tornou competitiva. Especialmente fazendo o investimento e tendo o ativo, temos um custo competitivo", explicou.
 
De acordo com Grant, da Pacific Hydro, esse modelo de comercialização de energia, que combina mercado livre e autoprodução, para parques eólicos é inédito no Brasil. "Esse tipo de acordo dá uma flexibilidade maior em relação aos leilões negociados pelo governo, pois o fornecimento de energia ocorre onde o cliente precisa. Esse modelo satisfaz os clientes que precisam de energia e priorizam a energia limpa no seu portfólio", disse o executivo.
 
Grant afirmou que a Pacific Hydro tem experiências bem sucedidas nesse tipo de negociação na Austrália. Entre os clientes da empresa estão unidades das mineradoras Rio Tinto, na Austrália, e Codelco, no Chile.
 
No Brasil, a Pacific Hydro possui dois parques eólicos em operação, no total de 58 megawatts. A companhia planeja alcançar 500 megawatts nos próximos cinco anos no país.
 
O Brasil responde por 10% da receita mundial do grupo australiano. A meta, segundo Grant, é que essa fatia seja elevada para 30%, até 2017. A empresa, que pertence ao fundo australiano da área de infraestrutura IFM, não informa o seu faturamento.
 
Por Rodrigo Polito/Valor Econômico

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