Cenário ruim derruba previsão para PIB dos EUA

A economia americana continua a perder embalo, ao mesmo tempo em que eventos que poderiam impedir sua recuperação ganham força no resto do mundo.

Nesta semana, novos dados vieram indicar que a recuperação econômica está fazendo água pelo terceiro ano consecutivo. O número de demissões está crescendo, a produção industrial, caindo e o consumidor, cortando gastos em meio à incerteza crescente. Para piorar, a maioria desses indicadores precede o agravamento da crise na Europa, que atingiu mercados financeiros e derrubou a demanda por bens americanos no exterior.

A maioria dos economistas ainda espera que os Estados Unidos consigam evitar uma recessão. Mas projetam crescimento baixo - cerca de 2% - para o resto do ano, ritmo lento demais para derrubar o índice de desemprego e insuficiente para blindar o país caso a crise na Europa se agrave.
 
A meia-volta é um recuo em relação ao avanço do começo do ano, quando meses de forte crescimento do emprego e do consumo reavivaram a esperança de que o país finalmente sairia da pasmaceira. Muitos economistas sugeriram que a recuperação finalmente tinha fôlego suficiente para sobreviver a outra leva de más notícias.
 
Agora, esse otimismo está evaporando. Na quarta-feira, o Departamento do Comércio americano divulgou que o crescimento das vendas no varejo estancou em maio e que o avanço em abril foi menor do que a princípio se acreditava. Na quinta, o Departamento do Trabalho informou que o número de novos pedidos de seguro-desemprego subiu na semana passada e que um indicador menos volátil - a média dinâmica de quatro semanas - atingiu o maior nível desde o começo de abril. E, na sexta, o Federal Reserve (o banco central do país) afirmou que a produção industrial recuou em maio pela segunda vez em três meses, e que outro indicador da atividade industrial, só para a região de Nova York, caiu drasticamente.
 
"Se pegarmos vendas no varejo, se pegarmos a produção industrial, isso aí é o âmago da economia", disse Jonathan Basile, economista do Credit Suisse. "E, se formos olhar esses indicadores, eles estão dizendo que a coisa está desaquecendo."
 
Aqui e ali, há sinais de esperança. O mercado imobiliário parece estar se estabilizando, embora os preços ainda estejam caindo. E a forte queda nos preços do petróleo deve dar um empurrãozinho tanto aos cidadãos quanto às empresas. Mas, enquanto no início do ano o consumidor parecia disposto a ignorar a alta da gasolina em meio a boas notícias econômicas, hoje o americano parece estar dando mais peso à queda no crescimento do emprego e à volatilidade do mercado do que à gasolina mais barata nos postos. Na sexta-feira, um indicador da confiança do consumidor medido pela Universidade de Michigan e pela Thomson-Reuters caiu pela primeira vez em dez meses, atingindo seu menor patamar desde dezembro.
 
Daired Ogle, que tem um salão de beleza sofisticado em Arlington, no Texas, disse que todas essas partidas em falso nos últimos anos deixaram a clientela receosa mesmo quando há boa notícia. "Esse vaivém que nós vemos impede a pessoa de entrar e gastar para valer", disse Ogle. "Hoje em dia, a gastança é mais comedida."
 
Ogle também está agindo com mais cautela. Adiou planos de refazer o site do spa, cuja conta segundo ele seria de dezenas de milhares de dólares. "Até que a situação esteja um pouco mais positiva, vamos esperar", disse ele.
 
O agravamento do cenário não poderia vir em pior hora. Especialistas alertam que o colapso da zona do euro poderia provocar o pior congelamento do crédito desde a derrocada do Lehman Brothers em 2008. Ainda que a crise perca força, grande parte da Europa já está em recessão, o que abala tanto investidores como exportadores. E problemas na Europa já causaram uma desaceleração inesperadamente forte na China, que era um dos poucos motores confiáveis do crescimento mundial.
 
A Harting Inc., fabricante americana de conectores industriais para aplicações tão distintas quanto motores de trem e servidores de computador, registrou um acentuado crescimento no começo do ano, disse o diretor-presidente da empresa, Rolf Meyer. Mas, de abril para cá, a demanda começou a cair para projetos de curto prazo, mais sensíveis a flutuações econômicas, disse ele. Meyer citou uma queda na demanda de produtores de máquinas-ferramentas, que são usadas em fábricas ao redor do mundo.
 
"Estão definitivamente pisando no freio", disse Meyer, em alusão ao setor de máquinas-ferramentas. "O mercado na China está basicamente parado, o mercado na Europa está basicamente parado e, agora, o mercado nos EUA está perdendo fôlego."
 
Economistas estão cada vez mais pessimistas sobre o panorama nos EUA. Economistas ouvidos pelo "WSJ" reduziram reiteradamente suas projeções de crescimento nos últimos meses e, agora, esperam que a economia cresça a uma taxa anualizada de 2,2% no atual trimestre, que termina em 30 de junho, e a uma taxa anualizada de 2,3% de julho a 
setembro. Seria mais do que o crescimento no mesmo período do ano anterior, quando a economia por pouco não mergulhou de volta numa recessão - mas um recuo em relação ao final do ano passado. Também seria um resultado bem aquém do esperado por economistas menos de três meses atrás.
 
"A economia americana está em órbita de baixa altitude, mas é ameaçada por dois meteoros desgovernados, a crise do euro e o desfiladeiro fiscal, que podem tirá-la de órbita", disse Allen Sinai, da Decision Economics.
 
Às vésperas de sua reunião de política econômica, marcada para esta semana, autoridades do Federal Reserve estão de olho nos dados econômicos. Em seu último encontro, em abril, a maioria dos dirigentes do banco ainda esperava que o número de contratações e o crescimento fossem subir este ano - daí terem optado por não lançar novas medidas de estímulo à economia. Nas últimas semanas, diante da deterioração das condições econômicas, membros da ala mais intervencionista do Fed vêm defendendo medidas de estímulo. Outros membros seguem cautelosos; em depoimento ao Congresso na semana passada, o presidente do banco, Ben Bernanke, não sinalizou nenhuma intervenção nova.
 
A maioria dos observadores ainda não espera novas medidas da reunião deste mês, mas crê que é maior a probabilidade de que o Fed aja mais à frente, ainda neste ano. Mais de 37% dos economistas ouvidos pelo "WSJ" esperavam que o Fed embarcasse neste ano em uma nova rodada de compra de títulos, conhecida como "relaxamento quantitativo", contra 24% dos economistas no mês passado.
 

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