Abimaq projeta recuperação no segundo semestre

Abimaq critica o governo por incentivar apenas o consumo enquanto o país apresenta baixas taxas de investimentos

 

Mesmo depois de divulgar um início de segundo trimestre ruim, a indústria de máquinas e equipamentos projeta uma melhora de cenário para a segunda metade do ano. De acordo com o diretor da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), Carlos Pastoriza, a projeção se sustenta por incentivos do governo que devem surtir efeito a partir de julho, como a desoneração da folha, e pela estabilização do câmbio próximo a R$ 2.
 
Dados divulgados ontem pela Abimaq apontaram que o faturamento bruto do setor caiu 5,8% em abril ante igual mês de 2011, na comparação deflacionada pelo Índice de Preços por Atacado (IPA). Foi a primeira queda do índice em 2012. No acumulado do ano, os ganhos em faturamento que eram de 5,1% no primeiro trimestre passaram a uma alta de apenas 1,6% no quadrimestre encerrado em abril, nas comparações com períodos equivalentes de 2011.
 
"No segundo trimestre não tem mais como [recuperar o faturamento], mas no segundo semestre nós vamos colher frutos", disse Pastoriza. O diretor elogiou a atuação do governo federal no corte de juros, tanto por meio das linhas subsidiadas pelo BNDES como pela pressão sobre os bancos comerciais, e a recuperação do câmbio. Ele ressaltou, no entanto, que o efeito do dólar mais valorizado ainda levará alguns meses para ser sentido, pois a indústria de máquinas e equipamentos tem uma fatia importante de contratos de importação e estoques atrelados a valores antigos de câmbio.
 
Apesar de ver com bons olhos a queda nos juros em todos os setores da economia, a Abimaq critica o governo por incentivar apenas o consumo enquanto o país apresenta baixas taxas de investimentos, em torno de 19% do PIB. Para Pastoriza, o país precisaria ultrapassar 23% do PIB em formação bruta de capital fixo para reverter o processo de desindustrialização. No setor, Pastoriza aponta que ainda é alta a proporção de importação indireta: "A gente ainda observa crescimento na desnacionalização, pois o custo de componentes continua mais barato lá fora."
 
Questionado sobre o que pode ter causado a retração do faturamento em abril, o diretor ponderou que a Abimaq ainda precisa fazer uma análise mais completa, mas que a recente instabilidade do câmbio pode ter feito com que os empresários adiassem a compra de equipamentos. "O ajuste de câmbio é muito bom, mas nos preocupa a instabilidade", disse.
 
Abril foi um mês de índices negativos também para o quadro de pessoal da indústria de máquinas e para o uso da capacidade instalada. O número de empregados recuou pelo terceiro mês seguido, caindo 0,5% frente ao mesmo mês do ano passado, para 259,14 mil. A média mensal do nível de utilização da capacidade instalada do setor atingiu 77%, no quarto recuo consecutivo e queda de 6,1% em relação a abril de 2011.
 
O déficit da balança comercial da indústria de equipamentos aumentou 6,8% no acumulado do ano, frente ao primeiro quadrimestre de 2011, atingindo US$ 5,9 bilhões. As exportações avançaram 14,8% e as importações subiram 9,9% na mesma base de comparação, com desaceleração dos dois índices frente ao observado no primeiro trimestre. Já o consumo aparente teve alta no quadrimestre, de 7,6%, e avançou 6,8% na comparação com abril de 2011.
 
Por Ana Fernandes/Valor Econômico

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