GM adia decisão sobre fábrica em SC

Queda da demanda na Europa dá lugar a produção para o Brasil

A crise na Europa e a valorização do real em relação ao euro estão ajudando a direção da General Motors a adiar os planos de construir uma fábrica de módulos de transmissão no Brasil. Mais de um terço do volume desses componentes usado pela montadora no Brasil são trazidos da Hungria. Mas caso a empresa decida mesmo fazer o investimento, a escolha da localização já está definida, segundo o presidente da GM na América do Sul, Jaime Ardila. Será mesmo, confirma o executivo, ao lado da fábrica de motores, que está sendo construída em Joinville (SC).

Por um lado, a queda de demanda na Europa ajuda a GM a aproveitar a ociosidade nas instalações europeias para suprir o mercado brasileiro, que, ao contrário, está na fase de crescimento. Ardila não confirma, no entanto, que esta seja uma estratégia planejada pela companhia. "Já faz vários anos que compramos da Hungria", diz. Por outro lado, o executivo reconhece a vantagem cambial, que favorece as importações da Europa.

Leia também:
CEO da Land Rover confirma planos de fábrica no Brasil
Montadoras europeias falam em antecipar investimento no Brasil

A produção húngara representa 30% das necessidades que a GM tem para abastecer o Brasil e Argentina. Os 70% restantes são fornecidos pela fábrica da montadora em São José dos Campos (SP). O executivo não revela quanto tempo a direção da empresa levará para tomar a decisão final sobre investimento para ter uma produção dos módulos de transmissão totalmente nacional. Ele lembra, aliás, que o contrato com a Europa está garantido até 2014. Somente uma reversão na crise na economia europeia, o que não é esperado, seria motivo de a empresa ter alguma pressa para tomar a decisão.

O governo de Santa Catarina esperava que a decisão saísse em breve. Por se tratar de componente importante para o chamado trem de força dos veículos, uma linha de produção de módulos de transmissão exige investimento elevado. No caso da GM, são esperados pelo menos R$ 350 milhões.

As palavras de Ardila servem, no entanto, para encerrar especulações de que outros Estados estariam na disputa pelo empreendimento. "Se fizermos o investimento, será em Joinville, ao lado da fábrica de motores", diz o executivo. As perspectivas de mercado favorecem, no entanto, as expectativas do governo catarinense. A montadora precisa acelerar os planos de aumento de capacidade de produção no Mercosul, hoje em torno de um milhão de veículos por ano.

A GM se prepara para entrar no segmento dos carros subcompactos no Brasil, segundo Ardila. Esse tipo de veículo não entra necessariamente na faixa dos mais baratos, pois costuma oferecer itens de conforto dos modelos mais caros. O modelo que a GM pretende fabricar no país não estará entre os sete lançamento que a montadora prepara para este ano no Brasil. Mas, segundo o executivo, "em algum momento" a GM vai participar desse segmento, seguindo a tendência de outras concorrentes.

A Volkswagen já anunciou o plano de entrar nessa faixa de mercado, que traria um carro menor que o Gol. A fábrica que a Fiat começa a construir em Pernambuco também será dedicada a um veículo com essas características.

Ardila não revela se a empresa pretende basear o produto brasileiro em plataforma já existente na sua linha de produtos pequenos, projetados na Coreia, ou se prefere desenvolver um veículo novo.

Entre os importados, o Picanto, da Kia, ocupou boa parte desse mercado. Mas a competitividade da marca coreana tende a diminuir com o aumento do IPI em carros estrangeiros.

O carro que a GM quer ter no Brasil estaria numa faixa de mercado adicional àquela ocupada pelos carros minúsculos de luxo. "É um segmento é ainda pouco explorado no Brasil, mas tende a se desenvolver", diz Ardila.

Carros pequenos com atrativos de segurança e conforto, como ar condicionado e direção hidráulica, tendem a atrair mais consumidores de um país onde o aumento do poder aquisitivo eleva, gradativamente, a rejeição pelos carros populares, mais simples. Para a presidente da GM do Brasil, Grace Lieblein, os modelos populares "continuarão sendo importantes".


Tópicos: