Pesquisadores investigam impacto do etanol nos motores

Parceria reúne três universidades, cinco montadoras e a Petrobras

Um consórcio entre empresas e universidades está estudando maneiras de aperfeiçoar motores bicombustível em uma pesquisa pré-competitiva que acaba de receber apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Conduzido por cinco montadoras de veículos – Volkswagen, Fiat, Renault, General Motors e PSA Peugeot Citroën –, uma fabricante de peças de motores – Mahle Metal Leve –, a Petrobras e três instituições de ensino superior sediadas no Estado – Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal do ABC (UFABC) –, o projeto "Desafios Tribológicos em Motores Flex-Fuel"  tem como foco a área de tribologia, ciência voltada ao entendimento dos fenômenos relativos ao atrito, desgaste e lubrificação.

De acordo com o projeto, o uso de etanol em motores, além do aumento de solicitação decorrente da maior pressão de combustão, incorpora condicionantes ainda mal entendidas como possível lavagem e diluição do lubrificante durante a partida a frio, ambiente mais corrosivo, ou, de modo geral, alteração no meio ambiente do sistema tribológico, o que já têm resultado em falhas nos componentes de motores.
 
Eduardo Tomanik, gestor de inovação da Mahle Metal Leve, foi um dos idealizadores da iniciativa em 2009, juntamente com o professor Amilton Sinatora, da Escola Politécnica da USP, que coordena o projeto. "Problemas e oportunidades de motores flex-fuel são uma peculiaridade do Brasil. As montadoras estão começando a fazer pesquisa sobre isso no exterior, em consórcios, de maneira semelhante ao nosso, como na Inglaterra, por exemplo", explica Tomanik em entrevista a Inovação Unicamp. Segundo ele, a indústria brasileira apenas adaptou o motor movido a gasolina para uso com etanol, sem um esforço de pesquisa e desenvolvimento mais aprofundado.
 
Aportes em três anos

Entre agosto de 2009, quando começou a ser estruturado o consócio, e agosto de 2011, quando a Fapesp aprovou um projeto de três anos de duração pela linha de fomento Parceria para Inovação Tecnológica (PITE), as universidades já haviam começado a direcionar o trabalho dos grupos de pesquisa para o estudo das soluções tribológicas nos motores bicombustível com seus próprios recursos de bolsas para os doutorandos. Atualmente, o consórcio conta com aproximadamente dez subprojetos, conduzidos nas três universidades. A Petrobras já fez um aporte unitário de R$ 820 mil em dezembro de 2010 para a aquisição de um tribômetro, que será utilizado na USP, pela equipe de Sinatora. A inauguração do espaço no Laboratório de Fenômenos de Superfície, na Escola Politécnica - recém reformado com recursos da petrolífera para abrigar o novo equipamento -, deverá ocorrer em janeiro. A coordenação do projeto estima que a assinatura do consórcio pelas empresas acontecerá até janeiro. Atualmente os participantes estão discutindo as cláusulas de propriedade intelectual do acordo de pesquisa pré-competitiva. A expectativa do grupo é de que novas empresas possam entrar no consórcio à medida que ele se consolide, sendo que atualmente a Vale Soluções em Energia (VSE) estuda entrar no projeto. As cinco montadoras e a Mahle farão um aporte anual individual de R$ 100 mil durante três anos, totalizando R$ 1,8 milhão. Com os recursos da Fapesp pelo PITE, o valor total do consórcio será de aproximadamente de R$ 5 milhões, com duração até julho de 2014.
 
"Nós não esperamos desenvolver produtos novos nesse consórcio, pois ele envolve firmas concorrentes, mas queremos gerar um conhecimento que alavanque desenvolvimentos futuros. Mais do que desenvolver um novo produto, queremos trazer conhecimento estruturado sobre o problema, tanto na indústria quando na academia, para conseguirmos soluções inéditas." Na indústria de transformação brasileira, o setor de automóveis, camionetas, utilitários, caminhões e ônibus é o que apresenta a maior taxa de inovação (83,2%), de acordo com a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2006 e 2008.


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