Déficit comercial do setor automotivo quase triplicou em relação a 2010

O déficit da balança comercial do setor automotivo brasileiro, em unidades, está quase três vezes maior que o registrado de janeiro a julho do ano passado. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o Brasil importou nos sete primeiros meses deste ano 457,4 mil veículos e exportou 296,4 mil, resultado num saldo negativo de 160,9 mil carros. No mesmo período de 2010, esse saldo era negativo em 55,4 mil unidades.

Considerando as exportações de julho em comparação a junho, houve um aumento de 27,2%, mas, segundo o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, isso ocorreu em razão de algum atraso nos portos. "Esse salto se deve provavelmente a algum navio que deveria ter partido em junho e só partiu em julho. Na média, as exportações continuam estáveis", afirmou.

Estoques
Os estoques de veículos nos pátios das montadoras e nas concessionárias somavam 367.100 unidades no final de julho, equivalendo a 36 dias de venda. Em junho, os estoques representavam 33 dias de venda. O número é crítico, apesar de Belini ter dito que considera o nível de estoque "normal".

No encontro com a imprensa no mês passado, porém, ele afirmou que estoques a partir de 35 dias começam a pesar nos custos das empresas.Segundo os dados da Anfavea, a indústria encerrou o mês de julho com 126.007 unidades em estoque, o que representa 12 dias de venda (em junho eram 10 dias). Já nas concessionárias haviam 241.093 veículos, o que equivale a 24 dias de vendas (em junho eram 23 dias).

Produção recorde
As montadoras brasileiras registraram em julho recorde de produção para o mês. Foram fabricadas no País 307,2 mil unidades, 3,9% a mais do que em junho e 5,7% a mais do que em julho do ano passado. A produção nos sete primeiros meses do ano também foi recorde para o período e atingiu 2,02 milhões de unidades, 4,3% a mais do que de janeiro a julho do ano passado.

Nacionalização
As montadoras consideram viável que o governo exija um índice de 60% de componentes nacionais como contrapartida para que as empresas tenham direito ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido. "Um índice em torno de 60% é um porcentual viável", afirmou Belini.

Atualmente, é exigido índice de 60% de componentes fabricados no Mercosul para os carros comercializados com isenção de imposto entre os países no bloco. Belini não soube informar, porém, qual é hoje o porcentual só de peças brasileiras. "Isso depende de cada montadora", afirmou.

A redução do IPI está prevista na Medida Provisória nº 540, publicada ontem no Diário Oficial da União (DOU). A regulamentação da medida será feita por decreto e estabelecerá o porcentual limite de peças importadas que será aceito para que a montadora tenha direito ao benefício. Belini não acredita que a regulamentação fique pronta nos próximos 15 dias, como chegou a ser anunciado ontem. "É um assunto complexo. A desoneração tributária não é simples e o imposto é cobrado em cadeia. Deve levar mais tempo", afirmou.

O governo irá reduzir a alíquota de IPI para montadoras instaladas no Brasil até julho de 2016 desde que elas atendam requisitos de, por exemplo, conteúdo nacional na produção e inovação tecnológica. Isso não significa que o carro ficará mais barato para o consumidor. A ideia é que as empresas usem o dinheiro do imposto para desenvolver projetos que tornem a indústria automobilística nacional mais competitiva. "Mas ainda não está claro como será feita essa desoneração. Tudo isso ainda será discutido com o governo."


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