Asiáticos invadem mercado de máquinas e acirram disputa

Se todos os planos anunciados até agora saírem dentro dos prazos estabelecidos, quatro gigantes asiáticos da indústria de máquinas pesadas de construção vão desembarcar no Brasil nos próximos dois anos. Juntas, as companhias sul-coreanas Hyundai e Doosan mais as chinesas Sany e Xuzhou Construction Machinery Group (XCMG) planejam aplicar o total de US$ 610 milhões na instalação de fábricas no país.

O motivo que levou essas empresas a apostar no mercado brasileiro é bem conhecido: a necessidade de o país realizar robustos investimentos em obras nos próximos anos para minimizar seu déficit habitacional, corrigir gargalos no setor de infraestrutura, explorar cada vez mais recursos minerais para atender à demanda global por commodities e, ainda, estar preparado para a realização de dois megaeventos esportivos - a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.

A presença das máquinas desses fabricantes nos canteiros de obras espalhados pelo Brasil, contudo, já não é uma novidade. Antes mesmo de começar a produzir no país, as marcas asiáticas encontraram no mercado local as condições favoráveis - real forte e consumo crescente - para deslocar parte da produção que deixou de ter abrigo nos países desenvolvidos após a crise financeira.

Seja pela ocupação de espaços deixados pela falta de tecnologia nacional seja pelo ganho de competitividade permitido pela valorização do real e taxas de câmbio subvalorizadas em seus países de origem, as importações já suprem 36,7% do consumo brasileiro de máquinas e equipamentos usados em atividades de construção e extração mineral - entre as quais se inserem retroescavadeiras, carregadeiras, motoniveladoras e tratores de esteira, conhecidos como a linha amarela do setor de bens de capital.

Há seis anos, a fatia abocanhada pelas importações nesse setor era bem menor: preenchiam 21,4% do mercado, conforme estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O movimento trouxe um novo ambiente de competição, no qual os fabricantes tradicionais já instalados no país - caso de Caterpillar, Case New Holland (CNH) e Komatsu - são pressionados a rever as políticas comerciais e adotar ações de marketing mais agressivas na defesa de suas posições de mercado.

Uma das conseqüências desse cenário tem sido o menor espaço para imposição de preços. Compradores de máquinas relatam que o avanço das importações ajudou a segurar o preço do produto nacional. "Os chineses forçaram uma mudança na postura da indústria brasileira de reajustar seus preços todo mês", diz Eurimilson Daniel, vice-presidente da Sobratema, associação ligada ao mercado de construção pesada, e também sócio da Escad Rental, empresa de locação de máquinas.

Mesmo sem o acesso às linhas de financiamento mais atraentes do BNDES - que exigem conteúdo nacional mínimo de 60% na fabricação desses produtos - e a incidência de alíquotas de importação de 14%, as máquinas asiáticas estão conseguindo chegar ao Brasil em condições competitivas.

A questão cambial, avaliam fontes do setor, explica apenas parcialmente essa situação porque a capacidade asiática de concorrer e abastecer mercados internacionais também está relacionada à excepcional escala de produção conquistada por seus fabricantes.

O braço de equipamentos de construção da Hyundai Heavy Industries, por exemplo, tem capacidade de fabricar 22 mil máquinas a cada ano em Ulsan, na costa leste da Coreia do Sul. Tratas-e de um volume suficiente para suprir praticamente 80% do consumo total de máquinas da linha amarela no Brasil neste ano, previsto em 27,35 mil unidades pela Sobratema.

No ano passado, as vendas de máquinas da Hyundai no Brasil mais do que triplicaram, sendo o país um dos destaques nos resultados da companhia. O bom desempenho obtido no país levou o grupo sul-coreano a anunciar recentemente o plano de investir US$ 150 milhões na construção de uma fábrica de maquinário pesado em Itatiaia, no sul do Rio de Janeiro. A unidade, com inauguração prevista para o fim de 2012, deverá produzir cerca de 5 mil máquinas anualmente, entre escavadeiras, retroescavadeiras e carregadeiras.

Os novos investimentos no Brasil estão em linha com a renovação do estoque brasileiro de máquinas e a necessidade de atender critérios de nacionalização para tirar um melhor proveito dessa tendência. Há uma expectativa de que a população de equipamentos com menos de quatro anos de uso dobrará até 2015.

Victor Yuan, presidente no Brasil da Sany - grupo chinês que pretende erguer uma fábrica em Jacareí, interior de São Paulo - projeta que o mercado de linha amarela, somado a equipamentos para elevação e bombas de concreto, deverá crescer pelo menos 33% até 2013.

"O Brasil entrou na rota de internacionalização da Sany pelas perspectivas de grandes projetos de infraestrutura, como estradas, ferrovias, hidrelétricas, além do boom vivido pela construção civil", afirma Yuan.

Após atuar apenas como importador no Brasil, a Sany, desde janeiro, monta kits de escavadeiras e guindastes em São José dos Campos, também no interior de São Paulo. Dentro de um programa de investimentos da ordem de US$ 200 milhões, a empresa prevê para 2013 o início das operações da fábrica de Jacareí.

Além de Sany e Hyundai, já foram divulgados investimentos de US$ 200 milhões da XCMG em Pouso Alegre (Minas Gerais) e de US$ 60 milhões da Doosan em Americana (São Paulo).


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