Dilma: nova política industrial está pronta

A presidente Dilma Rousseff admitiu na sexta-feira, 22, em conversa com jornalistas no Palácio do Planalto, que a defasagem na política industrial é um dos gargalos do País. Batizado como "Programa de Inovação do Brasil", o texto referente à política de desenvolvimento da competitividade está pronto e será apresentado no dia 2 de agosto. Haverá incentivo para incrementar a exportação de produtos manufaturados.

Além da valorização das exportações, os pilares da política industrial serão aumento do conteúdo local, agregação de valor, compras governamentais e política de defesa comercial. A desoneração da folha de pagamentos não está incluída nesse pacote e "sai na sequência", de acordo com Dilma.

Na prática, a política industrial será fatiada. A ideia é contornar resistências e impedir que medidas que precisam passar pelo crivo do Congresso fiquem indefinidamente à espera de aprovação.

No dia 9 a presidente disse que anunciará "uma boa melhorada" no programa popularmente conhecido como Super Simples, que prevê a unificação de oito tributos, seis federais, um estadual e um municipal.

Pouso suave
A presidente afirmou que a economia brasileira está fazendo um "pouso suave" e disse ainda que não aceita a dicotomia entre controle da inflação e crescimento. Dilma foi taxativa: disse que uma política de curto prazo nessa seara seria "o pior dos mundos", pois teria efeito danoso para a economia.

Com uma ponta de preocupação em relação ao cenário internacional, Dilma afirmou que o Banco Central "está correto" ao usar a política de taxa de juros para domar a inflação. Na última quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a taxa Selic para 12,5% ao ano, a quinta alta consecutiva da taxa básica de juros.

Descontraída, a presidente observou que monitora diariamente todos os percalços no front internacional e admitiu a possibilidade de tomar "medidas duras", caso seja necessário. "Chova ou faça sol, estamos olhando os efeitos da crise na Europa e a questão do teto da dívida pública (dos Estados Unidos) sobre nossa economia, porque isso é da nossa responsabilidade", comentou. "Quando percebermos qualquer ameaça tomaremos medidas duras." Os jornalistas quiseram saber quais medidas poderiam ser tomadas, e ela abriu um sorriso: "Vocês acham que vou dizer?"

Dilma destacou que o governo continuará o processo de "consolidação fiscal" - eufemismo para se referir ao ajuste das contas - e disse que, por isso mesmo, a inflação está sob controle. Lembrou, ainda, que em cinco meses de governo, de janeiro a maio, o chamado governo central (Tesouro Nacional, BC e Previdência Social) já cumpriu mais da metade da meta fiscal fixada para o ano todo. A meta de superávit primário é de R$ 81,7 bilhões e já foi atingido o patamar de R$ 45,5 bilhões.

Câmbio
Os problemas de sobrevalorização do real preocupam a presidente Dilma Rousseff, mas ela avalia que não pode tomar nenhuma medida precipitada sem olhar com cuidado o cenário internacional. Quando os jornalistas observaram que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nem está dormindo por causa do câmbio, Dilma deu risada. "É bom, às vezes, a gente não dormir. A gente não dorme e fica alerta", disse ela, em tom bem humorado. Depois, emendou, enigmática: "O Guidinho de olhos abertos..."

Diante da insistência dos jornalistas em relação a possíveis mudanças na política cambial, a presidente respondeu usando o recurso da imagem, método muito adotado por seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. "Você acha que a gente pode fazer alguma coisa no momento em que não sabe se o pessoal está brincando na beira do abismo ou se já conseguiu criar uma rede de proteção?", perguntou, em alusão à crise na Europa e nos Estados Unidos. "Nós nem sabemos se vai ter default nos Estados Unidos."

Ao mencionar um quadro de incertezas fora do Brasil, Dilma fez outra comparação, tomando um gole d'água: "O mundo está andando um pouco de lado. Deixa ele andar um pouco à frente que a gente decide o que vai fazer", disse. Na avaliação da presidente, o socorro de 158 bilhões de euros à Grécia, anunciado por chefes de Estado e de governo da União Europeia, representa mesmo um calote organizado. "Mas tem de ser feito, não tem jeito", comentou.